"Todos sabemos que existe um sistema autoritário na Bielorrússia. O próprio Lukashenko não tem vergonha de admitir que é um ditador, o último ditador da Europa", disse à agência espanhola EFE Hanna Kanapatskaya sobre o líder mais antigo da Europa, que está no poder desde 1994 e que procura um sétimo mandato nas eleições presidenciais.

Kanapatskaya, a única dos quatro candidatos alternativos a Lukashenko que pode ser considerada crítica do governo, embora a oposição no exílio a considere parte do sistema, rejeita tanto a possibilidade de a Bielorrússia se juntar à Federação Russa como de participar na guerra na Ucrânia.

"Ninguém precisa disso", disse, lembrando que os protestos em massa contra as eleições presidenciais de agosto de 2020, consideradas fraudulentas, foram organizados e financiados "a partir de território russo", a fim de instalar alguém mais complacente do que Lukashenko em Minsk.

A advogada de 48 anos admite que, durante a campanha de recolha de assinaturas para a sua candidatura, concluiu que Lukashenko, a quem os seus compatriotas devem - na sua opinião - o facto de a Bielorrússia continuar a ser um país independente, "tem um apoio real (...), se não da grande maioria da população, certamente da maioria da população".

"Será por causa da guerra na Ucrânia, porque a paz é muito importante. Mas a realidade é que ele é um homem velho. Embora tenha o apoio da sociedade, penso que atingiu o limite das suas possibilidades. Atualmente, esse é um fator que trava o desenvolvimento do país. E Lukashenko compreende-o perfeitamente", afirmou.

Segundo a candidata, Lukashenko, de 70 anos, fez muito pelo "bielorrusso médio", criando um sistema "em que as pessoas se sentem confortáveis e seguras", especialmente quando, nos anos 1990, travou o terror contra o mundo dos negócios, como na Rússia, ou a instabilidade política, como na Ucrânia.

"Toda a gente quer a paz, toda a gente quer que a guerra acabe, mas ninguém sabe o que fazer a seguir (...). Elegemos o presidente para cinco anos e a guerra acaba dentro de um ou dois anos. É essa a razão da minha participação na campanha. Não posso ficar de fora. Se não participar, significa que estou de acordo e não estou de acordo. Sou a favor de mudanças globais", referiu.

Embora Lukashenko seja o grande favorito à vitória no domingo, Kanapatskaya, que obteve 1,68% dos votos há cinco anos, acredita que tem uma hipótese de ser eleita, insistindo que o atual governante "esgotou os seus recursos" e defendendo que a Bielorrússia precisa de "outros métodos de gestão do Estado e da economia".

"É preciso fazer algo que nunca foi feito. É assustador vender um gigante industrial bielorrusso, mas pior ainda é deixá-lo ser um fardo para o orçamento do Estado, pois isso trará mais problemas do que qualquer outra coisa no futuro", afirmou.

O seu programa eleitoral difere radicalmente do de Lukashenko e dos seus outros adversários, uma vez que defende a liberdade de expressão, a divisão de poderes e a propriedade privada, o que faz dela - nas suas palavras - "uma liberal", uma palavra tabu na Bielorrússia.

"Tem de haver alternância no governo. É um dos sinais da democracia. Mesmo que Lukashenko seja um ditador, a Bielorrússia, um país no centro da Europa, não pode ser assim. Um homem livre só pode fazer parte de um Estado livre", frisou.

Kanapatskaya sublinhou também que é "muito importante" criar condições para o regresso de centenas de milhares de profissionais que se exilaram em 2020 "por razões sociais, políticas e ideológicas".

"É muito importante para a Bielorrússia que eles regressem. Precisamos de virar a página. Reconhecer que estas pessoas não são culpadas, que foram utilizadas como instrumentos nas mãos de outros", defendeu.

A candidata apela ainda à libertação dos presos políticos - mais de mil, de acordo com a organização não-governamental Human Rights Watch - porque, segundo argumenta, "não são criminosos".

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