
O Irão acusou esta quinta-feira a Agência Internacional de Energia Atómica das Nações Unidas de agir como "parceira" da "guerra de agressão" de Israel. Em causa está um relatório da agência, publicado antes do início da guerra Irão-Israel, no qual denunciou que o regime de Teerão não estava a cumprir com as suas obrigações em relação ao programa nuclear.
Dirigindo a mensagem ao diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Esmaeil Baqaei, escreveu na rede social X: "Vocês traíram o regime de não-proliferação; vocês fizeram da AIEA uma parceira nesta guerra injusta de agressão".
Na quarta-feira, em entrevista a vários órgãos de informação, Rafael Grossi assinalou que o relatório da AIEA foi deturpado e que não há "nenhuma evidência de um esforço sistemático do Irão para conseguir a bomba atómica", ainda que este seja "o único país do mundo que está a enriquecer urânio a níveis quase militares".
Em resposta, o porta-voz da diplomacia iraniana escreveu: "Senhor Grossi, esse reconhecimento [de que o Irão não está empenhado em construir uma arma nuclear] chega tarde. Escondeu esse facto no seu relatório totalmente parcial, um relatório que foi mal utilizado pelos países europeus e pelos Estados Unidos para redigirem uma resolução com exigências infundadas por 'incumprimento'".
O que acabou por acontecer -- salienta -- foi que essa resolução acabou por ser "utilizada como a desculpa final por um regime belicista e genocida para lançar uma guerra de agressão contra o Irão e um ataque ilegal contra as nossas instalações nucleares pacíficas".
O porta-voz perguntou ainda a Grossi se "sabe quantos iranianos inocentes morreram ou ficaram feridos em consequência desta guerra criminosa".
No dia 12, a AIEA aprovou uma resolução apresentada por Alemanha, França, Reino Unido e Estados Unidos e apoiada por outros 19 países na qual se considera que a falta de cooperação do Irão "constitui um incumprimento das obrigações" para com a comunidade internacional.
No dia seguinte, Israel iniciou os bombardeamentos contra instalações militares e nucleares iranianas, matando lideranças militares, cientistas e civis.
"Pela segunda vez em três anos, estamos a assistir a um conflito dramático entre dois Estados-membros da AIEA, no qual as instalações nucleares estão a ser atacadas e a segurança está a ser comprometida", lamentou Grossi, referindo-se aos ataques israelitas contra a instalação nuclear iraniana de Natanz.
No local, mais de 10.000 centrifugadoras são utilizadas para enriquecer urânio a 60%, muito além do limite de 3,67% estabelecido pelo acordo internacional de 2015, que conduziu ao alívio das sanções contra Teerão, em troca de garantias sobre a natureza pacífica do programa nuclear.
Enriquecido entre 3% e 5%, este urânio é utilizado para abastecer centrais nucleares para a produção de eletricidade. Quando enriquecido até 20%, pode ser utilizado para produzir isótopos médicos, utilizados principalmente no diagnóstico de certos tipos de cancro.
Para fazer uma bomba, o enriquecimento deve ser levado a 90%.
O Irão nega qualquer ambição militar e defende o direito de enriquecer urânio para desenvolver um programa nuclear civil.