"Luzes e sombras, verdades e mentiras, mitos e caricaturas, histórias lapidares sobre imagem, comunicação e poder." É assim que Rui Calafate faz as honras ao livro que acaba de chegar às bancas, 10 Mandamentos da Política, que apresentou em vésperas dos 50 anos do 25 de Abril e no qual propõe uma dezena de conselhos para quem quer sobreviver numa área que conhece bem.
Há 30 anos dedicado à comunicação e com particular interesse e conhecimentos naquele universo, o também autor do podcast Maquiavel para Principiantes e comentador habitual da CNN quis organizar uma série de histórias sobre pessoas bem conhecidas, que podem servir de lição. "Não apenas para os políticos, mas para quem quer perceber a política", especifica na apresentação do livro, definindo política como "a arte de liderar a vida das pessoas".
De Cavaco Silva e do episódio da suposta rodagem do Citroën que o levou à liderança do PSD e logo do país, tornando-se no homem que por mais tempo ocupou cargos no todo da cadeia (uma década primeiro-ministro, uma década como Presidente da República) à postura popstar de André Ventura, que se fez mestre das redes sociais e capitalizou essa aposta digital com os resultados que se vê (em quatro anos, o Chega passou de um a 50 deputados, conseguindo nas últimas legislativas mais de 1 milhão de votos), Rui Calafate navega por ondas que vão muito além dos óbvios percursos (também presentes e traduzidos no livro) de Marcelo Rebelo de Sousa ou António Costa.
São histórias que ajudam a entender momentos-chave mas que também deixam pistas sobre como se constrói uma relação empática entre eleitores e putativos eleitos, as estratégias determinantes para vencer na política e as falhas que podem acabar com uma carreira nesta área. Contando igualmente com exemplos internacionais e curiosidades insuspeitas de terem pesado em decisões.
Misturando episódios reais com histórias de ficção, da tela aos clássicos da literatura, e até passando pela Inteligência Artificial, Os 10 Mandamentos da Política em que Rui Calafate divide o seu livro de estreia resumem bem o fio condutor da narrativa do analista político:
1. Não pareças um político;
2. Diz sempre a verdade... quando puderes;
3. Reputação é mais forte do que notoriedade;
4. Joga xadrez e controla a narrativa;
5. Caça a presa mais difícil: a atenção;
6. Dá pão e circo;
7. Veste a pele do vilão;
8. Constrói a tua lenda;
9. Explora a tecnologia;
10. Sai a tempo.
Em entrevista ao SAPO, Rui Calafate garante que Cavaco encaixa melhor no 1.º mandamento do que Bugalho e que Costa está longe de ter saído de cena. Mas é para Duarte Cordeiro e Carlos Moedas que aponta quando o tema é o futuro. E porque se falha tanto na análise política? Pode ser um problema de independência no comentário...
Quanto de Sebastião Bugalho há no primeiro mandamento: "Não pareças um político"?
O Sebastião Bugalho, apesar de ser comentador — e bom —, nunca disfarçou que uma carreira política estaria no seu horizonte. Logo, o meu primeiro mandamento não se poderia aplicar a ele. Mas sim, por exemplo, ao político que ele citou na sua apresentação, Aníbal Cavaco Silva, que andou 40 anos da sua vida política a fazer de conta que não era político e até forjou uma “rodagem de um Citroën para ir à Figueira” quando já sabia que parte do aparelho do PSD se preparava para o ungir contra João Salgueiro.
E António Costa encaixaria no último Mandamento: "Sai a Tempo"?
Quanto a António Costa, ele apenas saiu por causa de Lucília Gago. Tem o seu futuro político todo em aberto em Portugal e na Europa. Ainda falta muito para sair a tempo...
Em que partido ou personalidade política há mais talento e capacidade de ter futuro no atual panorama nacional?
Na esquerda portuguesa, Duarte Cordeiro, na direita, Carlos Moedas. Sendo que António Costa e Pedro Passos Coelho estarão durante uns anos como figuras de proa dos seus espaços políticos.
E no internacional, quem se destaca?
Na esfera internacional, Nikki Haley, nos EUA.
Nunca houve tanta gente a analisar cada passo dos políticos portugueses, mas essas opiniões nunca estiveram tão longe daquilo que parece ser o entendimento/interpretação dos eleitores. É um problema de comunicação?
É importante saber analisar bem e os portugueses sabem de longe quem são os mais credíveis e sérios nesta área, que se tem imposto na agenda mediática. Os portugueses querem comentadores idóneos e não quem vá defender uma bandeira ou um partido. Quanto maior a isenção, mais útil é o comentário para os portugueses. Eles respeitam quem não os engana e fala verdade.