A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, pediu hoje uma solução rápida para as incertezas comerciais, dizendo que tal seria bem recebido "por qualquer agente económico".

"Quanto mais cedo esta incerteza comercial for resolvida [...], com menos incerteza teremos de lidar, e isso seria bem recebido por qualquer agente económico, incluindo nós próprios", disse Lagarde em conferência de imprensa em que anunciou a manutenção das taxas de juro diretoras, em Frankfurt.

O Banco Central Europeu (BCE) interrompeu hoje uma série de sete descidas consecutivas das taxas de juro diretoras, mantendo a taxa de depósitos em 2,00%, o nível mais baixo desde o início de 2023.

As declarações da presidente do BCE surgem no dia em que a Comissão Europeia adota uma lista de 93 mil milhões de euros com contramedidas a aplicar pela União Europeia (UE) aos Estados Unidos da América a partir de agosto, caso não haja um acordo sobre as tarifas.

As tensões comerciais entre Bruxelas e Washington intensificaram-se com os anúncios do Presidente Donald Trump de imposição de taxas à UE, que começaram por ser de 25% para o aço, o alumínio e os automóveis europeus e depois se tornaram também em tarifas recíprocas ao bloco comunitário, fixadas em 30% após um período de negociações.

A incerteza tem fortalecido o euro face ao dólar, que tem negociado nos 1,17 dólares e perto de máximos de quatro anos, o que tem levantado dúvidas sobre como poderia influenciar a política monetária do BCE.

Hoje, a presidente do BCE disse que o banco central europeu não tem nenhum objetivo na taxa de câmbio face ao dólar, mas que acompanha as variações porque é um indicador que importa para as previsões relacionadas com a inflação.

A presidente do BCE reforçou a ideia de que o choque inflacionista já terá passado.

"Como disse da última vez, estamos confiantes de que já ultrapassámos o choque inflacionista dos últimos anos, e agora o nosso trabalho é olhar para o que aí vem", acrescentou, dizendo que "há muitos elementos que se vão desenvolver nos próximos meses" e que terão impacto na evolução da economia.

Questionada sobre os efeitos de o BCE poder falhar os objetivos, Lagarde reforçou que o BCE "não será movido por pequenos desvios" e que objetivos são a médio prazo.

A presidente do BCE admitiu que alguns governadores podem estar muito preocupados com falhas nas previsões, mas que é algo que está previsto nas projeções do organismo.

"Está lá, mas o que é importante é o nosso objetivo a médio prazo, porque é o objetivo que reafirmámos na nossa estratégia, e é definitivamente 2%.

Hoje reunido em Frankfurt, na Alemanha, o Conselho do BCE decidiu manter a taxa de juro aplicável à facilidade permanente de depósito nos 2,00%, enquanto as taxas de juro das operações principais de refinanciamento e da facilidade permanente de cedência de liquidez continuam em 2,15% e 2,40%, respetivamente.

O Conselho do BCE considerou que a inflação está atualmente dentro deste objetivo e que as informações que tem recebido estão em linha com a anterior avaliação das perspetivas deste indicador.

No entender dos governadores, as pressões sobre os preços internos "continuaram a diminuir, com os salários a crescerem mais lentamente".