A cimeira da Confederação do Turismo de Portugal (CTP) que terminou esta sexta-feira em Mafra foi marcada pela promessa do primeiro-ministro, Luis Montenegro, em “fazer um esforço de aproximação ao Partido Socialista” com vista a viabilizar o Orçamento do Estado para 2025.
Montenegro chegou à conferência da CTP em Mafra após ter estado reunido uma hora e meia em Lisboa com Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS, o principal partido da oposição, que garantiu não dar aval ao OE do proximo ano com as alterações fiscais previstas pelo Governo em matéria de IRS e IRC.
“A proposta do PS é radical e inflexível, na prática significa substituir o programa do Governo pelo do PS”, enfatizou Luis Montenegro em Mafra, adiantando que “a bem do país” irá entregar “uma contra-proposta ao PS na próxima semana, numa tentativa de aproximação de posições”.
“Todos temos de ceder, e colocar o interesse nacional à frente de quaisquer outros interesses”, reconheceu Montenegro, frisando que “a aprovação do OE é importante”, mas será “um processo difícil”. E realçou que “em democracia há uma contradição, quando quem quer governar é a oposição”.
“O desagravamento fiscal é uma pedra angular da nossa política económica. Não penso no IRC para criar receita, mas para que as empresas possam investir mais e pagar melhores salários”, destacou ainda o primeiro-ministro, em declarações que foram fortemente aplaudidas pela plateia de agentes turísticos.
Receitas do turismo crescem em 2024 para valores previstos em 2027
Na cimeira do turismo em Mafra, ficou expresso que Portugal mais do que bater novos recordes no turismo em 2024, irá até ultrapassar os resultados previstos para os próximos três anos.
“Este ano atingiremos, no mínimo, 27 mil milhões de euros de receitas turísticas”, adiantou Carlos Abade, presidente do Turismo de Portugal, na conferência da CTP, assinalando o Dia Mundial do Turismo, que internacionalmente se celebra a 27 de setembro.
“Estamos a crescer 11% em receita, e a atingir metas que estavam estabelecidas para 2027”, explicitou Carlos Abade. Recorde-se que, em 2023, as receitas turísticas apuradas pelo Banco de Portugal foram de 25,1 milhões de euros.
O presidente do Turismo de Portugal avançou ainda que está em construção um novo plano estratégico para o turismo, com um horizonte temporal até 2035, e que começa a ser apresentado pelo Governo a 3 de outubro em Lisboa. Ao todo, haverá sete audições públicas que irão decorrer “em todas as regiões do país, incluindo Madeira e Açores”.
O plano com as metas para o turismo até 2035 deverá ficar concluído já este ano, sendo uma das medidas estratégicas contempladas no programa Acelerar Economia.
Em relação a dormidas, foram avançadas previsões de crescimento de 2% em 2024 pelo presidente da CTP, Francisco Calheiros, em cima dos números recorde de 2023, em que o país atingiu 77 milhões de dormidas.
“Os empresários desejam que haja um Orçamento para 2025 aprovado, porque o que menos queremos é novas eleições, instabilidade política ou um país a viver em duodécimos”, sublinhou também Francisco Calheiros.
Sobre o novo aeroporto, o presidente da CTP apelou para que “se construa, sem mais atrasos”, e em relação à privatização da TAP defendeu que quem ficar com a companhia “deve garantir o hub e as rotas de ligação àos países da diáspora e às ilhas”.
Luis Montenegro realçou que “para além dos países da diáspora há outras rotas fundamentais para o futuro do turismo e do país”, designadamente dos Estados Unidos, frisando haver ainda “muito mercado a desenvolver por lá”. Em relação à venda da TAP assegurou que “jamais se irá acabar com o hub, ou rotas que são estratégicas para o país”.
“Já basta o tempo perdido nos últimos anos com hesitações e adiamentos”, salientou o primeiro-ministro ao encerrar a conferência do turismo, deixando a mensagem “de esperança” neste"grande sector da atividade económica" e no seu crescimento nos próximos anos.
Ao longo do dia, a conferência, sob o tema “Turismo é Valor”, contou com uma série de intervenções. “O turismo é um ativo enorme da economia portuguesa, e mostra resultados”, destacou Pedro Reis, ministro da Economia, frisando que “não é possível construir uma política de qualificação para o sector sem o oxigénio trazido pelas rotas aéreas”.
