
Os emigrantes na Venezuela, em particular os lusodescendentes, devem aumentar os esforços para transmitir o sentimento de portuguesismo e madeirensidade aos jovens lusodescendentes, defendeu o chefe do gabinete do presidente do Governo da Região Autónoma da Madeira (RAM).
"Vai haver um problema, dentro de alguns anos, se não for transmitido todo este sentimento de madeirensidade, aos mais novos, a todos aqueles que já nasceram aqui", afirmou Rui Abreu em declarações à Lusa em Caracas, onde participou nas celebrações locais do Dia da Região Autónoma da Madeira, que começaram no sábado e se prolongam até hoje.
"Depois de tudo, isso também pode ir-se perdendo", acrescentou, sublinhando que, até agora, os madeirenses se têm esforçado por transmitir o sentimento regionalista aos jovens e envolvê-los nas distintas atividades e clubes.
"Nós também fazemos esse esforço de acompanhar, de proximidade, de ajudar no pouco que podemos fazer também com a comunidade, aqui e lá", disse.
Rui Abreu assinalou ser importante não esquecer também que há alguns anos, "quando a Venezuela atravessou um período ainda mais difícil, pelos anos de 2016, de 2017 e 2018", registou-se o mais elevado número de regressos de luso-venezuelanos à Madeira.
"Estimamos que tenha sido entre 10 mil e 12 mil, e calculamos esses valores através das pessoas que se inscreveram no Sistema Regional de Saúde e dos jovens que se inscreveram nas escolas da Madeira", disse.
Rui Abreu disse que o Governo da Madeira "encarou esse regresso de madeirenses que aqui [na Venezuela] estavam a viver, não como um problema para a Madeira, mas como um benefício que a Madeira teve".
"A Madeira precisava de mão-de-obra em muitas áreas, e esta gente foi com uma vontade enorme de vencer e de trabalhar. A Madeira precisava de jovens para as suas escolas, e nós já tínhamos fechado escolas por falta de crianças e jovens, e tivemos mais jovens. Foram quase 2 mil os que se inscreveram na altura no sistema de ensino da Madeira, portanto isso trouxe benefícios", disse.
O representante do governo regional explicou ainda que alguns madeirenses que regressaram "puderam também realizar investimentos na terra natal, que foram acolhidos com grande agrado, ainda para mais, sendo de alguém que é filho da nossa terra".
O chefe do gabinete do presidente do Governo da RAM começou por confessar que não sabe quantas vezes já se deslocou à Venezuela, anteriormente como diretor regional das Comunidades Madeirenses e Cooperação Externa, mas que contou, "até um determinado momento, seguramente mais de 30 vezes".
"Isso é sinal de que sempre me trataram bem aqui, que sempre gostei deste país e que os madeirenses daqui merecem também o nosso carinho e o nosso respeito", disse.
Rui Abreu enalteceu, finalmente, a "apreciável" resiliência da comunidade lusa na Venezuela, considerando-a "uma das qualidades mais evidentes".
"A Venezuela tem passado por sucessivos problemas, que são conhecidos de toda a gente, por desequilíbrios que existem na sociedade, por alguma instabilidade política e social, por problemas económicos e pela desvalorização da moeda. Nestes 30 anos já aconteceram tantas coisas, mas e a comunidade continua, de facto, aqui, e com uma enorme vontade, sempre acreditando no país e não desistindo nunca", concluiu.