Em Portugal, aproximadamente 6.500 médicos especialistas em Medicina Geral e Familiar (MGF) exercem a sua atividade, dos quais cerca de 5.300 trabalham no Serviço Nacional de Saúde (SNS), maioritariamente integrados nas 590 Unidades de Saúde Familiar (USF) que pontuam o território nacional.

Estes números, por si só impressionantes, ganham outra dimensão quando percebemos que cerca de 82% da população portuguesa tem um médico de família atribuído. Significa isto que, apesar dos desafios e do défice que se tem procurado corrigir sem sucesso, ainda assim são mais de 8 milhões os portugueses que beneficiam deste acompanhamento personalizado, contínuo e próximo.

A Organização Mundial de Médicos de Família (WONCA) reconhece este profissional como o clínico que presta cuidados primários a indivíduos e famílias, independentemente da idade, sexo ou doença. É quem oferece o primeiro contacto com o sistema de saúde, acessível e ilimitado, abordando todos os problemas de saúde numa perspetiva global e longitudinal. Este papel é insubstituível. O Médico de Família é quem conhece a história clínica completa, as vulnerabilidades particulares, o contexto familiar e social dos seus utentes. É quem estabelece uma relação de confiança que se prolonga por anos, por vezes décadas, acompanhando gerações inteiras da mesma família.

Os estudos são claros: sistemas de saúde com fortes cuidados primários apresentam melhores indicadores de saúde, menor mortalidade e menores custos. Um estudo da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) demonstrou que cada euro investido em cuidados de saúde primários se traduz em poupanças significativas no sistema de saúde global.

Na prevenção de doenças, o Médico de Família atua de forma exemplar: através dos rastreios oncológicos organizados, da vigilância de grupos de risco, da promoção de estilos de vida saudáveis e da vacinação, previne complicações futuras e melhora os indicadores de saúde das suas comunidades. Portugal tem dos melhores índices de vacinação da Europa, fruto deste trabalho incansável.

Por tudo isto, é essencial que os médicos de família saibam que fazem a diferença todos os dias. Cada consulta, cada decisão, cada palavra de conforto ou esclarecimento tem um impacto profundo na vida dos utentes. A força da MGF reside nesta proximidade, neste conhecimento integrado do indivíduo no seu contexto. É crucial que o investimento em Saúde reconheça esta realidade. Por cada médico especialista hospitalar, devemos ter pelo menos dois médicos de família. Por cada euro investido em cuidados hospitalares, devemos investir dois nos cuidados primários. Esta é a fórmula para um sistema de saúde sustentável, eficiente e centrado nas necessidades das pessoas.

Aos colegas médicos de família de Portugal, deixo uma mensagem de esperança e reconhecimento. O vosso trabalho silencioso, mas determinante, é o verdadeiro alicerce do SNS. A vossa capacidade de personalizar cuidados, de conhecer profundamente os vossos utentes e de acompanhá-los ao longo da vida constitui uma mais-valia insubstituível.

Que este dia seja não apenas de celebração, mas também de renovação do compromisso com esta nobre especialidade. Os desafios são muitos, as dificuldades por vezes parecem insuperáveis, mas o impacto positivo que têm na vida das pessoas é incomensurável. O Médico de Família é, e continuará a ser, o coração pulsante de um sistema de Saúde centrado nas pessoas, próximo das comunidades e comprometido com o bem-estar de todos.