Pedro Nuno Santos falou aos jornalistas nos passos perdidos do parlamento já depois de o primeiro-ministro, Luís Montenegro, ter anunciado a convocação de um Conselho de Ministros extraordinário para sábado e uma comunicação ao país sobre decisões pessoais e políticas acerca da empresa detida atualmente pela sua mulher e os seus filhos.

Segundo o líder do PS, a notícia de hoje do semanário Expresso "é grave" e confirma que o PS "tinha razão quando fez sistemáticos apelos" para que Luís Montenegro desse todas as explicações.

"Os portugueses merecem ter confiança nos seus políticos e no seu primeiro-ministro e essa confiança tem quer ser restabelecida porque neste momento não existe", defendeu, considerando que é responsabilidade de Luís Montenegro restabelecer essa confiança.

Para Pedro Nuno Santos, é fundamental que não fique qualquer dúvida ou qualquer suspeita sobre o primeiro-ministro, porque é preciso haver "a certeza que o senhor primeiro-ministro não ficou a dever favor a ninguém".

O líder do PS desafiou o chefe do executivo a responder às três perguntas que já tinha feito há uma semana no debate da moção de censura, e que ficaram sem resposta, e acrescentou uma quarta.

"O que acontece é que para todos nós o senhor primeiro-ministro era apenas um advogado, descobrimos entretanto que o senhor primeiro-ministro também era empresário. É fundamental que sejam dadas todas as explicações", apelou.

O grupo de casinos e hotéis Solverde, sediado em Espinho, revelou ao semanário Expresso que paga à empresa detida pela mulher e os filhos do primeiro-ministro, Spinumviva, uma avença mensal de 4500 euros desde julho de 2021, por "serviços especializados de 'compliance' e definição de procedimentos no domínio da proteção de dados pessoais".

O acordo entre a Spinumviva e a Solverde foi assinado seis meses após a constituição da empresa agora detida pela mulher e os filhos de Montenegro, em Julho de 2021.

De acordo com o Expresso, Luís Montenegro trabalhou para a Solverde entre 2018 e 2022, representando o grupo nas negociações com o Estado que resultaram numa prorrogação do contrato de concessão dos casinos de Espinho e do Algarve.

Esse contrato de concessão chega ao fim em dezembro deste ano e haverá uma nova negociação com o Estado, acrescenta o semanário.

No debate da moção de censura ao Governo, no parlamento, há uma semana, o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, questionou o primeiro-ministro sobre a sua relação com o grupo Solverde.

Montenegro respondeu que "não é preciso qualquer conflito de interesses que possa dimanar de uma relação profissional ou contratual" e que, sendo "amigo pessoal dos acionistas dessa empresa", impor-se-á "inibição total de intervir em qualquer decisão" que respeite aquela empresa ou a outras com que "estiver ligado por relações familiares, de amizade ou razões profissionais".

O gabinete do primeiro-ministro acrescentou ao Expresso: "Como sempre, e como acontece com qualquer outro membro do Governo, o primeiro-ministro pedirá escusa de intervenção em todos os processos em que ocorra conflito de interesses."

 

 

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