Estas foram duas das principais ideias presentes no discurso de Jorge Cordeiro, membro da Comissão Política e do Secretariado, no terceiro e último dia do Congresso Nacional do PCP, em Almada.
Sem especificar quem relativiza no presente as dificuldades do partido perante a chamada "ofensiva ideológica", enquadrando-a nas lutas travadas ao longo de mais de cem anos de História, Jorge Cordeiro considerou que a "intensidade" dessa ofensiva é incomparável com o passado.
Jorge Cordeiro começou por conceder que a atual "ofensiva" contra o PCP "não é de hoje, que sempre houve e haverá", mas advertiu que, "sem desprezo por outras expressões de condicionamento ideológico existiram em períodos anteriores, desvalorizar a sua intensidade nos tempos presentes só serve para desarmar o partido e absolver o ódio anticomunista que preenche o espaço mediático".
"Fazê-lo seria ignorar o enorme desenvolvimento dos instrumentos de dominação, seria ignorar a massificação da desinformação e dos meios de propagação, da falsificação, da deturpação, da mentira hoje erigidos a critérios de comunicação, seria ignorar essa imensa concentração de centros de produção ideológica que invadem todos os planos da vida em sociedade, seja à escala nacional ou à escala internacional", sustentou.
Ainda de acordo com o membro da Comissão Política e do Secretariado do PCP, embora "correndo o risco que as simplificações comportam, talvez se possa afirmar que antes a produção da ideologia burguesa saía das elites para as massas, mas hoje invade as massas pelo arsenal de meios que passou a dispor e a fazer uso".
"Essa ofensiva que tem como alvo privilegiado o PCP, ofensiva que se caracteriza pela mobilização de meios a que recorre, pela persistência e intensidade que assume, pelas continuadas campanhas em que se suporta", acentuou.
Outra nota do discurso de Jorge Cordeiro foi sobre os recentes resultados eleitorais do PCP, ponto em que procurou assegurar que não se "desvaloriza a necessidade de identificar insuficiências, avaliar o que se pode e deve aperfeiçoar".
"A influência do partido é um todo social, ideológico e eleitoral, expressa-se, mais ou menos, de acordo com as condições objetivas e subjetivas de cada momento. Não é mensurável pela estrita observação de uma única das suas expressões", disse.
A seguir, concluiu: "A expressão eleitoral é uma dessas expressões, talvez a mais notória, não subestimável, mas não a mais determinante".
Contrapôs que "é na batalha pela construção da influência geral do partido, da sua dimensão social, que se decide do papel e a ação a que é chamado a assumir".
"A influência do partido não é separável dessa intervenção, que reúne objetivos imediatos de luta e a afirmação do projeto de emancipação e transformação social. Mas uma influência que também não é separável da situação de avanço ou refluxo do processo político, das alterações da composição e estrutura social, dos meios de dominação ideológica que moldam consciências e posicionamentos. Uma influência condicionada pela ofensiva ideológica que enfrentamos", acrescentou.
Antes, João Dias, antigo deputado do PCP e candidato da CDU à Câmara de Serpa nas próximas eleições autárquicas, criticou a política agrícola no Alentejo, afirmando que os sucessivos Governo têm imposto medidas que "arrasam milhares de explorações agrícolas".
João Dias disse ainda não ser possível "continuar a ignorar ou ocultar a bárbara exploração a que os trabalhadores agrícolas e imigrantes são sujeitos" que revelam, acrescentou, "as desumanas fundações em que assenta o sucesso do agronegócio".
"A verdade é que estas explorações em regime superintensivo nem reduziram o desemprego, nem promoveram o povoamento, antes favoreceram a proliferação da precariedade e dos baixos salários", lamentou, para depois reafirmar a reforma agrária como um "projeto de futuro" que não pode ser esquecido como parte do desenvolvimento do Alentejo.
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