
Depois de regressar a Santarém, de onde é natural, e de três anos dedicados ao restaurante OH! Vargas, o chef Rui Lima abriu portas do próprio restaurante, em junho de 2024. Deselegante é o nome atribuído a este espaço, onde as paredes azul-cobalto combinam com a luminosidade natural. A pequena garrafeira, exposta no lado oposto à porta de entrada, e a cozinha, totalmente aberta para a sala, indiciam o ambiente descontraído. O mesmo atributo é extensível à louça, toda desigual, ou não fosse a comida o verdadeiro centro das atenções de quem elege a mesa, ou o balcão, para saborear cada momento da refeição.
No Deselegante, Rui Lima enaltece a matriz da cozinha portuguesa, apesar das ligeiras nuances francesas e asiáticas. Segundo o chef escalabitano, estas influências “surgem consoante o meu estado de espírito”. Paralelamente, a comida depende literalmente do está disponível no mercado, dando azo a um constante exercício de criatividade no que há combinação de sabores e texturas diz respeito. Mesmo assim, “não mudo tudo todos os dias. Vamos a adaptar conforme havendo”, confessa o chef Rui Lima. Impera, portanto, a consulta diária da ardósia, disponível em substituição da convencional ementa em papel.
Os arrozes são uma grande aposta no Deselegante. O “Arroz de robalo” e o “Arroz de entrecosto” são disso exemplo. Há ainda o “Arroz de aba de vitela” (€13), prato cheio de aromas, que nos trazem à memória vivências da infância. O mesmo se pode escrever acerca da “Sopa de ossos” (€8). Apresenta trouxas de couve, que envolvem pedaços de carne milimetricamente cortados e feijão, e um caldo de “ir às lágrimas” temperado de azeite de coentros. Quem se lembra da pescadinha desse tempo? Pode ser servida com arroz de berbigão. A “Alhada de choco” (€9) é outra das propostas mais comuns a sair empratada da cozinha deste restaurante.
Independentemente do acompanhamento, há fortes probabilidades das bochechas de bacalhau e dos secretos da papada constarem na ementa do Deselegante, que, com a devida elegância, suplanta a rusticidade dos aromas de cada prato. A mesma finess inerente é sentida em cada garfada dada no “Bitoque de vitela” (€13), a qual se estende a cada momento da refeição. A começar no “pão caseiro, azeite e amêndoa torrada” (€4,50), em que o primeiro é apresentado nas marmitas de metal antigas, para iniciar o almoço ou o jantar. Na esfera dos petiscos cabe, por exemplo, o “Pica-pau com crocante de batata” (€8,50) ou o “Escabeche de coelho” (€7,50).
Preço justo e produto de qualidade estão assegurados no Deselegante (Largo Emílio Infante da Câmara, 2, Santarém. Tel. 243351118). “Sou apologista que devemos trabalhar para o mercado local. Só assim conseguimos agradar a todos”, justifica o chef Rui Lima, que, neste espaço, aberto de terça-feira a sábado, das 12h30 às 15h00, e entre as 19h00 e as 22h30, quer “romper com a formalidade clássica de certos restaurantes”. Ou não tivesse o Bica do Sapato, em Lisboa, o Arola, no Penha Longa Resort, em Cascais, bem como o comboio The Presidential, no Douro, onde, ao longo de três anos “deu boleia” a várias celebridades da cozinha de dentro e fora do país.