Primeiro, os partidos, mas sobretudo o PS, que digam se consideram que o Governo tem condições para continuar a executar o seu programa. Montenegro não quer uma crise política, mas admite que ela “pode ser inevitável” porque só fica com confiança. "Em termos políticos e governativos, insto daqui os partidos políticos, representados na Assembleia da República, a declarar sem tibiezas se consideram, depois de tudo o que já foi dito e conhecido, que o Governo dispõe de condições para continuar a executar o programa do Governo, como resultou há uma semana da votação da moção de censura”, declarou Luís Montenegro, em São Bento, depois de um Conselho de Ministros extraordinário.

A ideia é que - se o país for de novo para eleições - o ónus fique do lado de Pedro Nuno Santos, e por isso lançou o desafio: Sem essa resposta, a clarificação política exigirá uma resposta no Parlamento, o que por iniciativa do Governo só pode acontecer com a apresentação de uma moção de confiança." O sublinhado de que ainda há uma semana foi chumbada uma moção de censura contra o Governo foi feito por duas vezes na declaração, mais uma vez sem direito a perguntas. "A crise política deve ser evitada, mas também é preciso dizer que pode ser inevitável", avisou.


Com todos os dezassete ministros presentes na sala, o primeiro-ministro, à defesa, começou por uma exposição longa sobre o trabalho da empresa familiar que está na origem da polémica, considerando que já deu todas as explicações: “Divulgaram-se, entretanto, os nomes dos clientes e dos colaboradores regulares, valores de prestações de serviços e, em cima disso, lançaram-se e alimentaram-se especulações para que o assunto nunca se encerrasse e para que se criassem novas insinuações e novos pedidos de esclarecimento, sempre sobre um culto de gravidade e suspeição sobre o primeiro-ministro. Este é um ciclo vicioso que muitos desejam e de que muitos não querem sair.

Muitos, que não nomeia, mas um em particular, que Luís Montenegro fez questão de apontar, o PS: “Nós temos de confiar nas pessoas e confiar nas instituições e obviamente também confiar nos mecanismos de fiscalização democrática e institucional. A esse respeito tem sido particularmente elucidativa a posição do maior partido da oposição. Não resistiu a fomentar a desconfiança e a especulação, a insinuação mesmo. Não fala de mais nada para que depois se possa dizer que não se fala de outro assunto.”

Na sala da lareira da residência oficial, onde o anterior primeiro-ministro, António Costa, anunciou a demissão, Montenegro garantiu que fica, mas não a qualquer preço. "A exposição a que fui sujeito com a minha família chegou a um limite que nunca imaginei”, lamentou, para acrescentar logo em seguida: “Não me queixo, sei que sou primeiro-ministro porque quis e porque os portugueses me confiaram essa honra. Estou, como sempre, disponível para um escrutínio saudável e democrático. Não será por isso que fugirei à minha responsabilidade. Mas não estarei aqui a qualquer custo. A situação política tem de ser clarificada sem manobras táticas e palacianas.

Dez dias antes de fazer um ano que ganhou as eleições legislativas, o Governo que se apresentou esta noite ao lado de Montenegro estava tudo menos efusivo ou sorridente. Com ar entre o grave e o apreensivo, ouviram o chefe do Executivo defender o seu percurso profissional e o direito a ter uma empresa que, ainda assim, vai passar a ser “totalmente detida e gerida” apenas pelos filhos, anunciou Montenegro. E também vai mudar de sede: “Não pratiquei nenhum crime”, garantiu, “nem tive nenhuma falha ética (...)".

"Seria justo e até adequado fechar tudo, abandonar tudo, só porque circunstancialmente fui eleito presidente do PSD e agora exerço as funções de primeiro-ministro? Deveriam os meus filhos ficar inibidos de dar seguimento ao que criaram comigo só porque eu me encontro nesta situação?”, questionou Montenegro, que confia que os portugueses pensam como ele e não querem crises políticas, e responde ele próprio: "Sinceramente, creio que se o nosso sistema político não aceita nem controla a conciliação entre a vida familiar e a vida política, nós vamos de uma assentada ter políticos sem passado e ter políticos sem futuro profissional."

Foram cerca de 20 minutos de intervenção, onde deixou ainda a garantia de que vai excluir-se dos processos de decisão, tal como outros membros do Executivo, sempre que houver qualquer conflito de interesses por razões pessoais e profissionais.

“Portugueses, nunca cedi a nenhum interesse particular face ao interesse público e geral e assim vai continuar a ser”, assegurou.