A paisagem do Chão dos Terreiros, no Perímetro Florestal das Serras do Poiso, voltou a ser palco, este domingo, de uma tradição profundamente enraizada na cultura madeirense, a tosquia das ovelhas. Foram tosquiados cerca de 600 ovinos, integrados nos rebanhos da Associação de Criadores de Gado das Serras do Poiso (ACGSP), numa iniciativa organizada pelo Instituto das Florestas e Conservação da Natureza, IP-RAM (IFCN), em estreita colaboração com a ACGSP.

Este evento marca o segundo momento do ciclo anual de tosquias ao ar livre, que teve início no dia 10 de Junho, na Ribeira dos Boieiros, onde foram intervencionadas outras 300 ovelhas, perfazendo um total de cerca de 900 animais e 90 criadores envolvidos.

O evento fica marcado também pela presença numerosa de visitantes, entre madeirenses e turistas, evidenciando o interesse crescente por esta prática tradicional que, para além da sua vertente cultural, cumpre também uma função essencial na gestão e bem-estar dos rebanhos.

O secretário regional de Turismo, Ambiente e Cultura esteve presente no evento e destacou "a importância de manter viva esta tradição, mas com regras claras que garantam a sustentabilidade dos ecossistemas serranos". Para Eduardo Jesus, a existência de quase mil cabeças de gado nas serras da Madeira, sob supervisão técnica e com práticas adequadas, "é a prova de que o equilíbrio entre actividade humana e conservação da natureza é possível e desejável".

Refira-se que a gestão do pastoreio nestas áreas é assegurada pelo IFCN, que define as estratégias de condução dos rebanhos de forma a prevenir impactos negativos sobre o território. Esta organização tem origem no modelo de ordenamento silvopastoril implementado na década de 1960, que permitiu compatibilizar o uso pecuário com a proteção dos recursos naturais. "Esta é uma herança que o Governo Regional quer preservar e valorizar", sublinhou o governante, acrescentando que "não se trata apenas de manter animais na serra, mas de o fazer com conhecimento, responsabilidade e em articulação com os pastores, que são verdadeiros guardiões da serra".

Nesse sentido, conforme foi salientado, o Governo Regional mantém activo um contrato-programa anual no valor de 60 mil euros com a Associação de Criadores de Gado das Serras do Poiso, o qual assegura a presença de pastores qualificados, elementos fundamentais para a gestão racional dos rebanhos e para a manutenção das pastagens. Além disso, o IFCN fornece feno em períodos de escassez alimentar, disponibiliza suplementos nutricionais e produtos higiossanitários e garante a manutenção das infraestruturas pecuárias, como os ovis da Ribeira dos Boieiros, Chão das Aboboreiras e Chão das Feiteiras. Está ainda em curso a recuperação do ovil deste último, através de financiamento do PRODERAM.

O Presidente do IFCN, Manuel Filipe, realçou na ocasião o sucesso do modelo de pastoreio implementado nas serras do Poiso, que "assenta na articulação entre os criadores e os técnicos do Instituto, garantindo que os animais pastem em zonas apropriadas, devidamente vedadas e livres de risco de erosão". E acrescentou: "A recuperação de áreas de pastagem, o controlo de espécies invasoras e o apoio logístico à limpeza dos ovis são acções concretas que demonstram o compromisso do IFCN com a sustentabilidade desta prática."

Refira-se que, o Governo Regional entende que "a tosquia ao ar livre não é apenas um momento de trabalho, é uma verdadeira celebração da ruralidade madeirense, uma ocasião de partilha entre gerações e uma janela para a compreensão do modo de vida nas serras. A cada ano, cresce a adesão de curiosos e visitantes que, no contacto direto com os pastores e os seus animais, descobrem uma dimensão menos conhecida, mas profundamente autêntica da Madeira".

Estas iniciativas aproximam-nos da nossa identidade, promovem a cultura da serra e sensibilizam para a importância de manter práticas agrícolas e pecuárias em harmonia com a natureza. O Governo Regional continuará a apoiar este setor, desde que com base em critérios técnicos e ambientais bem definidos. Preservar o território e manter viva a tradição são dois objetivos inseparáveis. Eduardo Jesus