Nick Cave defendeu o seu gosto pela música de Kanye West, após as publicações antissemitas feitas pelo rapper no X.

Através do website “Red Hand Files”, Cave respondeu a um fã que o questionou sobre a sua vontade de ter ‘I Am A God’, de Kanye, tocada no seu próprio funeral. “Como é que consegues ouvir a música sem ver o lixo de ser humano em que ele se tornou”, escreveu esse mesmo fã.

O australiano começou por explicar que não defende as posições públicas de Kanye: “Já muita energia se despendeu a falar sobre a maldade que é o nazismo, os danos causados pelo antissemitismo, porque é que é errado vender t-shirts com cruzes suásticas e porque é que é inaceitável levar a nossa namorada a posar nua no tapete vermelho dos Grammys. Parece-me que, no que a esse assunto diz respeito, temos pontos de vista em comum”, escreveu.

Cave explicou ainda que não acredita na separação entre arte e artista, ideia que diz ser “absurda”. “Um artista está fundamentalmente interligado com a sua arte; a arte é a essência do artista. A obra do artista diz: ‘Este sou eu, estou aqui, é isto que sou’. O grande dom da arte é o potencial dado ao artista para escavar o seu caos interior e transformá-lo em algo sublime. É isso que o Kanye faz e é isso o que tento fazer".

“Os artistas não são prisioneiros da sua natureza falível”, continuou, “mas podem transcendê-la. O Kanye é exemplo disso, dançando entre o pecado, a transcendência e o génio”.

Salientando que as posições de Kanye são “odiosas e desapontantes”, Cave diz querer “procurar a beleza onde quer que ela esteja”. “Nisso, sinto-me relutante em invalidar os melhores de nós numa tentativa de punir os piores. Não creio que nos possamos dar a esse luxo”, concluiu.

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