Entrar no cenário de um livro que nos marcou e sentir a presença de alguém que consideramos genial, é uma experiência repleta de adrenalina e emoção. Não nos deixemos influenciar pelo nome pomposo de “Turismo Literário”, que sim é uma forma de viajar e explorar um destino através da literatura, mas que insere em si vivências únicas e invulgares.
No Centro de Portugal existem numerosos percursos que permitem conhecer e explorar os locais e os espaços mencionados nos livros, muitos dos quais parte da nossa vida desde sempre. Casas-Museu guardam pedaços da vida de alguém que se dedicou de corpo e alma às artes, neste caso da escrita nos vários géneros. Locais que pela atmosfera ou natureza foram fonte de inspiração para Luís Vaz de Camões, Eça de Queiroz, José Saramago, José Saramago ou Eugénio de Andrade, mencionando apenas alguns dos nomes possíveis de conhecer melhor nesta aventura.
Na região Centro encontra ainda rotas que são dedicadas à poesia ou sugeridas por escritores contemporâneos como Afonso Cruz e José Luís Peixoto. São ótimos pretextos para conhecer melhor pequenas aldeias, territórios menos explorados, e que, plenos de autenticidade, proporcionam viagens muito íntimas e particulares.
“Em Nome da Terra” dá a conhecer Vergílio Ferreira
O festival literário "Em Nome da Terra", na aldeia de Melo, em Gouveia, decorre de 2 a 6 de outubro. Além da inauguração da Casa Vergílio Ferreira – "Para Sempre” e da entrega do Prémio Literário Vergílio Ferreira 2024, este festival conta com a apresentação de livros, exposições, conversas e música. Celebra a obra e a memória do escritor, autor de "Para Sempre", com um programa "vasto e eclético, criado a partir do seu legado literário, e que propõe uma viagem pelos lugares e pelas histórias que eles encerram", revela a nota da Câmara Municipal de Gouveia. A ideia é “transformar a aldeia de Melo, terra natal de Vergílio Ferreira, e a paisagem envolvente num “lugar literário” de excelência, colocando-a nos caminhos do turismo literário e cultural nacional e internacional", sustenta. "Em Nome da Terra" conta com a participação de ilustradores, atores, músicos e contadores de histórias, assim como de uma vintena de escritores, entre os quais Lídia Jorge, Gonçalo M. Tavares, Teolinda Gersão, Adélia Carvalho ou Afonso Cruz. Paralelamente ao evento, decorre um programa dirigido às crianças, que inclui conversas com os escritores, oficinas de ilustração com Henrique Cayatte e um concerto de Teresa Salgueiro, no dia 5 de outubro, inspirado na obra de José Saramago "Jangada de Pedra". Conheça todo o programa do festival “Em Nome da Terra”.
Quando um elefante nos releva a humanidade
Em 2009, José Saramago viajou de Lisboa a Figueira de Castelo Rodrigo, percorrendo as paisagens e os locais idealizados no romance “A Viagem do Elefante”, deixou expresso o objetivo de fazer daquela viagem o início de um roteiro que levasse mais visitantes ao interior do país, aquele que “não é possível descrever por palavras. Possível é, mas não vale a pena”, indicando, no fundo, que é preciso percorrê-lo, descobri-lo e vivenciá-lo. Acompanhe a história do Elefante Salomão e do périplo que realizou contado nesta obra de Saramago. Começou em Belém (Lisboa) e seguiu Castelo Rodrigo, a partir de onde prosseguiria com destino a Viena de Áustria. Daqui é incontornável a passagem pela região da Beira Interior de Portugal. Chegou agora a hora de partir nesta Viagem do Elefante pelo Centro de Portugal guiado pelas palavras de José Saramago. Descubra os magníficos cenários que o escritor imortalizou neste livro, exatamente um ano antes da sua morte. Ao seguir os passos do Elefante Salomão, turistas e visitantes têm a possibilidade de descobrir Aldeias Históricas, castelos, igrejas e fortalezas, em que cada pedra conta uma história, e saborear as especialidades gastronómicas deste território. A viagem do Elefante é uma viagem de descoberta exterior e interior, de introspeção e liberdade, sentimentos que a literatura e as viagens têm em comum.
Seguindo mais uma vez a recomendação de José Saramago “É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite…É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos”. Lugares outrora visitados e descritos por José Saramago na obra Viagem a Portugal (1981) servem de pretexto a vários escritores para um relato contemporâneo sobre os do 'viajante' Saramago. Com Viagem a Portugal Revisitada, José Luís Peixoto percorre, entre outros, várias localidades no centro do país, nomeadamente Guarda, Pinhel e Cidadelhe, acrescentando um olhar novo ao de Saramago, nesta busca do que mudou e do que permaneceu, com atenção especial ao património, à natureza e à cultura.
