A população de Castro Daire, uma das regiões mais fustigadas pelo fogo em 2017, voltou a chorar as perdas, num tom de lamento e de revolta, após os incêndios deste ano. As chamas neste município de Viseu foram os últimos a serem apagados em Portugal, mas os danos são irreversíveis para muitos.
É o caso de Jorge, um produtor que não pôde salvar os seus 120 animais, na pequena aldeia de Codeçais. “Perdi o meu trabalho e os meus animais queridos, que eram meus amigos”, lamenta.
O homem, uma das muitas vítimas dos incêndios que atingiram o país nos últimos cinco dias, conta que teve de escolher entre tentar salvar os animais ou correr para socorrer os filhos.
“Eu estava a cerca de 7 quilómetros da nossa habitação, onde estavam os meus filhos e os meus sogros, que já têm mais de 70 anos. O meu filho mais velho, que tem 12 anos, telefonou-me a chorar, a dizer que a casa ia arder e que estavam em perigo. (…) Tive de escolher. Doeu, mas os meus filhos estão em primeiro lugar”.
“Não fomos contactados”
Acompanhado da mulher, Jorge diz que só não desiste do trabalho por causa dela, que não o permite, e por causa dos amigos, a maior fonte de apoio num momento em que as autoridades locais “não deram a cara”.
“Não fomos contactados por entidades locais, pela junta de freguesia ou pela Câmara Municipal de Castro Daire. Ninguém veio aqui ao terreno ver se estava bem”, relata Jorge. A mulher diz compreender que “eles não podem estar em todo o lado”, mas “um telefonema não custa nada” e, até agora, ninguém “deu a cara”.