O presidente da Junta de Freguesia do Jardim da Serra, Valentim Marcelino, aproveitou o palco da Festa da Cereja para lançar duras críticas à Câmara Municipal de Câmara de Lobos, lamentando o abandono da requalificação do centro da freguesia. O autarca apontou que, ao contrário das restantes quatro freguesias do concelho, o Jardim da Serra continua sem ver avançar as obras prometidas.

“Por que caiu a freguesia do Jardim da Serra no esquecimento? Ainda hoje, este centro é apenas uma rua — uma rua degradada, sem pavimentação. No ano passado, trouxeram aqui um cartaz, exposto no largo das Corticeiras, para que o povo visse a prometida requalificação. Mas não passou do papel… e o cartaz, entretanto, foi retirado. E, há alguns anos, alguém prometeu aqui, neste palco, que no ano seguinte haveria uma zona ampla aqui à frente, para que esta Festa da Cereja tivesse mais espaço. Pergunto-lhe, senhora Presidente da Câmara: para quando e porquê esse adiamento?”, atirou o autarca, exigindo respostas à actual presidente, Sónia Pereira, sobre o “esquecimento” da freguesia, que no próximo ano assinala 30 anos de existência.

Valentim Marcelino questionou ainda a localização prevista para a construção de 36 apartamentos de habitação pública. “Nós não queremos a habitação ali. Levem-na mais para cima, uns 200 ou 300 metros, e deixem aquele espaço para expandirmos o centro da freguesia”, pediu, sublinhando que o povo do Jardim da Serra quer ser ouvido nas decisões sobre o seu território. “Se nos chamarem, não tragam já tudo decidido. Queremos ter uma palavra a dizer”, afirmou.

Ao Governo Regional, representado na cerimónia pelo secretário regional da Agricultura e Pescas, o autarca agradeceu a conclusão da Via Expresso — “não foi uma cereja no topo do bolo, foram várias” —, mas deixou um apelo claro: que se inicie, finalmente, o há muito prometido projecto de ligação por túnel entre o Jardim da Serra e o Curral das Freiras, uma “velha aspiração” da população. Reivindicou também a melhoria da rede de caminhos agrícolas, alertando para as dificuldades sentidas pelos produtores, muitos já envelhecidos, em transportar cargas às costas.

No mais demorado dos quatro discursos, o presidente da Junta reclamou ainda a criação de um mercado local para facilitar o escoamento dos produtos agrícolas, e a cobertura do polidesportivo da escola, permitindo que as associações locais possam treinar dentro da freguesia. “É um pedido antigo, que tem de sair do papel”, frisou.

Apesar do tom reivindicativo, Valentim Marcelino deixou palavras de reconhecimento ao empenho de todos os que contribuem para o desenvolvimento do Jardim da Serra — desde os técnicos da Secretaria da Agricultura e Pescas ao presidente da Casa do Povo — e elogiou o trabalho das instituições culturais, dos comerciantes locais e das associações desportivas. Saudou também a presença dos emigrantes, que considerou “genuína e imprescindível” para o sucesso da festa.

“Temos um povo reivindicativo porque aprendemos com os mais velhos que só assim conseguimos conquistar melhorias. Viva o Jardim da Serra!”, concluiu.