
A IL pediu esta segunda-feira esclarecimentos à embaixadora de Moçambique em Portugal sobre a recusa de entrada em solo moçambicano de três humoristas lusófonos, incluindo um português, advertindo que se pode estar perante uma "grave violação" da liberdade de expressão.
Numa carta dirigida a Stella Novo Zeca, a IL manifesta "perplexidade e preocupação" com o facto de, este sábado, ter sido recusada a entrada em território moçambicano aos humoristas lusófonos Hugo Sousa (Portugal), Gilmário Vemba (Angola) e Murilo Couto (Brasil).
O partido salienta que as três "figuras públicas reconhecidas no espaço lusófono, deslocaram-se a Moçambique com o intuito de participar num espetáculo cultural amplamente promovido, com lotação esgotada, e para o qual foi obtida a necessária documentação, incluindo vistos de entrada".
"A sua detenção e impedimento de entrada, comunicados de forma pouco transparente, representam não apenas uma perturbação para os próprios visados, como também um sinal preocupante para todos os que de, boa-fé, pretendem colaborar com Moçambique e o seu povo em iniciativas culturais, académicas ou profissionais", lê-se.
"Grave violação dos princípios fundamentais": expressão, circulação e respeito
A IL refere ainda que o espetáculo que estes três humoristas iam protagonizar, intitulado "Tons de Comédia", já tinha passado por cidades como Luanda, São Tomé, Ponta Delgada e Praia, estando previstas várias datas em cidades brasileiras, o que consideram demonstrar "a ligação e interesse cultural lusófono desta iniciativa".
"Torna-se ainda mais inquietante o facto de surgirem receios desta decisão estar relacionada com alegadas simpatias políticas demonstradas por um dos artistas. A confirmarem-se tais motivações, estaríamos perante uma grave violação dos princípios fundamentais da liberdade de expressão, de circulação e do respeito pelos laços culturais que unem os países da CPLP", alertam.
Iniciativa Liberal pede justificação para a retenção dos humoristas
A IL pede assim à embaixadora de Moçambique em Portugal que informe "oficialmente os motivos que levaram à recusa de entrada dos cidadãos em causa" e que esclareça se "houve interferência de natureza política ou governamental na decisão tomada pelas autoridades migratórias moçambicanas".
O partido pede também que sejam "prestadas garantias que casos como este não se repetirão, assegurando que Moçambique se mantém um país aberto ao intercâmbio cultural e artístico no espaço da lusofonia".
Anunciaram o cancelamento do espetáculo a partir do aeroporto de Maputo
A IL diz estar convicta de que a cooperação entre o povo português e moçambicano "se deve alicerçar na confiança mútua, na transparência institucional e no respeito pelos valores comuns que ligam Portugal e Moçambique".
Este domingo, o humorista angolano Gilmário Vemba anunciou, a partir do aeroporto de Maputo, o cancelamento de um espetáculo na capital moçambicana, juntamente com o português Hugo Sousa e o brasileiro Murilo Couto, por terem sido impedidos de entrar no país.
A Lusa contactou o Serviço Nacional de Migração (Senami) de Moçambique, mas não obteve qualquer explicação para a alegada retenção dos humoristas.
Vemba "impedido de entrar em Moçambique, por expor as suas opiniões"
Dinis Tivane, assessor do político e ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane afirmou, na sua conta na rede social Facebook, que Gilmário Vemba foi "impedido de entrar em Moçambique, por expor as suas opiniões".
A 8 de julho, Venâncio Mondlane e Gilmário Vemba partilharam publicamente um encontro, em Lisboa, exaltando "Anamalala", que em língua macua, falada no norte de Moçambique, significa "vai acabar" ou "acabou", expressão usada pelo político durante a campanha para as eleições gerais de 9 de outubro de 2024 e que se popularizou nos protestos por si convocados nos meses seguintes, ao não reconhecer os resultados da votação, acrónimo do partido que está a tentar legalizar: Aliança Nacional para um Moçambique Livre e Autónomo (Anamalala).