Aeroporto já com 19 voos semanais para EUA e 15 para o Brasil “não pode crescer mais”
Sobre a necessidade urgente de um novo aeroporto, o presidente do conselho de administração da ANA, José Luís Arnaut, frisou que “estamos a meter água dentro da fervura, não podemos crescer mais em número de voos no atual aeroporto de Lisboa”, lembrou que de momento “temos 19 voos semanais para os Estados Unidos e 15 para o Brasil”, e concluiu que "não há sistema de aviação sem a TAP
Luís Rodrigues, presidente do conselho de administração da TAP, assumiu estar “encantado” com a perspetiva de poder avançar em Portugal o desenvolvimento do transporte ferroviário de alta velocidade, garantindo que tal não cria à companhia aérea “nenhum problema, antes pelo contrário”.
“Estamos a falar de um horizonte entre cinco a dez anos, e acreditando que a ferrovia se vai desenvolver primeiro que o aeroporto", referiu Luís Rodrigues, salientando que a integração da ferrovia com o transporte aéreo "vai-nos permitir libertar rotas mais curtas, e vender por exemplo cidades como Coimbra ou Elvas, na Alemanha conseguimos vender um bilhete único com o transporte integrado, mas em Portugal não”.
“Não se pode exigir que as companhias aéreas mudem para combustíveis limpos, quando esses combustíveis não existem, ou custam três vezes mais, pois uma tonelada de fuel custa 1000 euros, e uma tonelada de SAF 3000”, reiterou o presidente da ANA.
Emprego no sector subiu 65% desde 2015, realça Centeno
O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, destacou na conferência do turismo em Mafra que o emprego no sector de alojamento e restauração subiu 65% desde 2015, chegando em 2024 a 33.2 mil postos de trabalho.
“É um número extraordinário”, considerou Centeno, lembrando que o crescimento do emprego no turismo compara com taxas de 16% no resto da economia - a par do facto da capacidade do sector em pagamento de salários ter aumentado 46% desde 2015.
E no geral “o emprego cresceu em mais um milhão de postos de trabalho nos últimos sete anos, nunca o emprego no país cresceu desta maneira”, enfatizou o governador do Banco de Portugal.
Frisando que “as migrações fazem hoje parte do nosso dia-a-dia, e não podemos dissociar o crescimento económico em Portugal dos fenómenos migratórios”, Mário Centeno realçou que “quatro em cada dez empregos contratados em 2023 foram ocupados por imigrantes”, e isto apesar de “o número de empregos ocupados por portugueses não ter diminuido”.
Contra o discurso do ‘excesso de turistas’
Face ao discurso que começa a ser crescente junto da sociedade sobre o excesso de turistas, Francisco Calheiros sustentou aos jornalistas, à margem da conferência, que “não temos turismo a mais, temos é economia a menos e gestão de território a menos".
O presidente da CTP pôs a tónica na importância que o sector assume sector para a economia. “Há três anos tivémos o turismo parado com a pandemia, fizémos tudo para que pudesse renascer, e não queremos voltar atrás”. E realçou os contrasensos do discurso de “quem quer fazer da nossa atividade o mau da fita, e somos crticados por ter turismo a mais, ou por a atividade estar a diminuir”.
“O turismo é que safa isto”, salientou Paulo Portas, ex-vice-primeiro-ministro, e ex-ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, sublinhando que não faz sentido “sermos hostis a quem nos visita”.
Paulo Portas destacou ainda que o discurso contra turistas surge de momento também associado ao discurso anti-imigrantes, e chamou a atenção para a “bulimia económica que aconteceria com o turismo, a restauração ou a agricultura sem uma parcela regulada de migrações”. E questionou: “sem imigrantes, quem é que vai trabalhar?”.
Sobre “o tema da massificação”, o ministro da Economia, Pedro Reis, lembrou que “não se pára o vento com as mãos”, e que o principal “desafio é como nós nos gerimos”.
Realçando o potencial que existe ao nível do turismo no interior e redistribuição dos fluxos de procura, o ministro da Economia enfatizou ainda que “a qualificação é a única chave que existe para responder a este desafio da massificação”.