Joana Marques foi ouvida esta sexta-feira em tribunal, no Palácio da Justiça, em Lisboa, no âmbito do processo interposto pelos Anjos. Em resposta às questões da juíza, a humorista defende que “criticar um humorista por ridicularizar é como criticar um cantor por cantar”.

“O que eu faço é procurar o que há de engraçado”, explica, assumindo que faz “um tipo de humor que não agrada a toda a gente”.

Sobre os cortes no vídeo original - em que os Anjos interpretam o hino nacional - a juíza pergunta se foram intencionais para fazer parecer que os irmãos Rosado não sabiam a letra, ou se o objetivo era apenas tornar o vídeo mais curto.

“Foi essa a minha intenção [tornar mais curto] e à procura dos momentos mais engraçados” , responde a humorista. E foi precisamente o que fez no caso do vídeo dos Anjos: "Não é uma coisa que se espere do hino nacional, mas o humor parte daí, do inesperado.”

“Nunca pensei que esta obra de um minuto do Instagram fosse tão escrutinada (...) Era um vídeo que já estava viral quando chegou a mim, era um dos assuntos do dia. As pessoas mandam-me muito estas coisas. Sempre que acontece alguma cosia, a minha caixa de mensagens enche-se de coisas", nota.

Questionada se foi contactada por Sérgio e Nelson Rosado no sentido de apagar o vídeo, Joana Marques admite que sim, numa carta que também exigia um pedido de desculpas. "Não me revi nessa exigência e respondi à carta com o direito à liberdade de expressão.” E continua a defender que não tem de apagar o vídeo.

Joana Marques também não considera que o vídeo em causa se tenha tornado viral: "150 mil visualizações até é um numero um pouco abaixo do que costumo ter no Instagram", aponta.

A humorista não considera "um comentário grave" dizer que os Anjos "assassinaram" o hino nacional, ao contrário de ameaças à integridade física: “'Deviam bater-te na rua, fazer isto ou aquilo', isso para mim é um comentário grave.”

Recebe muitas mensagens com insultos, pergunta a juíza “Sim, muitas vezes, talvez até mais do que os Anjos. Não envio mensagens de ódio a ninguém, estou mais posição de quem recebe", inclusive ameaças de morte.

A juíza argumenta que "no humor nada é sagrado, tudo é criticável", e questiona Joana Marques se compreende porque é que os irmãos Rosado não gostaram da piada. “Já percebo que não há uma boa relação dos autores com o humor", responde a humorista.

"Humor que não ofende não existe. Prefiro viver num mundo em que exista humor eu me ofenda muito, o mundo é mais saudável", defende Joana Marques.

O caso remonta a abril de 2022, após os Anjos terem interpretado o hino nacional no Grande Prémio de Portugal de MotoGP, no Autódromo Internacional do Algarve, o que levou a humorista a fazer uma piada em torno da atuação.

Desde então, a dupla musical exige a Joana Marques o pagamento de um milhão e 118 mil euros de indemnização, queixando-se ter sofrido perdas financeiras significativas, que dizem ter sido consequência do vídeo.