Após uma maratona de 10 horas de debate, o Programa do Governo foi aprovado e Luís Montenegro reconheceu, no final, que o seu Executivo está agora “legitimado" para executar as medidas para os próximos quatro anos. A palavra de ordem é estabilidade. Para isso, conta com a “colaboração” dos partidos no Parlamento.

Essa foi a principal tónica das intervenções da AD. Com a garantia da aprovação do programa do Governo e o chumbo da moção de rejeição dos comunistas, face ao anunciado voto contra do PS e Chega, o Executivo desdobrou-se em avisos à navegação de olhos no futuro. Durante os dois dias de debate, o Governo colocou o ónus da responsabilidade política nos dois maiores partidos da oposição, PS e Chega, com quem promete dialogar, esperando também “abertura” e “cooperação” do outro lado.

No encerramento do debate, Paulo Rangel criticou esta quarta-feira o “apagão político”, que disse ter sido o PS e o Chega juntarem-se no chumbo da moção de confiança do Governo, que levou à queda do Executivo, e defendeu que cabe aos dois partidos mostrarem nesta legislatura que “estão à altura da responsabilidade”. "Ninguém compreenderá que a disposição de abertura dos dois maiores partidos da oposição desague ou venha a desaguar num comportamento irresponsável de votos pios ou votos vazios", advertiu.

Definindo a AD, como a “aliança ao centro”, um movimento político do “meio”, Paulo Rangel insistiu que o Governo está aberto a dialogar com todas as forças políticas, como demonstrou o facto de o Executivo ter integrado propostas de outros partidos no programa do Governo, esperando compromisso em troca. Tal como no primeiro dia de debate, a reforma do Estado teve especial destaque, como uma das apostas deste Governo: “Vamos reformar o Estado, agilizá-lo, em vez de um Estado flácido e gordo, queremos um Estado forte e elegante, atlético", advogou ainda o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros.

Na mesma linha, Hugo Soares sustentou que há uma “diferença colossal” entre a AD e os outros projetos políticos, sendo o programa do Governo um “espelho cristalino” da vontade de estabilidade e do espírito reformista. Pelo meio, deixou outro aviso à oposição, afirmando que quem quiser "bloquear" o Executivo encontrará neste Governo “determinação”: “que não restem dúvidas”. "O Governo vai governar com os portugueses e eles não perdoarão a quem desperdiçar o seu esforço", dramatizou.

MIGUEL A. LOPES

PS diz que não será "assessor" do Governo, Chega promete levar a "sério" liderança da oposição

Do lado da oposição, houve promessas, mas também alertas. Na disputa entre PS e Chega sobre quem será mais oposição, José Luís Carneiro avisou que os socialistas não serão “assessores” do Executivo, ainda que estejam disponíveis para a “convergência”, tendo em conta os interesses do país, enquanto André Ventura garantiu que levará "a sério" a liderança da oposição e não será uma “muleta” do Governo da AD.

"Fiscalizaremos a ação do Governo, com exigência e frontalidade, dialogaremos com transparência e lealdade institucional", assegurou o candidato a secretário-geral do PS, lamentando, contudo, que o programa do Governo antecipe "cortes nas reduções de direitos" e "desinvestimento" no Estado social. "Não contem com o PS para esse caminho", atirou.

Já, segundo o líder do Chega, há um "líder da oposição" e há "muletas do Governo" na Assembleia da República, numa alusão ao PS. E colocou, assim, PSD e PS no mesmo saco, dizendo que Luís Montenegro "nunca foi diferente de António Costa", uma vez que joga com a mesma equipa, a do "sistema". "Este Governo não é bom, mas há alternativa a esse Governo. O país precisa de construção e de capacidade de dizer não, sendo oposição", completou Ventura.

Debate do programa do governo. André Ventura
Debate do programa do governo. André Ventura Nuno Fox

Pela IL, Mariana Leitão defendeu também que o programa do Governo recupera "fórmulas do passado" e peca por falta de "ambição". A líder da bancada dos liberais considerou ainda que só a IL será uma oposição clara ao Governo, porque defende mais ambição e reformas estruturais, incluindo "cortes" no Estado, sem "hesitação".

Em sentido contrário, a bloquista Mariana Mortágua criticou a reforma do Estado anunciada pelo Governo, entendendo que existe uma "confusão entre reformar o Estado e enfraquecê-lo." Paulo Raimundo voltou, por sua vez, a afirmar que as medidas do Governo "cheiram a troika", criticando ainda Chega, IL e PS, um "trio" no Parlamento que irá suportar o Executivo.

Pelo Livre, Isabel Mendes considerou, por sua vez, que o Programa do Governo não está “à altura” do "tempo histórico” que se vive e assegurou que o partido será "oposição construtiva e muito atenta”. Já a deputada única do PAN, Inês de Sousa Real, apontou o dedo a um programa com medidas que correspondem a "retrocessos" e "cedências à agenda discriminatória" das forças anti-democráticas, enquanto Filipe Sousa, do JPP, lamentou que o Executivo não seja "claro" no que diz respeito a propostas para as regiões autónomas da Madeira e dos Açores.