Mulheres, às Armas! tem estreia marcada para dia 11 de abril, na TVI. Com um argumento pensado, escrito e realizado exclusivamente por mulheres, esta produção surge como um projeto inovador na ficção nacional. A ideia original pertence a Cristina Ferreira, que não esconde o orgulho dias antes da estreia.

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O trabalho ficou incrível. Tudo isto sempre foi construído na minha cabeça ao longo da minha infância e da minha adolescência. As minhas memórias eram muito presentes, porque o homem que foi à guerra da família foi o meu pai. E desde sempre que a história que me foi contada foi a da minha avó ter usado luto desde o dia em que ele foi embora. Ele era o filho mais novo, foi o único que foi à guerra. No dia em que ele foi embora, a minha mãe ainda era só namorada dele. E ela foi buscá-la para viver com ela, para as duas juntas viverem a ausência do meu pai. E isto foi-me contado vezes sem conta”, revela a apresentadora da TVI.

“Não é a história dos que foram, é a história das que ficaram cá”

Desde miúda, habituei-me às cartas que a minha mãe lhe escrevia. Um dia, encontrei-as e fui ler tudinho. Para além disso, o meu pai tem uma memória muito feliz da guerra. Infelizmente, nem toda a gente tem, mas ele era mecânico e não foi para a frente de combate. Mas mesmo as fotografias todas que estavam lá, ao lado das cartas, eram fotografias felizes. E, portanto, aquilo que eu quero passar aqui é alguma dor, porque ela existiu, mas, acima de tudo, as emoções”, explica. “E foi sempre o que eu disse, eu não quero os factos históricos. Já toda a gente conhece, já toda a gente sabe o que aconteceu. Não é a história dos que foram, é a história das que ficaram cá. Eu quero que se viva os sentimentos de quem ficou cá. Da dor da carta que nunca mais chega, da luta que se começou a travar, porque se começou a perceber. Há mulheres que ficaram elas como a única mulher de família a cuidar de toda a gente. Começou-se a perceber que, se calhar, tinham de ganhar tanto como os homens. E as pessoas vão ver muito dessa luta na série. As gerações mais velhas vão reconhecer tudo o que ali está. As mais novas, se calhar, vão perceber aquilo que realmente se viveu, porque acho que é através da emoção e do sentimento que conseguimos passar isso.

Cristina Ferreira sublinha que atualmente “fala-se tanto de liberdade, mas acima de tudo, hoje em dia, estamos a perder a liberdade de pensamento. Isso, para mim, é dramático”.

De seguida, a diretora de Entretenimento e Ficção da TVI abriu o coração e falou sobre as vivências da sua família. “A minha mãe escrevia todos os dias para o meu pai. E havia momentos em que as cartas não chegavam. E agora imaginem não saber de nada de uma pessoa, que forçadamente está na guerra durante dias. Como é que se vivia? Nós hoje não temos perceção, porque pegamos num telemóvel e falamos com alguém que está do outro lado do Mundo. Portanto, os amores que se criaram nesta fase, os meus pais estão juntos há 50 anos, eu acho que são inquebráveis. E, portanto, tenho muita pena que hoje em dia, se calhar, não se escrevam essas cartas. Porque falavam aquilo que hoje nós não falamos uns com os outros. E era um amor mais residente. Falavam de coisas simples do dia-a-dia. Era uma partilha. Aquilo que as pessoas faziam era partilhar o que cada um estava a viver. Quando casaram, sabiam tudo um do outro. E isso é incrível de perceber.” Com a situação mundial que se vive atualmente, não esconde a sua preocupação. “Às vezes passa-me pela cabeça. Se o meu filho fosse para a guerra, como é que eu, enquanto mãe, reagiria? E acho que não deve haver dor maior do que essa.

Apesar de a família ter sido a sua grande inspiração para esta série, a verdade é que Cristina Ferreira ainda não contou nada aos seus pais. “Eu não falei com eles ainda sobre isto. Eu não falo muito de trabalho com os meus pais. Não falo nunca. Mas eu gosto muito, nestas coisas, de os surpreender. E quero muito que eles vejam, sem eu ter falado nada”, revela. “No dia em que se sentarem, saberão que aquela não é a história deles, mas é semelhante, e eu acho que isso pode ser muito bonito. É deles e é da família inteira, porque a família foi toda recebê-lo quando ele chegou.”

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Texto: Neuza Silva (neuza.silva@impala.pt); Fotos: Zito Colaço