Por vezes, cruzamo-nos com textos de opinião que nos fazem parar e perguntar: isto é mesmo para levar a sério? Um desses momentos chegou pela escrita de Henrique Raposo, sob a forma de uma crónica que tenta discutir Imigração com base em frases feitas, meia dúzia de chavões e uma certa arrogância disfarçada de pragmatismo económico.

Aparentemente, quem levanta questões e desafia sobre o modelo de Imigração em Portugal é logo acusado de viver numa bolha elitista, de nunca ter trabalhado ou de querer transformar o país inteiro numa espécie de Silicon Valley do Saldanha à Boavista. E o clímax do texto, o seu “melhor momento”, segundo o próprio, é dar força a uma infantil citação que Joana Mortágua usou em debate com Nuno Melo, “se são os jovens da JP que vão carregar baldes de massa”. Uma expressão com a profundidade de um tweet e o valor argumentativo de um meme. Fraco. Ideologicamente rebuscado. O que ali se lê, no fundo, não é mais do que uma extrapolação forçada do que defendemos. Transforma uma preocupação legítima, a de garantir que a Imigração acontece com regras e dignidade, numa caricatura populista, como se estivéssemos todos a conspirar para barrar pessoas à porta do aeroporto com base nos trejeitos ou destino de partida.

Sinto uma tristeza genuína ao constatar que um espaço de opinião, que deveria servir para discutir matérias sérias e as suas consequências reais na vida de todos, seja usado antes para alimentar histórias enviesadas e propagar a ideia falsa de que quem apela ao critério é contra a Imigração, quer fechar fronteiras, não reflete ou se julga intelectualmente superior para conviver com quem, alegadamente, não está ao mesmo nível. Isso é desinformar. Isso é enganar.

Na Juventude Popular, não embarcamos nem no discurso do medo, nem na utopia sem fronteiras. A imigração é necessária, claro que é, mas tem de ser feita com cabeça, tronco e membros. A nossa proposta é simples: fazer um levantamento, sector a sector, sobre as reais necessidades de mão de obra em Portugal. Saber quantos são precisos, onde são precisos e quando são precisos. Porque só assim conseguimos evitar abusos, garantir dignidade aos que cá chegam e proteger a coesão social das comunidades. Porque não existe melhor forma de responder às necessidades de um país e conseguir oferecer dignidade de vida aos que chegam.

Mas é importante dar a nota aos mais desatentos: muitos portugueses trabalham nas obras, na agricultura, na pesca. A narrativa de que o país inteiro só quer programar apps ou gerir startups é não só redutora como ignorante. Pior, é uma forma enviesada de justificar políticas desorganizadas.

A Juventude Popular é feita de jovens que passam e sentem as mesmas dificuldades do país real. Médicos, enfermeiros, construtores, lojistas, engenheiros, agricultores, professores, secretários, estudantes e tantos outros. Representamos todos e não precisamos de recorrer a frases de efeito nem a falsas dicotomias para marcar posição. Se ser da “direita clássica” é perceber que dignidade, responsabilidade e integração não são incompatíveis, então, sim, somos da direita clássica.

Se ser da “direita clássica” é não fingir que está tudo bem com a política migratória dos últimos 9 anos, que venha mais direita clássica.