"Moçambique em geral, e a cidade da Beira [centro do país] em particular, tem muito a aprender e a partilhar sobre os efeitos das mudanças climáticas, sobre a sua prevenção e gestão. Mudanças climáticas que se manifestam ciclicamente pelos fenómenos extremos de ciclones, cheias, inundações e secas que geram calamidades, destroem o tecido económico, humano e social", afirmou o secretário de Estado da Ciência e do Ensino Superior, Edson Macuácua, na abertura do 34.º encontro da Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP).

O encontro decorre desde segunda-feira, na Beira, capital da província moçambicana de Sofala, dedicado ao tema "Papel das Universidades na gestão das alterações climáticas", daí o apelo do governante, face à realidade atual, desde logo de Moçambique: "Exige uma resposta robusta das nossas universidades na sua prevenção e combate, em prol de um desenvolvimento sustentável".

Eventos extremos, como ciclones e tempestades, provocaram pelo menos 1.016 mortos em Moçambique entre 2019 e 2023, afetando cerca de 4,9 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

"A AULP como um instrumento de promoção do multilateralismo deve contribuir para a partilhar de experiências, sinergias, boas práticas e conhecimentos que concorrem para a resposta aos desafios decorrentes das mudanças climáticas", apelou o governante moçambicano.

Mais de 200 académicos de países lusófonos participam até quarta-feira neste encontro, que decorre na Universidade Zambeze, na Beira, debatendo sobre prevenção e controlo, gestão de sustentabilidade, educação, língua e desenvolvimento.

Só entre dezembro e março últimos, na época ciclónica, o país foi atingido por três ciclones, incluindo o Chido, o mais grave, que, além da destruição de milhares de casas e infraestruturas, provocaram cerca de 175 mortos, no norte e centro do país.

"A AULP deve continuar a afirmar-se internacionalmente como uma plataforma de interação e de diálogo multilateral que promove a cooperação, fortalece a excelência da universidade, não apenas no domínio do ensino, mas também, e sobretudo, da investigação (...) produzindo respostas para os desafios concretos enfrentados pela sociedade, com destaque para a gestão das mudanças climáticas", insistiu Edson Macuácua.

O número de ciclones que atingem Moçambique "vem aumentando na última década", bem como a intensidade dos ventos, alerta-se no relatório do Estado do Clima em Moçambique 2024, do Instituto de Meteorologia de (Inam), noticiado no final de março pela Lusa.

O Inam refere no documento que, apesar de o relatório fazer referência a 2024, realizou uma análise "por décadas de ciclones tropicais que atingiram Moçambique", nas épocas ciclónicas (novembro a abril) de 1981/1982 à atual, de 2024/2025.

"Importa realçar que a metade da quinta década (2021-2030), da série climática em análise, supera a segunda e quarta décadas, por quatro ciclones. Isto é, em apenas cinco anos a costa moçambicana já foi fustigada por dez ciclones tropicais", aponta-se no relatório anual.

Acrescenta-se que, alargando a análise ao período de 1954 a 2024, é observada "uma tendência positiva na formação de ciclones tropicais", bem com uma "tendência de aumento de ciclones que atingem Moçambique".

No estudo reconhece-se que houve uma "abrandamento na intensidade" dos ventos em 2023, tendência novamente invertida em 2024, nomeadamente com o ciclone tropical Chido, que atingiu o norte do país em dezembro passado, com ventos até 240 quilómetros por hora, sendo mesmo o "terceiro mais intenso a fustigar a costa moçambicana na atual década", após o Freddy (duas entradas em terra, em 2023).

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