(Re)Descobrir Leiria numa visita encenada e guiada por Eça de Queiroz
Eça de Queiroz chegou a Leiria há mais de 150 anos para tomar posse do lugar de administrador do concelho. Ali escreveu o romance “O Crime do Padre Amaro” que inspira um roteiro literário dramatizado pelo grupo de teatro O Gato – Palavras de Sobra da Associação de Artes. Descubra os lugares Rota d’O Crime do Padre Amaro com ligação à história e ao autor, percorra a zona histórica da cidade ao longo de uma visita de cerca de noventa minutos que dá a conhecer os lugares que têm ligação à obra e imortalizam a cidade. Com início na Praça Rodrigues Lobo, segue para a Igreja da Misericórdia, com uma paragem na Casa do Arco, continua pela Travessa da Tipografia, sobe até à Torre Sineira e termina no Miradouro Ernesto Korrodi, de onde desfruta de vista sobre a cidade, admira a Igreja da Nossa Senhora da Encarnação e o Marachão. Este roteiro motivou, por sua vez, a criação de uma refeição queirosiana, com pratos inspirados no receituário encontrado nas obras do escritor como os “Ovos com chouriço”, o “Arroz de favas”, a “Cabidela”, o “Bacalhau com pimentos” ou o “Creme queimado”. Entre os restaurantes aderentes à iniciativa estão Ao Largo, Aromas com Tradição, Bottega de Tapas, Cervejaria LizBar, Mata Bicho, Cardamomo, Monte Carlo e Porto Artur.
Caminhos de Eugénio de Andrade no Fundão
Prémio Camões em 2001, Eugénio de Andrade, um dos maiores autores da literatura portuguesa do século XX, acaba de celebrar o centenário do seu nascimento. Nasceu e morou até aos oito anos em Póvoa da Atalaia, no concelho do Fundão, altura em que o poeta foi viver para Castelo Branco. “Póvoa de Atalaia é a minha terra. Fazia falta dizê-lo com o coração. Fica dito”. Para o conhecer melhor, há lugares para visitar como a Casa da Poesia Eugénio de Andrade (Tel. 924750742), situada precisamente na Póvoa da Atalaia, espaço interpretativo dedicado à vida e obra do poeta. Está instalada numa antiga escola primária e dentro pode ver o espólio do autor, incluindo manuscritos escritos pela mão do próprio. Na rua da Eira, está localizada a casa onde viveu e um pequeno jardim de oliveiras com pinturas de imagens de pessoas da Póvoa de Atalaia, das rendas locais chamadas de “Lérias”, e inscrição de alguns poemas de José Fontinhas (nome verdadeiro de Eugénio de Andrade).
O Caminho de Eugénio de Andrade no Fundão com início e fim junto da Casa da Poesia, estende-se por 5,2 km e passa pela Capela de São Jacinto e Ribeira da Azenha, locais onde Eugénio de Andrade cresceu. Para pôr a leitura em dia e ficar mais imbuído do espírito do “Caminho”, visite a Biblioteca Eugénio de Andrade. Vale a pena passar junto à fonte onde encontra o mural com a imagem do poeta.
Margens do rio Paiva, lugar idílico de inspiração para Aquilino Ribeiro
O Roteiro Aquiliano em Vila Nova de Paiva é um convite à descoberta de locais tão presentes na literatura de Aquilino Ribeiro, um dos grandes autores da língua e da literatura portuguesa. Conhecida como a Capital Ecológica, Vila Nova de Paiva situada na região de Viseu Dão Lafões, nas margens do rio Paiva, o rio menos poluído da Europa. Este lugar idílico foi fonte de inspiração para o escritor, nascido em Carregal, aldeia pertencente ao concelho de Sernancelhe, no distrito de Viseu, que passou grande parte da infância em Vila Nova de Paiva. A ligação afetiva ao território influenciou profundamente a sua produção literária. “Terras do Demo” e “A Casa Grande de Romarigães” são passadas em locais próximos deste concelho.
O Roteiro Aquiliano em Vila Nova de Paiva leva à descoberta desses locais tão presentes na literatura de Aquilino. Diz a história que foi batizado e registado na Igreja Matriz de Alhais (séc. XII e XIII), concelho de Vila Nova de Paiva, de onde era natural a sua ama. No jardim exterior da Igreja é possível admirar uma escultura/memorial de Aquilino Ribeiro, da autoria do artista plástico Ricardo Crista, inaugurada aquando da reedição do livro “Volfrâmio”, romance escrito em 1943 que retrata Portugal em plena segunda Guerra Mundial. No adro da Igreja, Aquilino Ribeiro ficava a admirar as pessoas que frequentavam a feira de Barrelas. A cena de um almocreve numa luta de varapaus, descrita no livro “O Malhadinhas”, foi inspirada exatamente neste local. É ainda referida a Casa do Juiz de Barrelas, personagem real retratado na obra “Geografia Sentimental”, editada em 1951. Estas são algumas das paragens deste percurso, assim como a Biblioteca de Vila Nova de Paiva, o Parque Botânico Arbutus do Demo, um imenso bosque, com vegetação densa e variada, que ocupa uma área de cerca de 65 hectares. Localizado na freguesia de Queiriga, considerado o paraíso da biodiversidade, nele se encontram espécies vegetais referenciadas por Aquilino Ribeiro nas suas obras.
