
"Dado o atual ambiente político, cheguei à conclusão de que não é politicamente viável que a minha presença no secretariado executivo seja útil para alcançar um acordo que nos mantenha unidos nesta situação complexa", explicou Omar Barboza em comunicado.
Na nota, Barboza diz ter tomado a decisão após refletir sobre a situação política venezuelana e a atuação da oposição.
"Sendo a consecução de acordos unitários a minha principal motivação para permanecer neste cargo, onde o meu trabalho atual se reduz a questões administrativas inconsequentes perante a grave situação nacional, tomei a decisão de procurar uma forma diferente de continuar a servir a causa do resgate da vigência da democracia na Venezuela, e de me demitir perante vós, de forma irrevogável, do cargo de secretário executivo da PUD", explicou.
A demissão ocorre num momento em que há divergências internas em vários partidos da PUD sobre a participação nas eleições regionais e legislativas previstas para 25 de maio, sendo que há quem defenda que a oposição deve participar e outros insistem em denunciar a fraude nas presidenciais de julho de 2024.
Barboza disse que, apesar das dificuldades, foi a união da oposição em relação a uma "estratégia acertada", que levou a um "triunfo histórico" da oposição nas eleições à Presidência venezuelana.
"A reação do Governo a esta claríssima expressão da soberania popular foi ignorar o resultado de 28 de julho, acentuando, a partir daí, uma intensa perseguição política à oposição. Avançou então com a convocação de eleições para eleger a Assembleia Nacional, os governadores e as assembleias legislativas, anunciando depois uma proposta de uma reforma constitucional para tentar alterar as atuais normas constitucionais a seu favor", explica.
Segundo Barboza, perante esta "nova etapa da luta pelo restabelecimento da democracia, não foi possível criar as condições políticas para enfrentar esta difícil situação de forma unida, com a mesma estratégia e com um projeto consensual".
"Apesar de termos feito esforços importantes (...) apenas conseguimos chegar a um acordo para tratar as diferentes opiniões com respeito, o que levou a que a maioria dos partidos tornasse pública a sua posição por separado, o que é um direito que lhes assiste, mas enfraquece a possibilidade de uma posição comum", sublinhou.
O opositor disse ainda que tem sido adiada a aprovação de propostas de ações unitárias, devido ao clima de divergência, e que o receio de fugas de informação limita a possibilidade de um debate honesto.
Dirigente do partido opositor Un Nuevo Tiempo, Omar Barboza era coordenador da PUD desde maio de 2022.
Em 19 de fevereiro de 2025, a PUD anunciou que os partidos da aliança avaliavam, internamente, se havia condições para participar nas eleições regionais e legislativas de maio, apesar de o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) não ter divulgado as atas pormenorizadas das últimas presidenciais.
A vitória nas eleições presidenciais foi atribuída pelo CNE a Nicolás Maduro com pouco mais de 51% dos votos, resultado contestado pela oposição que afirma que o candidato Edmundo González Urrutia, que entretanto pediu asilo político em Espanha, obteve cerca de 70% dos votos.
Tanto a oposição venezuelana como vários países da comunidade internacional denunciaram o escrutínio como fraudulento e exigiram a apresentação dos registos de votação para que pudessem ser verificados de forma independente.
Os resultados eleitorais foram contestados nas ruas, com manifestações reprimidas pelas forças de segurança, com o registo, segundo as autoridades, de mais de 2.400 detenções, 27 mortos e 192 feridos.
FPG // CAD
Lusa/Fim