O ministro da Justiça de Espanha afastou esta sexta-feira a possibilidade de uma moção de confiança ao Governo de Pedro Sánchez por causa das suspeitas de corrupção na cúpula do Partido Socialista (PSOE) conhecidas na quinta-feira.

O também dirigente do PSOE realçou, por outro lado, que a investigação judicial conhecida na quinta-feira não contém indícios de um possível financiamento ilegal do partido.

Félix Bolaños admitiu que quinta-feira foi um dia triste para o PSOE e afirmou que compreende e partilha "a indignação, a repulsa, o desgosto e a deceção" de muitas das pessoas perante as suspeitas de corrupção que envolvem o, até quinta-feira, 'número três do partido' Santos Cerdán e um antigo ministro de Sánchez.

"Assim que tivemos notícia de um indício sólido, atuámos. O PSOE não tapa a corrupção, extirpa-a", insistiu Bolaños, que realçou ainda que o relatório policial conhecido na quinta-feira não contém "qualquer indício de um possível financiamento irregular" do partido.

Ainda assim, o PSOE avançou com uma auditoria externa às contas do partido, para haver "tranquilidade por completo", acrescentou.

O escândalo de corrupção que implica o número três do PSOE

A justiça espanhola anunciou na quinta-feira haver "indícios consistentes" de corrupção contra o 'número três' do PSOE e deputado Santos Cerdán, em mais um caso judicial a envolver pessoas próximas do primeiro-ministro, Pedro Sánchez.

O Tribunal Supremo de Espanha disse, em comunicado, que na sequência de um relatório de uma investigação policial a um antigo ministro dos Transportes de Sánchez (José Luis Ábalos), a justiça concluiu haver também "indícios consistentes" contra Santos Cerdán, por suspeita de negociação de comissões de pelo menos 620 mil euros, pagas por empresas de construção, na adjudicação de obras públicas.

Ábalos e um antigo assessor Koldo García começaram a ser investigados no ano passado pela suspeita de terem cobrado comissões pela venda a organismos públicos de material sanitário, incluindo máscaras, durante a pandemia da covid-19.

A investigação foi sendo alargada, à medida que foram recolhidas provas, documentos e testemunhos pela unidade da Guarda Civil espanhola com competências de investigação policial (conhecida como UCO).

As suspeitas contra Santos Cerdán, que até quinta-feira à tarde tinha o cargo de secretário de Organização do PSOE, o partido liderado por Sánchez, resultaram de gravações de conversas telefónicas apreendidas pela UCO entre o dirigente socialista e Koldo Garcia e entre este e Ábalos.

Ábalos foi ministro entre 2018 e 2021 e, perante as suspeitas de corrupção, foi expulso do PSOE em 2024. Santos Cerdán era o 'número três' do PSOE desde 2017, quando sucedeu no cargo a Ábalos.

Pedro Sánchez reconheceu na quinta-feira haver "indícios muito graves" de corrupção envolvendo o 'número três' do PSOE e pediu desculpa e perdão aos espanhóis e aos militantes do partido, mas rejeitou uma crise no Governo e a possibilidade de antecipar eleições.

O líder do PSOE e do Governo garantiu que até quinta-feira de manhã não sabia "absolutamente nada" do relatório da investigação policial sobre Santos Cerdán e anunciou uma "auditoria externa" às contas do partido, apesar dos "relatórios positivos" do Tribunal de Contas sobre a organização, para "eliminar qualquer sombra de dúvida".

Santos Cerdán, que garantiu estar inocente, demitiu-se da direção do PSOE, a pedido de Sánchez, e deixou o lugar de deputado no parlamento na quinta-feira à tarde.

A imprensa espanhola publicou hoje editoriais e análises que consideram que, por causa deste caso, Sánchez e o PSOE vivem desde quinta-feira a maior crise desde que os socialistas voltaram ao poder em Espanha, em 2018, com diversas vozes a defenderem a antecipação de eleições ou a relegitimação do Governo com uma moção de confiança no parlamento.