O Presidente francês, Emmanuel Macron, mostrou-se esta terça-feira favorável à continuação do diálogo apenas com os representantes políticos capazes de agir "pelos interesses" da França, no âmbito das consultas para tentar formar governo.
"O trabalho continua, a porta está aberta e dou as boas-vindas a todos aqueles que querem continuar a trabalhar pelo superior interesse do país", disse Emmanuel Macron aos jornalistas presentes no Eliseu, antes do seu encontro com o primeiro-ministro irlandês, Simon Harris.
Durante a manhã, o Presidente francês reuniu-se com um grupo de deputados do partido independente Liot (acrónimo para Liberdades, Independentes, Ultramarinos e Territórios) e com François Bayrou, presidente do Movimento Democrático, que faz parte do campo presidencial, segundo o canal de televisão francês BFMTV.
Para a nova ronda de consultas, Macron não convidou os representantes da esquerda radical França Insubmissa (LFI) - maior força política no seio da coligação de esquerda Nova Frente Popular (NFP), vencedora das últimas eleições - nem da extrema-direita União Nacional (RN, sigla em francês) e os seus aliados, como Eric Ciotti.
Assim, o chefe de Estado francês mostra abertura a um possível pacto entre os seus deputados e a direita tradicional para rivalizar com a coligação de esquerda NFP, que venceu as eleições legislativas de 7 de julho, elegendo 193 deputados (num total de 577).
Na segunda-feira, o Presidente francês afastou a hipótese de nomear alguém da esquerda para chefe do Governo, recusando assim a candidata da NFP Lucie Castets, considerando que "seria imediatamente censurado pelos restantes grupos" na Assembleia Nacional e que, em nome da "estabilidade" do país, não seguiria esse caminho.
Esta decisão indignou a esquerda, que considera a posição antidemocrática e, por essa razão, os líderes da coligação, que foram recebidos na sexta-feira por Macron, recusaram-se a participar na nova ronda de consultas.
O secretário do Partido Socialista, Olivier Fauré, alegou que não quer ser "cúmplice de uma paródia da democracia", durante uma entrevista ao canal de televisão France 2.
Da mesma forma, também a secretária dos ecologistas, Marine Tondelier, garantiu que não vão contribuir para o "circo" que se montou no Eliseu e convocou "mobilizações" de protesto.
"Gostaria que imaginássemos que se um Presidente de extrema-direita fizesse exatamente a mesma coisa [que Emmanuel Macron] durante seis semanas, todos os observadores gritariam sobre o escândalo", disse Marine Tondelier em declarações à rádio pública FranceInfo.
Já a LFI convocou hoje para o dia 7 de setembro uma "grande mobilização face ao golpe de Macron" e à "excecional gravidade da situação", segundo um comunicado, que tem o apoio dos partidos da coligação de esquerda à exceção do Partido Socialista.
Na quarta-feira, Macron deverá receber os representantes do partido de direita conservadora, Republicanos, e deve consultar algumas "personalidades", nomeadamente antigos presidentes, cujos nomes não foram comunicados.
Macron não fixou um prazo final para estas novas reuniões, embora o Eliseu tenha dado como ultimato o início dos Jogos Paralímpicos de Paris, que começam na quarta-feira, dia 28 de agosto.
Embora o Presidente francês tenha o poder de nomear um primeiro-ministro, o candidato terá de ser aprovado pela Assembleia Nacional para poder começar a trabalhar.