O número de vítimas nas enormes inundações no sudoeste de Espanha continua a aumentar a cada balanço, com o mais recente a dar conta de 95 mortos no fenómeno extremo no país vizinho. Às 19h00, 92 das vítimas mortais tinham sido registadas na região de Valência, duas em Castilla-La Mancha e uma na província de Málaga, na Andaluzia.

Os danos materiais são impossíveis de calcular neste momento. A região de Valência é a mais afetada, com localidades inteiras a serem danificadas pelas cheias repentinas. O ministro da Política Territorial, Ángel Víctor Torres, anunciou três dias de luto e o Governo vai pedir “todas as ajudas” estatais e europeias para mitigar o impacto das inundações - e tanto a Organização das Nações Unidas como a Comissão Europeia já se disponibilizaram a ajudar, através de declarações de solidariedade de António Guterres e Ursula von der Leyen, respetivamente.

Dezenas de pessoas passaram a noite passada no cimo de telhados e camiões, à espera de ajuda das autoridades. A ministra da Defesa, Margarita Robles, disse à Cadena SER que foram mobilizados 1.205 militares para as regiões afetadas, que vão apoiar as operações de resgate, além de 301 veículos pesados que vão ajudar a retirar pessoas retidas em casas inundadas. “[A operação] vai seguir durante toda a noite mas, amanhã [quinta-feira], aproveitando a melhoria das previsões meteorológicas, há que começar uma segunda fase, de busca e resgate”, notando que o dia de hoje ficou marcado pela procura de desaparecidos e mortos. “Algumas pessoas ficaram presas, outras ainda não sabemos se desapareceram ou não. É a grande incógnita neste momento”, admitiu a ministra.

Já o presidente da comunidade valenciana, Carlos Mazón, apontou que não existem “pessoas resgatáveis visíveis do céu”, dando conta que, até às 19h00, tinham sido realizados 200 resgates terrestres e 70 resgates aéreos. As autoridades locais também confirmaram, segundo o El País, que Pedro Sánchez, o primeiro-ministro, deverá visitar a região na quinta-feira e participará numa reunião das autoridades de proteção civil.

Já a junta da Andaluzia apontou que, nas últimas 48 horas, foram registadas 1.200 ocorrências nessa região, com a maioria dos estragos a surgirem em Cádiz e Sevilha.

Quanto aos restantes cidadãos espanhóis afetados, pelo menos 115 mil pessoas ficaram sem luz devido à chuva intensa e aos estragos na rede elétrica. O serviço ferroviário de alta velocidade entre Madrid e a comunidade de Valência foi interrompido, bem como a ligação ferroviária entre a região e Barcelona. Segundo avançou o El País junto da Renfe, a operadora espanhola, o número de utilizadores com viagens canceladas pode atingir “facilmente” os 100 mil, e 54 comboios deixaram de circular, sendo que os limites ao tráfego ferroviário podem causar graves constrangimentos nas estradas antes do feriado e do fim de semana prolongado.

Uma “depressão isolada em níveis altos” afetou as várias regiões de Espanha durante terça-feira, um fenómeno conhecido como DANA, em castelhano, e impactou sobretudo os pontos do país junto à costa do Mediterrâneo. A precipitação na região de Valência foi a mais elevada em 24 horas desde 11 de setembro de 1966, de acordo com dados oficiais.

A Agência Estatal de Meteorologia revelou também um dado preocupante, apesar de se tratarem ainda de previsões e não de dados oficiais: o observatório meteorológico na região registou um valor elevadíssimo, de 630,6 litros por metro quadrado de precipitação, um número que o El País descreve como “uma autêntica brutalidade”, que esmaga o anterior recorde.

No que diz respeito à meteorologia que provocou as cheias repentinas em Espanha, a entidade meteorológica espanhola reduziu o nível de alerta em Cádiz, a zona de maior risco dada a acumulação de água, de “risco extremo” para “risco importante”. O resto do sudoeste do país mantém-se no mesmo nível de alerta.

Ainda assim, o ministério dos Transportes recomendou, durante a tarde, que os habitantes das regiões de Andaluzia, Catalunha e Aragão evitassem conduzir durante o dia de quarta-feira.