30 de Outubro de 2024 Cheias torrenciais atingem Valência, provocando até à data mais de 200 mortos. Os corpos ainda estão a ser contados e cerca de 2000 pessoas estão desaparecidas, enquanto a população se prepara para novas cheias no Estado Espanhol.
Final de setembro de 2024 O governo do Nepal relata 224 mortos e milhares de casas destruídas por causa de cheias.
27 de setembro de 2024 Furacão Helene atinge o Sudoeste dos Estados Unidos, matando pelo menos 234 pessoas.
14 de setembro de 2024 Início de incêndios em Portugal continental que provocam 9 mortes, 135 mil hectares de área ardida e dezenas de casas destruídas.
Verão de 2024 O mais quente desde que há registo.
Junho de 2024 Pelo menos 1300 pessoas morrem na Arábia Saudita por causa de uma onda de calor.
Abril de 2024 Cheias em Rio Grande do Sul, no Brasil, mataram pelo menos 183 pessoas e causaram 442 mil deslocados.
Estes momentos são apenas uma seleção de todos os eventos catastróficos que vimos nos últimos meses. Esta seleção está muito aquém de conseguir descrever a maior crise que a humanidade alguma vez enfrentou: Quantos corpos há por contar? Quantas casas há por reconstruir? Quantas famílias ficaram destruídas? Quantos ainda estão desalojados, sem água potável e saneamento básico? Quantos agricultores perderam as suas colheitas? Quantas pessoas adoeceram ou morreram mais tarde com leptospirose, tétano, cólera ou hepatite A? Como será o mundo daqui a 10 anos se continuarmos no mesmo caminho?
Em todos estes momentos sem precedentes e cada vez mais frequentes, mensagens de “choque”, condolências e de solidariedade dos governantes de todo o mundo. Eles estão-nos a matar, e depois declaram luto:
Outubro de 2024 É lançado o relatório internacional do “estado do clima” onde cientistas alertam que “estamos à beira de um desastre climático irreversível.” O mesmo relatório mostra que as emissões de gases de efeito de estufa – causa da crise climática – atingiram um novo recorde em 2023.
Também em outubro deste ano, os partidos de Portugal estiveram a negociar o Orçamento de Estado para 2025 em que a crise climática ficou à porta, tal como nas eleições legislativas de março de 2024.
Em novembro deste ano, decorrerá a 29ª conferência das nações unidas sobre as alterações climáticas. Em quase 30 anos de negociações entre os governos de todo o mundo, com décadas de conhecimento sobre a existência da crise climática, os governos conseguiram fazer com que 2023 tivesse sido o ano mais quente e com mais emissões de gases de efeito de estufa de sempre. Eles sabem o que estão a fazer há décadas e continuam a pregar a fundo no acelerador rumo ao inferno climático.
As imagens devastadoras que nos chegaram ontem de Valência não são apenas uma tragédia, são o resultado das escolhas premeditadas dos governos e empresas de todo o mundo de continuarem a lucrar à custa da destruição das nossas vidas. Eles declararam guerra à sociedade e ao planeta, todos os dias decidem reiterar os seus ataques à vida ao recusar-se a cortar emissões e planeando novos projetos emissores, e depois lamentam as mortes que provocaram como se tratasse de um acaso.
Mas, e nós, que enquanto vimos as imagens devastadoras de Valência, vimos no mesmo dia mais um Orçamento de Estado que não coloca a nossa sobrevivência no centro a ser votado pelo atual governo? E nós, que na noite anterior às cheias em Valência fomos dormir, sabendo que a Galp — uma das empresas mais responsáveis em Portugal pela crise climática — teve novamente lucros extraordinários, e no dia seguinte acordámos a ver as declarações do nosso governo a lamentar os resultados catastróficos do abismo para o qual estão a levar a humanidade? Do que é que estamos à espera para impedir a destruição de tudo o que é mais importante para nós?
Já perdemos muito à custa dos governos e empresas que decidiram trazer-nos a este ponto. Vamos perder muito mais. Vamos ver e viver cada vez mais momentos sem precedentes, mas ainda vamos a tempo de impedir os cenários mais catastróficos da crise climática e que esta se torne incontrolável. Só nós, as que não escolheram esta crise mas a quem a vida está a ser ameaçada e o futuro roubado, podemos parar o rumo ao inferno climático para o qual nos estão a dirigir e mudar o rumo da história antes que seja tarde demais.
Novembro de 2024: Vamos continuar a deixar quem está no poder continuar a condenar a humanidade, ou vamos parar o rumo ao colapso social e climático enquanto podemos, entrando em resistência climática e marcando o ponto de viragem na história que irá ser contada sobre nós?