
É notícia recente que o Governo tinha a intenção de repor as PPP’s extintas, acrescentando até mais algumas em Hospitais e Centros de Saúde. Com o novo Governo saído das eleições de 18 de maio, pelo que tenho ouvido dos decisores políticos candidatos ao poder, estou convencido que essa vontade não vai esmorecer. Nada contra. Tornou-se evidente que tudo passou a correr mal em Loures e em Braga, a começar pela Urgência que é sempre o espelho do resto do hospital.
A análise desapaixonada daquilo que torna o modelo de PPP mais eficiente e das razões do desastre de as ter descontinuado, é uma obrigação do poder político, que não pode perder esta oportunidade.
Basta falar com os colegas médicos das antigas PPP’s para concluirmos que havia satisfação no trabalho. As regras da gestão eram claras, independentemente dalgumas reticências, e os médicos sentiam-se recompensados. Quando acabaram as PPP’s nesses hospitais houve um verdadeiro êxodo de médicos, principalmente para o setor privado, e tudo passou a correr mal. Saíram especialistas em áreas nevrálgicas e não houve como esconder o buraco. Quanto a mim, há duas conclusões simples a tirar:
– É preciso manter uma massa crítica suficiente de médicos de cada especialidade, para que possam ser garantidos cuidados assistenciais de qualidade e em segurança;
– É um atributo essencial de uma boa gestão em saúde, a manutenção da atratividade dos médicos pela Instituição;
Estes princípios básicos, têm de ser seguidos nos Hospitais com ou sem PPP. O facto mais relevante para potenciar a eficiência da Instituição é aumentar a disponibilidade real do Médico. A sua motivação também é maior quando a sensação de bem-estar o invade. Um Médico feliz trata melhor os seus doentes.
O regime de dedicação plena dos médicos foi um monumental passo em falso. Foi uma forma de pagar mais, sem trazer nada de substancial aos Serviços. Por não se querer reinstituir a dedicação exclusiva, como se ela fosse um ferrete, tudo ficou na mesma. É o que acontece quando não há coragem para fazer as coisas como devem ser (separação das carreiras pública e privada) e se fica pela metade.
Também me lembro que nas PPP’s, nem tudo foram rosas. Alguns desses Hospitais, tentavam enviar os doentes mais complexos e com patologias mais consumidoras de recursos para os Hospitais Públicos. Às vezes as discussões eram muito feias, com muito pouco respeito pelo doente. A negociação para a concessão de uma Instituição de Saúde como Parceria Público Privada, deve garantir o tratamento integral da população que lhe é afeta. Já diz o Povo, que quem come a carne, também tem de ficar com os ossos!
João Araújo Correia,
Medicina Interna – ULSSA Porto
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