
O dia de Taís Pina nos Europeus de judo, em Podgorica, pode ser dividido em dois. Uma manhã quase irrepreensível, onde uma primeira medalha continental para a nova cara do judo português parecia cada vez mais próxima, e uma tarde em que a atleta de 20 anos se deixou surpreender por alguém ainda mais imberbe que ela.
Depois de chegar às meias-finais com alguma facilidade, a judoca do Sport Algés e Dafundo, que no ano passado surpreendeu com vitórias no Grand Slam de Astana e um 5.º lugar no sempre fortíssimo Grand Slam de Paris, que lhe abriram as portas para a estreia olímpica, acabou por cair para o combate da medalha de bronze. Aí, a juventude da número 16 mundial não significava não ser favorita, porque do outro lado estava a 149 do mundo, a sérvia Aleksandra Andric, ilustre desconhecida de 17 anos, mas com o apoio do público na capital do Montenegro.
Com a almofada de confiança que a vitória frente à líder do sorteio, a croata Lara Cvjetko, nos quartos de final, Pina começou bem, ao ataque, e cedo a sua adversária ficou tapada por shidos. Mas o que seria uma vantagem teórica para a portuguesa tornou-se gasolina para a Andric, que virou o ascendente do combate quando se viu encurralada. Sem reagir, a passividade seria agora tónica para Taís Pina, que recebeu também dois castigos enquanto o combate se dirigia para o golden score. Aí, apesar da olímpica portuguesa tentar alguns ataques, novo castigo tirou a Taís a hipótese de medalha. O desespero da atleta nacional, de cara afundada nas mãos logo após a decisão da juíza, é sinónimo de oportunidade perdida, de frustração.
Mas Taís Pina, que em Paris 2024 se tornou na judoca portuguesa mais nova de sempre a participar nuns Jogos Olímpicos desde Telma Monteiro, sairá do Montenegro com a certeza que pode caminhar para a elite, ela que começou a praticar judo aos 8 anos, apesar de, na altura, até gostar mais de voleibol.
A estudante de Gestão de Recursos Humanos quase sempre conseguiu colocar em prática os seus estudos no tatami, controlando bem os combates até às duas últimas aparições.
Isenta na 1.ª ronda, Taís Pina começou o trilho até à luta pela medalha frente à israelita Adelina Novitzki, 64.ª do ranking, que bateu com uma projeção, seguida de imobilização, que acabou em ippon. Logo na apresentação, a jovem portuguesa disse ao que vinha, com um judo de ataque, pressão, sem temor pelos adversários.
No segundo combate, a polaca Aleksandra Kowalewska, também de 20 anos e 75.ª no ranking, deu de beber a Taís o seu veneno: o combate foi frenético, de grande qualidade, com ataques de parte a parte. Nos momentos de maior superioridade da adversária, a olímpica em Paris defendeu-se de forma brilhante, nunca se deixando surpreender e levando a contenda para o golden score. Com o cansaço a acumular-se, Pina aplicou novo ippon, já com três minutos dentro do prolongamento.
O acesso às meias-finais deu-se frente à atual número dois do ranking mundial, Lara Cvjetko, a mais bem cotada na competição dos -70kg, com um waza-ari ainda dentro dos primeiros 30 segundos de combate, que surpreendeu uma das favoritas ao ouro, que Tais já tinha batido em 2024 na final do Grand Slam de Astana.
Frente a Szofi Ozbas, com a final à distância apenas de um combate, foi Taís desta vez a surpreendida, com a húngara, 26 do Mundo, a aplicar, ainda nos momentos iniciais do combate, uma imobilização da qual a portuguesa não conseguiu escapar, perdendo por ippon.
O treinador Marco Morais bem lhe pediu para “respirar fundo”, que ainda faltava “mais um combate”. E Taís esteve perto. Faltou manter a intensidade ao longo daqueles sempre nervosos quatro minutos de duelo.