
A Assembleia Municipal do Funchal, na pessoa do seu presidente e deputados municipais emitiu hoje uma nota de pesar, na qual se associam ao "momento da difícil partida do percussionista, professor e produtor musical Luís Jardim", que morreu ontem, no dia em que completava 75 anos.
Na note remetida este sábado às redacções, a Assembleia Municipal do Funchal reconhece o "valor pessoal, musical e social" de Luís Jardim e e expressa "as suas condolências a toda a família".
"Que descanse em paz", escreve ainda a Assembleia Municipal do Funchal.
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O músico e produtor musical Luís Jardim, que morreu hoje aos 75 anos, foi uma referência na cena internacional, tendo trabalhado com nomes como Paul McCartney, David Bowie, Tina Turner e The Rolling Stones.
Luís Alberto Gonçalves Jardim nasceu na Madeira, em 04 de julho de 1950. O interesse musical despertou cedo, na família. Seu pai, guitarrista e médico de profissão, foi um dos fundadores da Tuna Académica de Coimbra.
Na década de 1960, Luís Jardim fundou a banda Demónios Negros, tornando-o num dos pioneiros do rock em Portugal. Numa deslocação a Lisboa, venceu um concurso de 'ié-ié', como então se afirmava. No regresso à ilha natal tocou num hotel. Aos 16 anos, e segundo o seu biógrafo Paulo Camacho, mostrou vontade de emigrar para os Estados Unidos, mas acabou por optar por Londres.
Os projetos de Luís Jardim passavam por estudar inglês, licenciar-se em Direito, dar seguimento, na Madeira, aos negócios de família. No entanto, segundo Paulo Camacho, no 'site' Biografias da Madeira, o que Luís Jardim queria "era tocar".
E assim o fez, a partir de 1968, na capital britânica. Aqui estudou música, que depois aprofundou em Berkeley, nos Estados Unidos. Entre 1973 e 1977, fez parte da banda Rouge e começou a ser convidado para tocar com outros músicos e em gravações de estúdio.
Luís Jardim tocava vários instrumentos, mas aqueles de que mais gostava e o tornaram mais conhecido eram "bateria, baixo, percussão e guitarras", segundo a sua biografia.
As principais influências musicais de Jardim, a música brasileira e norte-americana, designadamente os ritmos 'soul' e 'jazz', destacaram-no no meio musical londrino da época, assim como o trabalho com The Rolling Stones, numa fase inicial do seu percurso, e com os quais construiu relações de amizade, em particular Ron Wood e Charlie Watts.
O caminho estava aberto para fazer parte das digressões das grandes bandas e trabalhar regularmente, quer como músico, quer como produtor, com nomes como Paul McCartney, Mick Jagger, David Bowie, Tina Turner, George Michael, Rod Stewart, Brian Ferry, Steve Winwood, Elvis Costello, Eric Clapton, Seal, Cher, Annie Lennox, Björk, James Brown, Ray Charles, Van Morrison, Neville Brithers, tantos mais.
Um convite do produtor Trever Horn, com quem chegou a tocar, iniciou-o na produção musical. O proprietário da ZTT Records convidou-o para produzir uma das músicas dos Frankie Goes to Hollywood, que então se lançavam. Tratava-se, nem mais nem menos, do que "Relax", o 'single' de estreia do duo britânico e um dos seus maiores êxitos.
Na ZTT, Luís Jardim trabalhou com outros artistas, entre os quais Grace Jones e Anne Pigalle; contou com Hans Zimmer, com quem tocou e com o qual viria a colaborar em cinema.
No seu currículo constam ainda Robbie Williams, com quem fez concertos no Reino Unido e digressões internacionais, assim como os Take That de onde o cantor provinha.
Luís Jardim foi afirmando o seu próprio percurso, sempre a tocar, a compor e a produzir, fundando o seu próprio estúdio em Londres - o Rouge Recording Studio.
A lista de músicos com que trabalhou expandiu-se sempre e mais, incluindo Tom Jones, Errol Brown, Oleta Adams, Gary Barlow, Tanita Tikaram, Mark Morrison, Yazz, Adamski, Terence Trent D'Arby, Sam Brown, Allison Moyet, Gareth Gates, Gwen Stefani, Angelique Kidjo, Cheb Mami, Kadja Nin, Mauranne, Axelle Red, Francis Gabrel, Alejandro Sanz, Salif Keifa, Johnny Kleg, Mori Kante, Nina Hagan.
Bandas como Presuntos Implicados e Meccano, os portugueses Rui Veloso, João Pedro Pais e Eva Stuart, músicos como Baaba Maal, Filipa Giordano e Eros Ramazzoti fizeram igualmente parte do seu rol de colaborações.
Jardim trabalhou também com Tears For Fears, Madness, Bush, Lighthouse Family, Simply Red, Boyzone, Wet Wet Wet, Soul II Soul, The Bee Gees, Prefab Sprout, Simple Minds, The Pretenders, East 17, T'Pau, Steps, The Pasadenas, ABC, Pearl, Catatonia, Flowered Up, James Taylor Quartet, The Art Of Noise, The Orb, Was not Was, Massive Attack, Incognito, Symposium, Asia, The Silencers, Shalamar, Duran Duran, The Charlie Watts Tentet, projeto do antigo baterista dos Rolling Stones, de quem o produtor português era amigo.
Luís Jardim foi director musical de produções de Diana Ross, Mariah Carey, Celine Dion, Elton John, Julio Iglesias, James Ingram, Al Jarreau, Luther Vandross, Cindy Lauper, Michael Bolton, Darryl Hall, Gloria Estefan, Barry Manilow, Michael Jackson.
Foi também produtor de bandas sonoras de mais de 20 filmes, como "Um peixe chamado Vanda", de Charles Crichon e John Cleese, "Rain Man", de Barry Levinson, "Thelma & Louise" e "Gladiator", de Ridley Scott, "Na Corda Bamba", de John Badham, "Beyond Rangoon", de John Boorman, "Don Juan de Marco", de Jeremy Leven, "Running Out of Luck", de Julien Temple, "Woman on Top", de Fina Torres, "The Four Feathers", de Shekhar Kapur, "Ultimato", de Paul Greengrass.
O produtor trabalhou com Hans Zimmer nas bandas sonoras de filmes como "007: Sem Tempo para Morrer", de Cary Joji Fukunaga, e "Maré Vermelha", de Tony Scott, entre muitos outros.
Sem abandonar o trabalho a nível internacional e a ligação ao Reino Unido, Luís Jardim aumentou a presença em Portugal. Foi convidado para presidir júris de programas de talentos na televisão, como "Ídolos", "Uma Canção Para Ti" e "A Tua Cara Não Me é Estranha", que o tornaram conhecido do público português, mas de que não gostou particularmente, como confessou publicamente, em diversas entrevistas.
Era crítico do meio musical português, que definiu como "terrível, mal estruturado", no 'podcast' Posto Emissor, do Blitz, em setembro de 2021. "Ninguém arrisca nada, ninguém gosta de investir num artista português. [As editoras discográficas] vivem dos catálogos dos músicos estrangeiros e não têm de gastar dinheiro."
Luís Jardim admitia voltar à Madeira quando deixasse a atividade, afirma Paulo Camacho, na biografia do músico e produtor. Mas os 50 anos de vida no Reino Unido pesavam sempre, como confessou ao Blitz: ali podia encontrar tudo.