A localização aumenta a curiosidade. Aponta para o concelho de Sintra, mas para uma área quase desconhecida, entre a ruralidade e áreas industriais e comerciais de Rio de Mouro. É precisamente aqui que se esconde uma antiga quinta agrícola que, por sua vez, resguarda um palacete que terá sido construído poucos anos antes do terramoto de 1755. Este imenso espaço, quase secreto, é agora propriedade de Franco Bordoni e Nicolás Lehmann, que se mudaram para Portugal após a pandemia e estão a criar neste local um “projeto de turismo de alta qualidade”, que vai integrar diversos conceitos, em distintas fases, como o restaurante de fine dining 1743 Palácio Fonte Nova e o bar já abertos e uma estrutura hoteleira de charme. O espaço é também usado para eventos variados, com destaque para casamentos, existindo até uma ligação com a área catering do Penha Longa Resort.
Um refinado restaurante italiano
Com mais de 50 anos de carreira, Joachim Koerper dispensa apresentações. É chef e sócio do clássico Eleven, em Lisboa, que ostenta uma Estrela Michelin e celebra duas décadas de portas abertas no final de 2024. Menos conhecida, mas de simpatia contagiante, a mulher, Cíntia, é mestre na arte da pastelaria. Os dois são consultores deste novo projeto: 1743 Palácio Fonte Nova, o elegante restaurante que oferece uma interpretação de autor da gastronomia tradicional italiana, que aproveita para proveito dos comensais, também os bons produtos portugueses, preferencialmente de origem biológica
Com uma esplanada tentadora, um al fresco convidativo que fará certamente furor com o regresso da primavera, o 1743 Palácio Fonte Nova, discretamente inaugurado em julho, espalha-se em diversas salas no piso térreo do edifício, com muitas peças decorativas, que remetem para dias de esplendor de outras épocas. A sensação é de estar num requintado palacete. E, na verdade, é esse o espaço onde o casal Koerper se propõe apresentar “uma experiência gastronómica de alta cozinha italiana”. Cíntia e Joachim dizem-se inspirados nas viagens regulares a Itália, onde fazem férias anualmente, nas amizades e nas ligações profissionais e académicas à cozinha italiana. É, assim, neste “recanto único do charme italiano” que o chef revisita “a culinária transalpina tradicional com uma leitura moderna e criativa, baseada na originalidade dos sabores e nas técnicas sofisticadas”.
Há um assinalável cuidado nos produtos trabalhados na cozinha, como o tomate, importado diretamente de Itália ou as massas secas, provenientes de uma fábrica artesanal. A estes, juntam-se os ingredientes nacionais e, talvez, o símbolo de esta fusão seja o prato “Bacalá, bacalá, bacalá” (€32), em que o bacalhau se apresenta em três confeções: gratinado com mousse de alho, em “corquetta” (frito), e em “carbonara a la brás” que surge da fusão do spaghetti alla carbonara com o bacalhau à Brás.
Antes, nas entradas, Joachim Koerper dá corpo à paixão pelo tomate – que no Eleven é sinal de assinatura –, com “Instinto Naturale” (€12), uma composição de alfaces bio, cenoura, cebola roxa, tomate, Parmesão e batata, que pode ter um extra carnal com o enchido italiano “Culatello di Zibello”, e com “La Caprese 1743” (€18), em que as variedades de tomate bio, se juntam ao manjericão, mozzarella e burratta. Com variações sazonais, a secção de “Antipasti” integra ainda “Atum Tonato” (€21), em que o molho vitello tonato aqui eleva a própria carne do tunídeo dos Açores e equilibra a anchova e as alcaparras. Conte ainda com “Tártaro de vitela Fasona com arroz souflado e foie gras” (€22). Outras opções, que comprovam o requinte da oferta são “Escalope de foie gras com enguia e maçã caramelizada” (€27) e “Spaghettoni a la carbonara com caviar ‘Oscietra Imperial’” (€59), sugerido como “uma experiência sensorial”.
Leitão crocante com polenta
Nos principais, perfumam a mesa o “Risotto a Milanesa gratinado e Folha de ouro” (€25) e, mais ainda o “Risotto com pesto de manjericão, carabineiro e emulsão de tomate (€33). Nas massas, as opções revelam cuidados na preparação e nos ingredientes: “Talharinni com alho, peperoncino e camarão da nossa costa” (€25); e ainda o fumado (graças ao carvão) “Bucatini Cacio e Pepe ‘dalla brace’ com queijo Parmiggiano de 36 meses e Pecorino romano” (€17). A ementa sugere ainda pratos de “confeção complexa” como “Nossa Mille Follie” (€19) e “Parpadelle ‘Fonte Nova’ com ragoût toscano e funghi porcini” (€24).
Já nos “Secondi Piatti”, além do já emblemático e referido “Bacalá, bacalá, bacalá”, destaca-se a perfeição da “Barriga de leitão, com parmigiano, nuezes, salvia, funghi porcini e polenta cremosa" (€28), que tem sido dos mais pedidos da ementa, e “Filete de salmonete com talharim e molho de crustáceos" (€32).
Sobremesas e vinhos italianos
Nas sobremesas, Cíntia Koerper apura o receituário italiano, com abordagens regionais, a clássicos como “Panna Cotta 1743” (€11), de buganvília – bastante presente na quinta - com texturas de framboesas, “Nosso Tiramissu” (€11) e “Limoncelo” (€12). A carta de vinhos do restaurante 1743 Palácio Fonte Nova dá a conhecer dezenas de referências com origem em Itália, entre pequenos produtores amigos do chef Koerper e clássicos Barolo, Amarone, Chianti ou Brunello.
Com parque privado e aberto diariamente, ao almoço e ao jantar, com descanso à segunda-feira e domingo à noite, o restaurante 1743 Palácio Fonte Nova (Rua Álvaro Augusto Rodrigues Vilela, Rio de Mouro. Tel. 927932859) dispõe de dois menus de degustação (a partir de €125), que podem ser servidos com harmonização vínica.
