O rio Guadiana é o fio condutor deste Passeio Verde que atravessa o município de Mértola, que guarda uma vasta área do Parque Natural do Vale do Guadiana. Rico em biodiversidade fomentada pelo rio Guadiana, este é refúgio de espécies como o lince-ibérico ou local de nidificação e observação de aves raras, como a águia-real.
Mértola, vila – museu, foi outrora conhecida como o “último porto do Mediterrâneo”. Aqui chegavam pelo Guadiana as grandes rotas comerciais da antiguidade. O curso do rio conduz a um Alentejo profundo e em estado puro, marcado por locais de rara beleza, como o Pulo do Lobo, as Azenhas do Guadiana ou a Penha d’Águia. Seja de barco tradicional ou de canoa, de dia ou de noite, o rio Guadiana e a Estação Náutica de Mértola garantem emoção, contemplação e momentos de descoberta.
Explorar a Estação Náutica de Mértola
Com três polos distintos (Mértola, Pomarão e Mina de São Domingos), a Estação Náutica de Mértola congrega a oferta de turismo náutico da região. É junto à Mina de São Domingos e à aldeia mineira que se localiza a Albufeira e Praia Fluvial da Tapada Grande. Com galardão de Bandeira Azul, esta praia acessível foi premiada como melhor da Europa nos World Travel Awards. Alugam-se gaivotas e canoas, existe um bar, mesas de piquenique, relvados, sombrinhas e nadador-salvador em época balnear. É aqui que se localiza a Pista Internacional de Canoagem e Remo da Mina de São Domingos, que integra a Estação Náutica de Mértola. Fora de água, merece visita a Mina de São Domingos, um dos mais emblemáticos locais de visita do concelho de Mértola. Por aqui trilha-se a Rota do Minério, um itinerário pedestre e ciclável com cerca de 14km, com grande impacto visual, que surpreende pela magnitude das ruínas do antigo complexo industrial, numa paisagem cénica fascinante.
De regresso ao Guadiana, é no cais da zona ribeirinha da vila de Mértola, que se embarca numa viagem de contemplação com a Beira Rio Náutica (Tel. 913402033). Os passeios de barco são opção recorrente para praticantes de birdwatching, que navegando pelo rio conseguem uma observação mais intimista. O passeio prolonga-se até ao cais da aldeia do Pomarão, onde atracavam os navios para carregamento de minério nos anos 60. No Pomarão, visita-se a Ecoteca Fluvial Saramugo (Tel. 286610000), instalada numa embarcação de 11 metros, onde se desvenda a fauna e flora do Baixo Guadiana, incluindo o peixe, único no mundo, raro e em vias de extinção, precisamente o saramugo.
O passeio inclui ainda a Penha d’Águia (freguesia do Espírito Santo), local tranquilo do Guadiana, onde foi instalado um cais flutuante – ponto único de atracação entre o Pomarão e Mértola. Na Penha d’Águia, uma das zonas naturais mais bonitas e selvagens da margem portuguesa do Guadiana, nidificam e habitam várias espécies de aves, como os grifos e o bufo-real. Aqui encontra-se ainda um Monumento de homenagem aos Pescadores do Rio Guadiana e um ponto de observação de aves.
Pescar no Guadiana
Boga-do-Guadiana, carpa, barbo, muge ou achigã são as principais espécies de peixes de rio que é possível pescar no rio Guadiana e barragens de Mértola. Mértola viveu sempre da generosidade do rio, com várias famílias a subsistir com o que o rio dava, é por isso uma vila tradicionalmente piscatória. Existem três locais principais para a prática da pesca lúdica: a frente ribeirinha de Mértola no rio Guadiana; a Barragem do Chança; e a Barragem da Tapada Grande, junto às Minas de São Domingos. Para aprender a pescar “à francesa” (modalidade mais eficaz), à Bolonhesa ou à inglesa, sugere-se contactar o Clube de Pesca Desportiva de Mértola “Os Amigos do Guadiana” (Tel. 962564229).
