Os recordes são como quase as bruxas. Podemos não lhes ligar muito, mas que eles existem, existem. Importante para este Sporting, quase decisivo, era ganhar a este sensacional Santa Clara (4.º classificado após um terço de Liga) para afastar fantasmas que apareceram após a goleada sofrida frente ao Arsenal. Ao mesmo tempo, vencendo, os leões deixavam FC Porto a nove pontos (menos um jogo) e Benfica a 11 (menos dois).

Depois, sim, poderiam pensar nos recordes. E os leões tinham este sábado dois em mente: o de melhor entrada num campeonato e o de maior série de jogos sem perder para a Liga. Ambos estavam na mão de João Pereira e dos seus jogadores. Bastava um triunfo, por magrinho que fosse, e caía o primeiro que fora estabelecido em 1990 e revalidado em 2024; bastava não perder e caía o segundo, que vinha de 2020/2021 e também de 2023/2024 +2024/2025.

O Santa Clara, porém, não estava para aí virado. Ganhou e ganhou bem e nenhum dos pretendidos recordes do Sporting caiu. E a eles juntou-se ainda a quebra de bela sequência de 53 jornadas do Sporting sempre a marcar na Liga. Tudo, meus caros, devido a grande exibição da equipa de Vasco Matos. Defendeu muito bem e atacou quanto e quando conseguiu. Conseguiu um golaço de Vinícius e ainda perdeu uma oportunidade soberaníssima por intermédio de Daniel Borges na construção da sua primeira vitória em Alvalade.

Já se escreveu que o Santa Clara ganhou e ganhou bem. E a exibição do Sporting, se não rondou o zero, andou muito perto. A primeira verdadeira oportunidade de golo apareceu apenas ao minuto 69, num belo cruzamento de Harder a que a cabeça de Gyokeres correspondeu com um desvio, quase milimetricamente, ao lado do poste esquerdo.

Os leões tiveram muito mais bola para jogar, sim, mas quase sempre não entendeu o que era preciso fazer para chegar com perigo junto da baliza dos açorianos. O centro da defesa, sobretudo Diomande e Matheus Reis, sentiu imensas dificuldades para deter os atacantes do Santa Clara, sempre que estes ultrapassavam a linha de meio-campo.

Depois, numa equipa recheadíssima de talento (Quenda, Catamo, Trincão, Edwards, Gyokeres, mais tarde Maxi Araújo e Harder) foram escassos os momentos em que a baliza de Gabriel Batista esteve em perigo. Remates perigosos enquadrados…. zerinho, o que diz bem da qualidade exibicional dos açorianos.

João Pereira trocou cinco jogadores relativamente ao onze que perdeu com o Arsenal (Israel por Kovacevic, St. Juste por Debast, Gonçalo Inácio por Matheus Reis, Morita por Daniel Bragança e Maxi Araújo por Catamo), mas nada correu bem. Falhas defensivas e quase nulas falhas atacantes, porque apenas houve duas oportunidades de golo para os leões. Depois, a acrescentar a tudo isto, o Sporting teve a capacidade mental para, como fizera em Braga, por exemplo, na anterior jornada da Liga, galvanizar-se a si e aos adeptos. Hjulmand foi uma sombra de si próprio, tal como quase todos os restantes jogadores leoninos, excluindo talvez Catamo. Quenda, outro exemplo, foi quase zero. Nem rasgo, nem talento.

O mais fácil agora é apontar o dedo à saída de Ruben Amorim e à entrada de João Pereira. É prematuro fazer essa análise e essa comparação, mesmo com duas derrotas seguidas. A verdade, porém, é que este Sporting foi uma sombra daquilo que já fez esta época e daquilo que fez na época passada. Foi um Sporting igual à primeira parte do jogo de Braga. Quando o treinador era Ruben Amorim.