“Um orange wine não é mais do que um branco de curtimenta”, começa por explicar o enólogo Diogo Lopes. Em sentido lato, trata-se de um vinho branco, “mas feito ao estilo de um tinto”, acrescenta Manuel Moreira, formador, crítico de vinhos e escanção. Ou seja, ao contrário do vinho branco convencional, processo baseado na prensagem e separação das uvas das películas, no orange wine “as cascas e restantes partes sólidas do cacho permanecem em maceração (curtimenta) no sumo/mosto”, afirma o escanção. Deste processo específico de vinificação resulta “a tal tonalidade alaranjada conferida pelas antocianinas [pigmentos naturais] que estão nas películas [das uvas]”, continua Diogo Lopes.

Expresso

A produção de um orange wine pode ser feita a partir de quaisquer castas brancas. “Em bom rigor, a tradição deste tipo de vinhos em Portugal é a do Alentejo, com os vinhos de talha. Os talhas brancos são, precisamente, puros Orange Wines”, reforça Diogo Lopes. Quanto ao tempo de contacto das películas com o mosto, aquele “difere de adega para adega, consoante a ideia do enólogo e o perfil que quer para o vinho”, afirma.

Portanto, o orange wine nada tem a ver com o palhete, feito a partir da mistura de uvas tintas e brancas, “maioritariamente tintas e que normalmente ganha uma tonalidade mais rosa escuro”, adverte Diogo Lopes. A mesma ressalva faz em relação ao clarete, “feito de uvas tintas, mas com pouco contacto pelicular, resultando assim num vinho de cor aberta e muito ligeiro.

O enólogo Diogo Lopes
O enólogo Diogo Lopes Expresso

Além do tom mais alaranjado, o contacto pelicular também confere ao vinho “corpo, taninos e maior intensidade de sabor”, entre outros “atributos específicos, como adstringência, amargos, aromas indefinidos”, esclarece Manuel Moreira. Logo, não só se pode dizer que é um vinho que rima com o outono, representado pelas tonalidades laranja e acastanhadas, mas também com os pratos da estação.

Neste contexto, o escanção convida a uma viagem de harmonizações vínicas, à boleia do receituário da estação em quatro regiões do país, com o “Guisado de míscaros ou tortulhos”, do Alto Tâmega, o “Coelho bravo frito”, do Ribatejo, o “Cozido de grão com vagens à alentejana”, do Alentejo, e a “Perdiz cerejada”, do Algarve. Mas se o desafio consiste em alargar horizontes à mesa, é de salientar que a comida marroquina, indiana, asiática e os pratos de carne picantes da cozinha mexicana são uma boa companhia para o vinho branco de curtimenta.

Manuel Moreira, escanção
Manuel Moreira, escanção Expresso

Sobre as harmonizações vínicas diz respeito, Manuel Moreira elucida que a estrutura do orange wine “ajuda a equilibrar a suculência” conferida pelas proteínas ou pelos hidratos de carbono. “Por outro lado, a secura, a adstringência e a acidez [do orange wine] equilibram elementos gordurosos”. Neste caso, o escanção dá como exemplo os óleos, os queijos, a gordura intramuscular ou os confitados.

Face à presença de produtos com um teor de acidez considerado elevado, como “o tomate, o vinho, o vinagre, os cítricos, o iogurte e outros laticínios fermentados, o kimchi, a acidez do orange wine funciona como uma ponte de ligação com esses componentes”, sublinha Manuel Moreira. Em suma, um branco de curtimenta é um vinho gastronómico, isto é, “é um vinho para acompanhar a comida. Bebido a sós, pode ser algo impositivo e fatigante”, remata o escanção.

SergioFerreira2019

Sugestões para começar a descobrir os orange wines:

Alto do JOA branco
Casa do Joa (Trás-os-Montes)
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Cascawines - Hélder Cunha (Beira Interior)
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