
O almirante Gouveia e Melo afirmou esta quinta-feira que Portugal precisa de uma liderança com ética que olhe para o mundo e não para o umbigo perante uma nova ordem mundial caracterizada pela lei do mais forte.
Esta foi uma das posições defendidas pelo antigo coordenador do processo de vacinação contra a covid-19 e potencial candidato a Presidente da República num almoço debate muito concorrido promovido pelo International Club of Portugal, num hotel de Lisboa.
Durante cerca de uma hora, o ex-chefe do Estado-Maior da Armada falou principalmente sobre geoestratégia mundial, mas nas suas sucessivas intervenções também procurou negar que tenha uma visão autoritária do sistema político, ou que possua uma cultura antipartidos, assente num ideário messiânico relativamente ao futuro de Portugal.
Gouveia e Melo defendeu a tese de que na nova ordem mundial - dominada pelos Estados Unidos, Rússia e China - impera a lei do mais forte e que estão a esbater-se as regras do direito internacional criadas após a II Guerra Mundial.
“Precisamos de lideranças que olhem para o exterior”
"Temos que estar preparados para viver nesse mundo. E quem pensar que não será assim, é só uma questão de tempo para acordar", defendeu, para deixar então alguns recados em relação à questão nacional.
"O que nós precisamos é de lideranças capazes de perceber o mundo em que nós estamos envolvidos, em vez de olharem para o umbigo, para a nossa aldeiazinha. Precisamos de lideranças que olhem para o exterior e desenvolvam um dos pilares da democracia: A prosperidade. Sem prosperidade só podemos distribuir pobreza e não riqueza", advertiu.
Um ponto em que o levou igualmente a sustentar que Portugal precisa de lideranças com visão estratégica para o país alcançar mais prosperidade, mas também de "uma liderança com valores".
"A liderança tem que ter valores. Um dos valores básicos da liderança é a ética - e sobre isto não vou dizer muito mais", disse.
No entanto, mais à frente, já no período de resposta a perguntas da plateia, o almirante voltou ao tema da ética, embora para ressalvar que não quer "anjos imaculados sem capacidade governativa" e que, pelo contrário, deseja que nas próximas eleições os partidos discutam sobretudo propostas.
“Instabilidade permanente é perigosa para nós”
O ex-chefe de Estado-Maior da Armada deixou ainda um recado crítico, mas sem identificar o destinatário, para agentes que promovem a instabilidade.
"A instabilidade permanente é perigosa para nós. As opções vão passar por nós como um comboio de alta velocidade e se perdermos esse comboio podemos uma mais uma vez perder um comboio do nosso desenvolvimento para a nossa afirmação. Não é nenhuma afirmação nacionalista, mas uma afirmação de um povo que quer ter prosperidade, quer ter equidade, quer ter liberdade e quer ter segurança", declarou.
Neste contexto, Gouveia e Melo pediu aos empresários nacionais para que sejam "os comandantes e os capitães das novas caravelas portuguesas, porque só assim é a nossa sociedade pode ser mais inclusiva, pode diminuir as assimetrias e pode responder ao outro pilar da democracia, que é a equidade".
"A História provou que os povos mais desenvolvidos e que depois desenvolvem uma democracia muito madura são aqueles em que a classe média e média elevada são numericamente a classe mais significativa da população", acrescentou.
E as presidenciais?
No período de perguntas, o presidente do International Club of Portugal questionou-o quando tenciona apresentar a sua candidatura presidencial, mas Gouveia e Melo não se moveu.
"Essa é uma pergunta com o rabo de fora, porque se eu respondesse sobre a data, imediatamente estaria a dizer que me iria candidatar", começou por declarar, provocando risos na plateia.
A seguir, falou de um jovem que, com 18 anos, "prometeu dar a vida pelo país e esteve com essa promessa dentro da cabeça durante 45 anos, mas que agora que saiu e que se libertou dessa promessa poderá fazer uma de duas coisas: ir para casa descansar e estar com o netinho ou fazer outra coisa na vida".
"De facto, tenho estado pouco com o meu netinho", afirmou.