Caminhamos a passos largos para o dia das eleições legislativas, e entre campanhas a meio gás e debates diários que colocam frente a frente os líderes partidários, são muitos os que têm já a sua decisão definida para o dia 18 de maio. No entanto, e como é natural, há ainda bastantes indecisos, grupo onde os jovens ocupam a fatia maior.
Esta informação surgiu num estudo recente, que indica igualmente que o eleitorado jovem é, historicamente, o que decide mais tarde o seu sentido de voto – facto que se repete nestas eleições. Entre aqueles que já decidiram em quem votar, a maioria deposita a sua confiança na AD (20,3%), seguindo-se o Chega (17%), com o PS (12,6%) a terminar o pódio – ainda que atrás dos indecisos (14%). Entre variáveis e diferentes circunstâncias, estes números são, na minha ótica, simples de entender. Vejamos ponto a ponto.
Começando pela questão da maior indecisão jovem, o motivo pode passar pelo facto de a população mais nova ser cada vez mais instruída e informada, facto que nos leva a querer tomar decisões mais ponderadas e fundamentadas, e menos clubistas, mas também por termos cada vez menos presente o nosso passado ditatorial.
A história do nosso país, saído de uma ditadura de direita, e com uma liberdade conquistada com tons de centro-esquerda e esquerda, leva a que os mais velhos, de um modo geral, olhem para os partidos como clubes, que apoiam e não abandonam, independentemente dos seus líderes ou propostas – argumento que ganha força com o óbvio maior apoio à esquerda, nomeadamente ao PS, por parte dessa faixa etária. Assim, sem o peso das memórias do Estado Novo, o voto é cada vez menos fanático ou ideológico, e cada vez mais dependente de uma ponderação sobre os programas eleitorais e sobre a capacidade dos líderes partidários.
De seguida, a vantagem da AD ganha força com as políticas jovens aplicadas no último ano por parte do Governo liderado por Luís Montenegro, entre as quais o alargamento do IRS Jovem de cinco para dez anos, a isenção de IMT e a implementação de uma garantia pública na aquisição de imóveis para jovens até aos 35 anos.
Mas também outras medidas que, não estando diretamente ligadas aos jovens, foram vistas por esta faixa etária com bons olhos, como foi o caso da redução do IRC, com vista a dar às empresas condições para prosperar e, essencialmente, incentivar uma subida do ordenado médio, uma prioridade para estes eleitores, que olham para uma classe média cada vez mais diminuta e nivelada por baixo. Deste modo, há entre o eleitorado jovem, muitos cidadãos que reconhecem um esforço do governo da AD no apoio à sua faixa etária, e ao desenvolvimento económico.
Em terceiro lugar, o avultado impacto do Chega nos jovens justifica-se pela forma simples, direta e cativante como o partido de André Ventura comunica as suas ideias. Aquela que é, ao dia de hoje, a terceira maior força política no nosso Parlamento é, ao mesmo tempo, a maior força nas redes sociais, com publicações constantes, sobretudo vídeos dinâmicos e mensagens curtas e fáceis de ler.
Os temas escolhidos, sempre provocadores, são assuntos polémicos que, em certa medida, têm preocupado os jovens. Exemplos disso são a segurança e a justiça: o Chega invoca, e reforça, as sensações de insegurança, aludindo a casos de assaltos e agressões sofridos pelos jovens, procurando ainda criar uma relação destes episódios com a imigração, ao mesmo tempo que também critica a justiça, alegando falhas e insuficiência dos castigos aplicados. A juntar a isto, André Ventura e companhia, fazem uma forte associação destes fenómenos, não só com a esquerda, como também com o PSD – por ser um partido do “sistema” –, gerando e envolvendo os jovens num clima de polarização, onde a luta é do Chega contra os outros, unindo as pessoas contra “o sistema”. É deste modo que o Chega consegue alcançar de forma eficaz a maior parte dos utilizadores de redes sociais, maioritariamente jovens.
Assim, o facto de se apresentar como um partido novo, “diferente dos outros”, e que nunca esteve no poder, despe-o da responsabilidade dos problemas existentes no nosso país ao longo dos anos – ainda que grande parte dos protagonistas do partido tenham feito parte, ao longo dos anos, do mesmo “sistema” que criticam. Esta linha narrativa ajuda a criar a sensação de que é nele que reside a esperança de um país próspero, que permita aos jovens ter uma vida segura e estável, sem ter de passar pelo desespero de outros jovens que, noutras alturas, tiveram de emigrar para encontrar, fora de Portugal, essas condições.
Por fim, a fraca posição do PS nas intenções de voto dos jovens encontra fundamento não só nas suas políticas, essencialmente e historicamente, viradas para os mais velhos, mas também, e acima de tudo, nos últimos anos de governação. Nos últimos 35 anos, o PS governou por 22, ao passo que nos últimos 18 anos, governou por 13. Significa isto que, durante a – esmagadora – maior parte do tempo de vida dos que hoje são o grupo do eleitorado jovem, foi o PS quem governou, levando a crer que qualquer mudança que se queira fazer no nosso país, passe por tirar o “partido da rosa” do poder. O desgaste e a descrença dos jovens no Partido Socialista são ainda reforçados pela ideia de que o atual Secretário-Geral do partido é, ideologicamente, mais encostado à esquerda, o que entra em conflito com os ideais de direita que têm ganho cada vez mais força, e que traz memórias de uma geringonça por quem os jovens não terão particular simpatia.
Isto posto, estamos cada vez mais próximos do dia 18 de maio, e se é verdade que, ao dia de hoje, a balança parece claramente inclinada à direita, também o é que, até lá, muita coisa pode mudar. A única coisa de que temos a certeza é de que os jovens têm – e têm de ter – uma importante palavra a dizer, já que é o nosso futuro que está em causa.