O artigo da “Folha de S. Paulo” refere que o “clima de Portugal é a inveja da Europa” e que “milhares de turistas do norte do continente desembarcaram em Lisboa neste mês para aproveitar o outono ensolarado”. Acrescenta que “praticamente não existe criminalidade no país”, que Lisboa “ vibra com a explosão de startups e com a Web Summit, a maior feira de tecnologia da Europa, que superlotou um centro de convenções às margens do rio Tejo ao longo da semana”.
Apesar dos elogios, lê-se que, “governar Portugal não é fácil”. E explica-se: “Os alugueres dispararam e se tornaram caros demais para os portugueses, que ganham menos que a média europeia”. E ainda que “um partido xenófobo de ultradireita, o Chega, chantageia o governo e vocifera contra os imigrantes —os quais, com suas contribuições fiscais, viabilizam o Estado de bem-estar social português”.
Muito sorridente na fotografia que acompanha o artigo, Luís Montenegro é apresentado como tendo “51 anos, duas décadas de experiência como deputado pelo Partido Social Democrata, de centro-direita, e formado em Direito e Administração”. e que, "às vésperas de viajar para a reunião do G20 no Brasil, na qual Portugal participa como observador", e encarniçado na luta sangrenta pela aprovação do orçamento —sem a qual o governo pode cair", o primeiro-ministro português respondeu por escrito às perguntas da “Folha de S. Paulo".
Questionado sobre a política de imigração, o primeiro-ministro explica que Portugal “tem mantido uma abordagem flexível para regularizar os imigrantes”, que o Executivo reconhece a contribuição social, económica e cultural" de quem vem de fora do país. “Portugal precisa de imigrantes, sobretudo jovens e famílias”, afirma Luís Montenegro.
Dizendo-se atento às alterações legislativas que decorrem nesta área na União Europeia, o chefe de governo de Portugal assegura que o “objetivo [do seu Executivo] será sempre manter uma política de imigração que continue a ser justa, segura e humanista”. Reitera a ligação à CPLP, classificando a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa como tendo "uma centralidade reforçada enquanto canal prioritário da imigração de que Portugal precisa".
Luís Montenegro assume que “também existem casos de racismo” em Portugal e que é “objetivo do governo continuar a melhorar o quadro legal, dando especial atenção à formação policial, ao apoio às vítimas e à proteção de menores no ciberespaço”. Mas, o primeiro-ministro defende que “o combate contra a discriminação racial não se deve fazer apenas com a lei” e que, por isso, prefere dar ênfase à educação e ao acesso ao mercado de trabalho, de forma a “aplicar as leis penais muito menos vezes”.
Quanto ao relacionamento com o Chega, Montenegro é direto: “Quando disse ‘não é não’ a fazer um acordo, fui muito claro em relação a considerar que havia ideias e posturas, radicalismo e imaturidade nesse partido que não abriam essa possibilidade. Naturalmente que cumprirei o meu compromisso e até posso acrescentar que o tempo tem-me dado razão.”
Na entrevista ainda há espaço para abordar a privatização da TAP e Montenegro aproveita para garantir que serão mantidas as ligações aéreas nacionais para as regiões com as quais Portugal tem fortes laços históricos e onde se verifica uma forte presença da diáspora portuguesa, como é o caso do Brasil. “Não serão reduzidas, nem prejudicadas, rotas estratégicas da TAP e de Portugal. Lisboa continuará como centro operacional da transportadora aérea e sede da empresa”, garante o primeiro-ministro.