Conhecer o rio de canoa sob um céu estrelado
Seja de barco tradicional, numa lancha ou canoa, de dia ou de noite, o Guadiana é um foco de emoções e de descoberta paisagística, fio condutor de uma viagem com o efeito relaxante em contacto com o elemento água. A cinco minutos de Mértola, as Azenhas do Guadiana são alcançáveis a pé, de canoa ou stand-up paddle. As escarpas rochosas dominam a paisagem e faz-se paragem para ir a banhos nas águas calmas do rio. Para os mais aventureiros, sugere-se fazer este percurso de noite, em especial numa noite de luar. A Nautimértola (Tel. 286612044) e a Happy Guadiana (Tel. 925353670) organizam descidas de rio, diurnas e noturnas. Por muitos caracterizadas de “praia fluvial”, as Azenhas do Guadiana são, na realidade, uma zona de lazer em que é possível admirar três moinhos de água que, durante séculos, serviram para transformar os cereais em farinha.
De pasteleira elétrica pelo Vale do Guadiana
A ideia é pegar numa bicicleta elétrica e visitar a região do Parque Natural do Vale do Guadiana. Cláudia Melo criou esta proposta sustentável e ecológica da Ecoland Ebike Tours (Tel. 964989402) e sugere duas rotas: a de Aracelis e a do Pulo do Lobo, conhecido pela cascata com 16 metros de altura, e que integra, na Amendoeira da Serra, a possibilidade de visita ao Centro de Interpretação do Lince-Ibérico. Já Pedro Bravo, guia de natureza (Tel. 963765544), convida a caminhar pela fresca ao final do dia, a apreciar o entardecer, os horizontes, a vegetação e até os animais que connosco se cruzem. “Vamos ver o sol poente no campo, o lusco-fusco, a chegada da noite que nos convida à introspeção e nos apura os sentidos”. O convite serve para apreciar a beleza do lusco-fusco, mas também para ir “ao encontro das histórias, dos contos da tradição oral pela voz e presença de uma contadora de histórias", como nos serões de outrora.
Pulo do Lobo: o coração do Parque Natural do Vale do Guadiana
É no Pulo do Lobo, uma fenda por onde se precipitam as águas do rio, que se dividem os concelhos de Mértola e Serpa. Geossítio de relevância nacional, é local de grande beleza natural, consequência dos efeitos provocados ao longo dos tempos pelas várias eras geológicas. O Pulo do Lobo é onde o “rio ferve entre paredes duríssimas, rugem as águas, espadanam, batem, refluem e vão roendo, um milímetro por século, por milénio, um nada na eternidade“, como escreveu José Saramago.
O acesso ao local é difícil, com desníveis e pisos irregulares, por entre as rochas. Aconselha-se precaução. Segundo a página do município de Serpa, o “acesso pode ser feito, na margem direita, a partir da aldeia da Corte Gafo de Cima, até à aldeia da Amendoeira da Serra, seguindo depois por uma estrada estreita até aos portões da “Herdade do Pulo do Lobo”. Passando esse portão segue por uma estrada de terra batida. (...) Pode também aceder ao Pulo do Lobo, pela margem esquerda, seguindo na estrada da Mina de S. Domingos para Serpa”.
Nesta queda de água, sentem-se as forças telúricas em ação, as quais foram desenhando o vale do rio, ao longo de milhões de anos. Lá em baixo, depois da queda, as águas caem num lago (chamado de Pego do Sável). Na zona do Pulo do Lobo o leito rochoso é formado por várias cavidades, que se designam “marmitas de gigante” ou “marmitas turbilhonares”.
Observar aves, de dia e de noite
Mértola e toda a área envolvente do Vale do Guadiana são territórios de excelência para a observação de aves e o município sugere quatro itinerários para descobrir de automóvel ou a pé. Começando pela vila, que acolhe nas muralhas do castelo a última colónia urbana do país de uma espécie bastante rara e ameaçada, o peneireiro-das-torres. Ao longo deste itinerário, que atravessa a vila e a envolvente nas margens do rio Guadiana, é possível observar várias espécies, entre elas a águia de Bonelli, que nidifica nas escarpas. Os outros percursos encaminham até à Mina de São Domingos, ao Pulo do Lobo, serra da Alcaria e às Azenhas do Guadiana, com desvio na Barragem dos Corvos, sempre pelas margens do rio. A Lynxlands (Tel. 934187455) promove atividades de birdwatching, nestes e noutros itinerários no Parque Nacional do Vale do Guadiana e a Birds & Nature Tours Portugal (Tel. 913299990) dispõe de vários programas de observação e fotografia de aves.
