As autoridades de Macau e de França assinaram hoje, na região semiautónoma chinesa, um acordo para a criação de um programa conjunto de investigação científica.

"Apenas os repórteres de jornais diários e semanais, as estações de TV, as rádios e as agências de notícias são convidados a entrevistar", sublinhou uma nota do Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia (FDCT).

No entanto, após a cerimónia de assinatura do acordo, presidida pelo secretário para a Economia e Finanças, Anton Tai Kin Ip, os jornalistas presentes não tiveram direito a fazer perguntas.

A Lusa perguntou tanto ao FDCT como ao gabinete de comunicação social do Governo de Macau quais as razões para a exclusão da imprensa 'online' e mensal da cerimónia, mas não recebeu até ao momento qualquer resposta.

Em 17 de abril, duas jornalistas do All About Macau foram detidas pela polícia quando tentavam entrar no salão do parlamento local para assistir à apresentação do programa político na área da Administração e Justiça para 2025.

Na terça-feira, a Assembleia Legislativa indicou que "permitiu que os jornalistas que não tinham conseguido acesso à sala do plenário (...), pudessem assistir à transmissão em direto" numa outra sala.

No primeiro comentário público ao incidente, o parlamento alegou que houve uma "grande afluência" de jornalistas e que "o espaço para entrevistas, bem como os lugares disponíveis na sala do plenário são limitados".

Uma justificação que já tinha sido rejeitada, logo em 17 de abril, pelo All About Macau, uma vez que "aparentemente, ainda havia lugares vagos" para a comunicação social no salão principal.

Na terça-feira, o jornal acusou a Assembleia Legislativa de impedir "repetidamente os jornalistas do All About Macau de realizarem o seu trabalho normal de reportagem sob falsos pretextos".

Também a Associação de Jornalistas de Macau (AJM) declarou que "lamenta profundamente" a detenção das repórteres, incluindo a presidente desta organização, Ian Sio Tou.

Este grupo de jornalistas chineses já tinha expressado anteriormente preocupação com o aumento de eventos oficiais sem cobertura da comunicação social e de "práticas discriminatórias" para com o setor.

"A situação inédita ocorrida é triste e preocupa-nos, pois consideramos que abre um precedente -- no mínimo -- constrangedor", reagiu também à Lusa o presidente da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM).

José Miguel Encarnação pediu ao Ministério Público "que haja ponderação na avaliação dos factos, por forma a que não haja consequências de maior".

A Sociedade de Jornalistas e Profissionais da Comunicação Europeus na Ásia (JOCPA) disse à Lusa que Portugal deveria ter feito "um gesto discreto ou uma expressão de preocupação" face à detenção das jornalistas.

"Consideramos o silêncio de Portugal preocupante, dados os seus profundos laços históricos e culturais com Macau", lamentou o presidente da JOCPA, Josep Solano.

Macau, que esteve sob controlo português durante mais de 400 anos, passou em 1999 para a administração chinesa, sob um acordo que previa que a região deveria manter os direitos e liberdades fundamentais, incluindo a liberdade de imprensa, durante os primeiros 50 anos.

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