Com apenas dois meses decorridos sobre o início do ano letivo, foram já convocadas sete greves que paralisaram escolas e outras se avizinham, conforme se prevê pelas convocatórias para as próximas semanas, repetindo paragens letivas que afetam os miúdos e preocupam os pais. Para os encarregados de educação, trata-se de "uma clara demonstração dos problemas estruturais que afetam o sistema educativo", revelando o desgaste dos profissionais, docentes e não-docentes, mesmo nas escolas onde se cumprem os rácios definidos por lei. Mas que tem feito das crianças e jovens as principais vítimas.

"Profundamente preocupados com as aulas perdidas em greves sucessivas", que já somam cerca de uma semana letiva perdida, mais de uma centena de pais e encarregados de educação da Escola Bartolomeu de Gusmão, na Estrela, Lisboa juntaram-se numa carta aberta ao ministro da Educação, Fernando Alexandre, ao presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, e à vereadora para a Educação, Sofia Athayde, para exigir respostas claras e concretas.

Entendendo que os profissionais estão numa posição difícil e que se vem degradando há muitos anos, pais e encarregados de educação recorrem às palavras do próprio ministro da Educação para fazer ouvir "a voz das crianças". "Não chega garantir o acesso à Educação a todos. É necessário garantir o acesso a uma Educação de qualidade. E para isso precisamos de melhorar a aprendizagem (...) temos de elevar as expectativas e de dar às escolas as condições para responderem às necessidades dos seus alunos", afirmou Fernando Alexandre a 19 de setembro. E é agora chamado a agir conforme falou, de forma a resolver os problemas da comunidade escolar e pôr fim a protestos cuja justiça entendem, mas que tem contribuído para "a desigualdade no acesso à educação das crianças e jovens, que são o futuro do nosso país, prejudicando também as famílias que são obrigadas a reorganizar-se, forçadas a levar os seu filhos para o local de trabalho, ou mesmo perdendo dias de trabalho para poderem ficar com os filhos", lembram.

Na mensagem dirigida às autoridades, lembram que a EB1 n.º 72 vive com especificidades como o facto de "estar há já cinco anos a funcionar em instalações provisórias, gentilmente cedidas pela Junta de Freguesia da Estrela, mas que oferecem condições espacialmente desadequadas para, tanto pela ausência de espaços exteriores de recreio como pela desadequação sonora do edifício. E elencam uma lista de respostas que esperam obter dos responsáveis do governo e da autarquia. Nomeadamente, querem saber que medidas serão tomadas para evitar novas paragens letivas, "quais os critérios de recrutamento e a formação necessária a ser dada aos profissionais", se está a ser reavaliado o rácio de operacionais/alunos para um número "razoável para a atual realidade das escolas" e ainda "como está prevista a valorização e reestruturação da carreira destes profissionais e a melhoria das suas condições de trabalho".

Na carta aberta, que conta já com 107 assinaturas, os pais e encarregados de educação requererem ainda esclarecimentos sobre a adequação do pessoal não-docente às necessidades reais das escolas; a razão porque os salários dos trabalhadores não-docentes não têm sido revistos nem as suas carreiras atualizadas; a falta de formação e a desaquação de critérios de recrutamento para o exercício destas funções. Querem ainda saber que medidas poderá a autarquia tomar "a curto-prazo com o objetivo de minimizar novas paralisações" e quando poderá a EB1 n.º 72 ter "instalações condignas".