O outono marca a partida para sul das aves que aqui nidificaram na primavera e verão e a chegada de outras provenientes do norte, centro e leste da Europa. A partir, por exemplo, dos miradouros, sempre em silêncio para não incomodar as aves mais tímidas, é possível observar os bandos em migração, mesmo durante a noite. A observação de aves noturnas, em particular de rapina, é uma experiência sensorial distinta, em que são analisados os cantos e comportamentos. Para a prática de night birdwatching sugere-se o centro histórico de Mértola, as Azenhas do Guadiana, a zona de Além-Rio, a Mina de São Domingos e a serra de São Barão.
Rotas do Guadiana, do Montado e do Contrabando
O território de Mértola conta uma rede de percursos pedestres sinalizados na área do Parque Natural do Vale do Guadiana que justifica estacionar o automóvel e descobrir a pé. Encontram-se assinaladas 10 pequenas rotas. Destaca-se a “PR1 – Guadiana, O Grande Rio do Sul” (10 km) e a “PR9 – Entre o Escalda e o Pulo do Lobo” (4 km). Outros dois percursos localizados na área geográfica do Parque Nacional do Vale do Guadiana, classificada como área Rede Natura 2000, Zona de Proteção Especial do Vale do Guadiana e Sítio de Interesse Comunitário do Guadiana, são a “PR2 – Os Canais do Guadiana” (3,5 km) e a “PR3 – As margens do Guadiana” (10 km), ambos percursos lineares de dificuldade fácil.
Para desfrutar da paisagem alentejana, é possível ainda optar pela “PR6 – Entre a estepe e o montado” ou pela “PR4 – À volta do Montado” (14 km), que tem no final do percurso a maior albufeira do Parque Natural, a Tapada Grande. Para conhecer um dos mais importantes afluentes do rio Guadiana, a Ribeira do Vascão, por excelência a ribeira das espécies piscícolas do Vale do Guadiana, é possível trilhar a “PR5 – Ao ritmo das águas do Vascão” (4,5 km) ou a “PR8 – Um percurso ribeirinho” (5 km).
Por fim, a já referida “PR10 – Rota do Minério”, um percurso circular, com 14 km, no antigo complexo mineiro inserido na Faixa Piritosa Ibérica, que desde a Antiguidade é um local procurado para a extração de minérios. A Rota do Minério, promovida pela Fundação Serrão Martins (Tel. 286647534), pode ser percorrida à noite, com a ajuda de um guia local, para ouvir histórias de contrabandistas e mineiros, visitar o Museu do Contrabando em Santana de Cambas e terminar com petisco de produtos locais. Para reservar esta experiência, deve contactar-se a Happy Guadiana (Tel. 969002218) ou a Pureland (Tel. 968972619)
Por aqui passa também a “GR15 - Rota do Guadiana”, com uma extensão total de 165 km, que começa e termina em Vila Real de Santo António. O trecho entre a Mina de São Domingos e Mértola, de 25 km, reserva-se a caminhantes experientes. Esta Grande Rota tem ligação à Ecovia do Algarve, à Via Algarviana e ao Camiño Natural del Guadiana, em Espanha.
De olhos postos no firmamento
Mértola integra o território Dark Sky Alqueva, o primeiro destino do mundo certificado como Starlight Tourism Destination. Trata-se de uma reserva com cerca de 9.700 km², em torno da albufeira de Alqueva e que se estende pelos concelhos portugueses de Alandroal, Barrancos, Évora, Mértola, Moura, Mourão, Portel, Redondo, Reguengos de Monsaraz e Serpa. Esta região apresenta níveis de poluição luminosa muito baixos, o que confere ao céu uma escuridão ideal para a observação de fenómenos celestes noturnos. Recomenda-se marcação (Tel. 913103540) para desfrutar das estrelas e da lua, debaixo de um céu que por ano, em média, conta com 286 noites sem nuvens.
Passeio Verde é uma iniciativa Boa Cama Boa Mesa, com o apoio da Kia Portugal, que semanalmente, ao longo do ano de 2024, vai dar a conhecer espaços naturais, experiências e atividades na natureza. O Passeio Verde foi realizado com o Kia Niro EV 100% elétrico, Carro Oficial Boa Cama Boa Mesa.
Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver código de conduta), sem interferência externa.