O chefe de Estado português disse esta terça-feira que encontrou o Presidente Lula "em grande forma" e que os dois falaram da "nova situação do mundo" com a atual administração norte-americana de Donald Trump.

Marcelo Rebelo de Sousa falava em resposta a perguntas dos jornalistas, na residência oficial do embaixador de Portugal em Brasília, depois de ter sido recebido por Lula da Silva no Palácio do Planalto, durante cerca de uma hora e meia.

"Foi muito interessante, primeiro, porque encontrei o Presidente Lula em grande forma física, depois de um período de recuperação recente, em grande forma física, e isso dá-lhe um vigor, uma animação, aquilo que ele gosta de ser, uma grande energia", disse.

“Não podemos fingir que não vemos”

O Presidente português referiu que os dois falaram dos desafios colocados pela atual administração dos Estados Unidos da América, que "altera as regras do jogo", e estiveram "de acordo praticamente total" sobre as mudanças em curso no mundo.

"O mundo como nós o conhecemos mudou, e não podemos fingir que não vemos", defendeu.

Marcelo Rebelo de Sousa qualificou Lula da Silva como "um lutador por causas" que tem como "causa internacional" a defesa das "regras fundamentais e princípios fundamentais da vida internacional que vigoraram durante muito tempo" e "ajudar a reconstruir aquilo que é fundamental para as parcerias, as alianças, os entendimentos a nível internacional".

O chefe de Estado assinalou que o Brasil presidiu ao G20, preside aos BRICS e vai organizar a próxima Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas e "está em reunião permanente com países de outros continentes, como Portugal está também".

"Somos plataformas de diálogo com esses países, e estamos em muitas comunidades juntos. Além das Nações Unidas, obviamente, estamos na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), estamos na comunidade Ibero-Americana", prosseguiu.

"Quer dizer, há muitas plataformas onde podemos agir em conjunto para garantir que os valores e os princípios a que estávamos habituados e considerávamos certos, de repente, não são atirados pela janela fora", considerou.

Novo mundo, novos posicionamentos?

Pela parte de Portugal, sobre as relações com os Estados Unidos da América, Marcelo Rebelo de Sousa comentou: "Estamos à espera que os parceiros, amigos e aliados tenham certos comportamentos. Tiveram durante décadas".

"E de repente estão a dar sinais que vão deixar de ter, ou já deram sinais que vão deixar de ter. Bom, aí temos de repensar bem como é que nos vamos posicionar perante essa nova situação, que é uma situação muito nova e, nesta medida e nesta escala, muito inesperada", acrescentou.

Como marcas da administração Trump, apontou "interferir na política interna" de outros estados e colocar em causa "a visão sobre a integridade territorial dos Estados e o peso das organizações internacionais, o multilateralismo", com "mais protecionismo".

Sobre as relações luso-brasileiras, o Presidente português afirmou que os representantes dos dois países estão "virados para o futuro" e querem cooperar "em novos setores completamente diferentes, a alta tecnologia, o digital, as mudanças energéticas, novas atividades empresariais que deem crescimento".

Questionado sobre dificuldades na regularização de brasileiros residentes em Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu que "isso foi visto" e realçou que "saiu agora há pouco tempo um diploma sobre os nacionais de países de expressão portuguesa, e já foi regulamentado pelo Governo", que terá "uma influência muito positiva" nesses casos.

Por sua vez, o Presidente do Brasil publicou nas redes sociais a seguinte mensagem, acompanhada por uma fotografia ao lado do chefe de Estado português: "Recebi hoje, em Brasília, o presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa. Vamos aprofundar os fluxos de comércio e de investimentos e criar novas parcerias nos campos científico, tecnológico, cultural e educacional".