Nelas, Coimbra, Figueira da Foz, Marinha Grande, Sardoal: percursos entre autores e géneros literários
Em Nelas percorrem-se as memórias de António Lobo Antunes, lugares descritos pelo escritor em crónicas nas quais refere as férias passadas na infância em casa dos avós maternos. Lembra o comboio, a farmácia, os correios, a loja do senhor Casimiro, o local onde se realizava a feira das almuinhas, a vista para a Serra da Estrela ou o jardim sobranceiro à igreja e o edifício dos Paços do Concelho. Este roteiro que conjuga a leitura de excertos com a visita ao património arquitetónico e relatos de estórias locais, comporta 14 pontos de paragem direta ou indiretamente mencionados nos textos de Lobo Antunes. O ponto de partida e chegada é o jardim da Biblioteca Municipal de Nelas – António Lobo Antunes (Tel.232940141).
Descemos um pouco mais no território para chegar a Coimbra. O Roteiro dos Escritores na cidade estudantil é um itinerário que nos leva a descobrir lugares alusivos a escritores naturais da cidade ou autores, que escolheram Coimbra para estudar, residir e trabalhar. Desde a fundação da universidade, a cidade foi local de passagem das elites letradas do país, formou gerações de escritores, médicos, estadistas, entre muitos intelectuais do mundo lusófono. Ao longo do roteiro, que integra 15 locais emblemáticos, conhece as casas onde viveram Eça de Queirós, António Nobre, José Régio, João José Cochofel e Miguel Torga, nos tempos de estudantes.
Embarque numa viagem no tempo e fique a conhecer uma Figueira da Foz cosmopolita marcada pelo glamour, praia, casino e jogo ao seguir o percurso “Pelos Lugares de Jorge de Sena na Figueira da Foz”. Começa na estação da CP e culmina na Esplanada Silva Guimarães, passando por alguns dos pontos referenciados pelo escritor na obra póstuma “Sinais de Fogo”.
Conheça ainda o património da Marinha Grande e os grandes nomes da literatura local e nacional graças às visitas literárias do Museu Joaquim Correia (Tel. 244573318). De participação gratuita, cada visita, com carácter itinerante, explora a vida e obra dos grandes autores, retratados pelo mestre Joaquim Correia, nomeadamente Gil Vicente, Luís de Camões, Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós, Fernando Pessoa, Afonso Lopes Vieira e Francisco Rodrigues Lobo. O texto da representação é da autoria de Susana Rodrigues, a encenação de Cristóvão Carvalheiro, a interpretação de Cristóvão Carvalheiro, Jaqueline Figueiredo, Marco Paiva e Tânia Catarino e conta com figurino e adereços da Companhia “Teatro à Solta”, sendo produzida pelo Município da Marinha Grande.
Abrantes, Constância e Sardoal, locais de inspiração de poetas como António Botto, Luís de Camões ou Gil Vicente. Este vasto território do Médio Tejo serviu de cenário à obra de ficção literária “Onde”, de José Luís Peixoto, cuja sequência narrativa é simultaneamente um roteiro turístico denominado que pode ser acompanhada ao longo de 62 estruturas colocadas ao longo da paisagem.
Se a poesia é a “sua praia”
Partir à descoberta de Miranda do Corvo guiado pelas palavras de ilustres poetas – Luís de Camões, Miguel Torga, Natália Correia, Manuel Alegre, Oswaldo Montenegro e Zeca Afonso é a proposta deste Roteiro Poético de Castelo Branco, que ainda inclui uma breve incursão pela serra da Lousã. Espalhados por vários locais do concelho, vai encontrar marcos com poemas de diversos autores, como Luís de Camões, Miguel Torga, Natália Correia, Manuel Alegre, Oswaldo Montenegro e Zeca Afonso, poemas que convidam à contemplação das paisagens. A título de exemplo passa pela Praça Luís de Camões, para conhecer os versos de “Amor é Fogo que Arde sem se ver”, depois da “Liberdade”, de Miguel Torga, precisamente na Praça da Liberdade, ou “De amor nada mais resta que um outubro”, de Natália Correia, na Praça da Cruz Branca.
Um desafio espera os visitantes de Óbidos. A partir de fragmentos de 19 poemas, dispersos por todo o território, constrói uma narrativa poética que, no final do percurso, forma um poema que poderá ser visto e lido.
Saiba mais sobre os Roteiros Literários no Centro de Portugal
Centro de Portugal... um destino e tanto é uma parceria Boa Cama Boa Mesa com o apoio do Turismo Centro de Portugal, que ao longo do ano dá a conhecer eventos, iniciativas e experiências de âmbito turístico e de lazer.
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