
Foram milhares os que saíram à rua vestidos de vermelho, enchendo algumas das principais avenidas de Bruxelas em direção às instituições europeias. "O vermelho quer dizer uma linha vermelha, quer dizer basta", diz à SIC e ao Expresso Zyad. Nasceu na Palestina, mas vive há muitos anos na Bélgica. "Quais são os objetivos de guerra hoje em Gaza, para além da morte de civis, de crianças, de mulheres?", questiona.
Marie-Do, belga francófona, concorda. "Não podemos ficar de braços cruzados. Chamem-lhe genocídio ou massacre, não podemos ficar sem fazer nada enquanto há pessoas a morrer de fome".
A manifestação foi pacífica e, nas contas da polícia, citada pela imprensa belga, juntou 75 mil pessoas. Já a organização fala em 110 mil pessoas. Na descida da larga Rue Beliard, que passa ao lado do Parlamento Europeu, gritam "solidariedade com a Palestina", pedem o fim dos bombardeamentos em Gaza e a entrada de ajuda humanitária no enclave. A distribuição de comida e outros bens é atualmente controlada por Israel e pelos Estados Unidos e têm sido várias as notícias - incluindo este domingo - de pessoas mortas junto aos pontos de distribuição de ajuda. Este domingo morreram mais cinco pessoas, incluindo crianças.
"Queremos que isto pare", diz Omar, pedindo aos líderes europeus que pressionem o "cessar-fogo". A manifestação em Bruxelas terminou na Praça Jean Rey, nas traseiras do Conselho Europeu. A instituição onde se reúnem líderes e ministros europeus está fechada durante o fim-de-semana, mas os milhares que saíram à rua na capital belga esperam que o recado seja ouvido.
"É importante impor sanções a Israel", defende Elvira. Quer também que os governos europeus parem de enviar equipamento militar para Telavive. Acredita que a Europa tem poder para pressionar o governo de Benjamin Netanyahu. "Sim, claro. É um parceiro económico privilegiado (de Israel)", argumenta.
Já Sarah pede o respeito pelo direito internacional. É francesa, muçulmana, e garante que a manifestação "não é contra judeus". "São nossos irmãos, nossos primos. Temos praticamente as mesmas práticas em termos de culto. O nosso combate é contra o colonialismo e contra os criminosos. Somos a favor do direito internacional, respeitamos o direito internacional, diz à SIC/Expresso pedindo mão mais pesada contra as ações do primeiro-ministro israelita. Há atualmente um mandado de captura do Tribunal Penal Internacional (TPI) para o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, por alegados crimes de guerra e contra a humanidade.
A Comissão Europeia está desde 20 de maio a avaliar se Israel respeita os direitos humanos, como exige o acordo comercial, para em seguida propor medidas. Há uma semana, numa entrevista a correspondentes em Bruxelas, incluindo o Expresso, o presidente do Conselho Europeu, António Costa, dizia que não era "difícil antecipar qual a conclusão sobre a atuação do exército israelita". Mas a conclusão ainda não chegou.
Também em Haia, nos Países Baixos, milhares saíram à rua. A agência Reuters fala em 150 mil pessoas, citando os organizadores. Houve também protestos pró-Gaza em Atenas e, no sábado foi a fez de Paris, Madrid e Berlim.
Este domingo, a presidente do executivo comunitário falou ao telefone com Benjamin Netanyahu. "Falámos também de Gaza. A situação humanitária em Gaza é inaceitável. Reiterei o nosso apelo urgente para que toda a ajuda humanitária chegue imediatamente aos civis necessitados", escreveu a alemã nas Redes Sociais, lembrando ainda a necessidade de o Hamas libertar os reféns que ainda estão no enclave "para que se possa finalmente chegar a um fim definitivo das hostilidades".
A UE já anunciou 170 milhões de euros de ajuda humanitária para Gaza, mas não é claro o que é que entrou ou não no enclave.
No entanto, o principal tema da conversa entre Von der Leyen e o chefe do Governo israelita foi a atual guerra com o Irão. "Reiterei o nosso empenho na paz, na estabilidade e nos esforços diplomáticos que travem a escalada", escreve a presidente da Comissão, sublinhando que “Israel tem o direito de se defender”.
Na sexta-feira, Israel começou uma série de ataques contra instalações nucleares de enriquecimento de urânio no Irão, e contra vários altos responsáveis militares do regime dos Ayatollahs. Von der Leyen vem agora deixar claro que considera que "o Irão é a principal fonte de instabilidade regional" e "nunca poderá adquirir uma arma nuclear". Ao mesmo tempo apela "a uma solução negociada".