
O Brasil disse esta quarta-feira que aguarda resposta a uma proposta de negociação sobre comércio bilateral enviada em maio a Washington, e reiterou a indignação face a decisão dos Estados Unidos de impor tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros.
O vice-Presidente e ministro do Desenvolvimento do Brasil, Geraldo Alckmin, e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, informaram ter enviado uma carta ao secretário (equivalente a ministro) de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, e ao representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, manifestando "indignação com o anúncio, feito em 9 de julho, da imposição de tarifas de importação de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos."
"A imposição das tarifas terá impacto muito negativo em setores importantes de ambas as economias, colocando em risco uma parceria económica historicamente forte e profunda entre nossos países", lê-se no mesmo documento, onde se revela que a 16 de maio apresentou uma proposta com áreas a negociar.
Desde antes do anúncio das tarifas impostas pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o Brasil "tem dialogado com as autoridades norte-americanas de boa-fé, em busca de alternativas para aprimorar o comércio bilateral, apesar de o Brasil acumular com os Estados Unidos grandes défices comerciais tanto em bens quanto em serviços", revelam.
No comunicado os ministros destacam que nos últimos 15 anos a relação comercial entre os dois países favoreceu os norte-americanos em quase 410 mil milhões de dólares (350,7 milhões de euros na cotação atual), segundo dados do Governo dos Estados Unidos.
Para fazer avançar essas negociações, o Brasil solicitou, em diversas ocasiões, que os Estados Unidos identificassem áreas específicas de preocupação para negociar.
"O Governo brasileiro apresentou, em 16 de maio de 2025, minuta confidencial de proposta contendo áreas de negociação nas quais poderíamos explorar mais a fundo soluções mutuamente acordadas. O Governo brasileiro ainda aguarda a resposta dos EUA à sua proposta", detalham no comunicado.
"Com base nessas considerações e à luz da urgência do tema, o Governo do Brasil reitera o seu interesse em receber comentários do governo dos EUA sobre a proposta brasileira. O Brasil permanece pronto para dialogar e negociar uma solução mutuamente aceitável sobre os aspetos comerciais da agenda bilateral", concluiu.
Na terça-feira os Estados Unidos anunciaram o início de uma investigação comercial contra o Brasil para verificar se o país realiza políticas "irracionais ou que dificultam ou restringem o comércio", de acordo com um comunicado do Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos.
A investigação acontece depois do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros importados.
Numa carta endereçada na semana passada ao Governo brasileiro, Trump alegou que a relação comercial entre o Brasil e os Estados Unidos é "muito injusta", marcada por desequilíbrios gerados por "políticas tarifárias e não-tarifárias e pelas barreiras comerciais do Brasil".
O líder norte-americano acusou também o Brasil pela "forma como tem tratado o ex-Presidente Jair Bolsonaro", processado no Supremo Tribunal Federal por suposta tentativa de golpe de Estado após perder as eleições de 2022 para o atual Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo o Ministério Público Federal brasileiro, Bolsonaro e outros sete réus em julgamento no Supremo Tribunal Federal cometeram os crimes de "tentativa de golpe de Estado", "organização criminosa armada", "tentativa de supressão violenta do Estado Democrático de Direito", "dano qualificado por grave violência ou ameaça" e "deterioração de patrimónios protegido".