O antigo Presidente do Brasil Jair Bolsonaro foi alvo de buscas esta sexta-feira numa ação da Polícia Federal que investiga uma possível operação para atacar a soberania do país. Segundo o portal de notícias G1, o político é acusado de financiar movimentações para possibilitar a interferência externa na Justiça brasileira.

A ação policial ocorre semanas após o anúncio de tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, feito pelo Presidente Donald Trump. O aumento do imposto tem motivações políticas, uma vez que, na carta emitida pelo Governo norte-americano, há críticas ao julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, entre outros crimes, pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

A forma como o Brasil tem tratado o ex-Presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante o seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar a ocorrer. É uma caça às bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!, lê-se no documento.

Esta posição dos Estados Unidos fez com que a Polícia Federal optasse por tomar medidas preventivas contra o ex-Presidente, visando evitar uma possível fuga. Foram executados mandados de busca e apreensão na residência de Jair Bolsonaro, assim como na sede do Partido Liberal, ao qual o político está afiliado. Também foram tomadas medidas restritivas para evitar uma possível fuga.

Bolsonaro terá assim de usar pulseira eletrónica e não poderá sair de casa entre as 19h e as 6h do dia seguinte (durante a semana) nem ao fim de semana. A comunicação do político com o filho Eduardo Bolsonaro – atualmente nos Estados Unidos –, outros réus investigados, embaixadores e diplomatas estrangeiros está proibida, assim como o uso de redes sociais. Para o antigo Presidente, estas medidas correspondem a uma suprema humilhação.

No documento em que impõe as medidas restritivas, o juiz Alexandre de Moraes declara que a conduta do réu Jair Messias Bolsonaro [...] é tão grave e despudorada que na data de hoje (17/7/2025), em entrevista coletiva, sem qualquer respeito à Soberania Nacional do Povo brasileiro, à Constituição Federal e à independência do Poder Judiciário, expressamente, confessou sua consciente e voluntária atuação criminosa na extorsão que se pretende contra a Justiça brasileira, condicionando o fim da ‘taxação/sanção’ à sua própria amnistia, avançou o G1.

Ainda de acordo com o site brasileiro, Bolsonaro é acusado de três crimes: coação no curso do processo, cuja pena é de um a quatro anos de prisão mais multa; obstrução de investigação contra organização criminosa, com punição de três a oito anos de reclusão; e atentado à soberania nacional, também de três a oito anos.

Foi convocada uma sessão extraordinária virtual da Primeira Turma do STF, composta por cinco juízes, para avaliar a decisão de Moraes. A votação deve acabar até às 23h59 de segunda-feira, e, até o momento, apenas o relator do processo e o juiz Flávio Dino definiram suas posições, ambas favoráveis às medidas preventivas.

Hoje, após as buscas da Polícia Federal, o ex-Presidente falou numa conferência de imprensa realizada em Brasília. Estou restrito a Brasília, com tornozeleira [pulseira eletrónica]. Fizeram as buscas na minha casa, pegaram 7 mil reais e aproximadamente 14 mil dólares, tudo com origem [legal]. É um novo inquérito. O inquérito do golpe é um inquérito político, e a própria Polícia Federal não me ‘botou’ no 8 de janeiro, a PGR [Procuradoria-Geral da República] foi além do que viu no inquérito e me ‘botou’ no 8 de janeiro, mas não tem prova de nada, disse.

Um golpe sem forças armadas, sem nada, um golpe de festim. Espero que [este novo inquérito] seja técnico, e não político. Nunca pensei em sair do Brasil, nunca pensei em ir para embaixada, mas as cautelares são em função disso. Não posso ir para embaixada, tenho horário para ficar na rua, acrescentou.

Em fevereiro de 2024, após a apreensão do passaporte de Bolsonaro e a prisão de aliados, o antigo Presidente passou dois dias escondido na embaixada da Hungria em Brasília, noticiou o jornal The New York Times no último ano. O país europeu é governado por Viktor Orbán, de extrema-direita e aliado do político brasileiro.

Filho de Bolsonaro nos Estados Unidos celebra tarifas de Trump

No dia 20 de março, Eduardo Bolsonaro, filho de Jair, anunciou que permaneceria nos Estados Unidos e pediu licença do seu mandato como deputado federal. Na altura, o político afirmou, segundo a BBC Brasil, que dedicaria o seu tempo a convencer o Governo norte-americano a pressionar pela amnistia dos envolvidos no 8 de janeiro e a sancionar o juiz do STF Alexandre de Moraes, relator do caso que envolve o ex-Presidente.

A 8 de janeiro de 2023, apoiantes de Jair Bolsonaro invadiram a Praça dos Três Poderes em Brasília. Os manifestantes vandalizaram o património público em protesto contra o processo eleitoral que elegeu Lula da Silva. Segundo a Polícia Federal, as invasões foram lideradas por kids pretos, integrantes altamente qualificado das Forças Especiais do Exército brasileiro.

Agora, para permanecer nos Estados Unidos e procurar represálias contra o judiciário brasileiro, Eduardo recebeu dois milhões de reais do pai, segundo o ex-Presidente. Eu botei dois milhões na conta dele. Lá fora tudo é mais caro. Eu tenho dois netos e ele está lá fora, eu não quero que ele passe por dificuldades, declarou aos jornalistas no início de junho.

O deputado celebrou diferentes momentos em que o Governo norte-americano pressionava a Justiça brasileira. A 22 de maio, apoiou as declarações de Marco Rubio, secretário de Estado de Trump, sobre possíveis sanções a Alexandre de Moraes. Posteriormente, após o anúncio das tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, Eduardo agradeceu ao republicano e pediu para ele fazer o Brasil livre de novo [Make Brazil Free Again].

Texto escrito por João Sundfeld e editado por Hélder Gomes