“Campeones, campeones, campeones”. Após o apito final em Vaduz, a seleção de San Marino dedicou-se a um efusivo festejo, como se a vitória (3-1) que acabara de conseguir, no Liechtenstein, equivalesse à conquista do Mundial.
E, para aquele grupo de jogadores, equivale. Há semanas, San Marino era a pior seleção do mundo, a última equipa do ranking FIFA, um conjunto sem vitórias há 20 anos, 140 encontros seguidos sem ganhar.
Agora, San Marino continua a ser a pior seleção do mundo. Pelo menos é isso que a hierarquia da FIFA dita, colocando o pequeno enclave rodeado por províncias italianas no 210.º lugar da sua lista. Mas, agora, San Marino já não vive duas décadas sem triunfos. Na verdade, atravessa a melhor fase desde que começou a competir, em 1988.
Em setembro, a equipa de de Roberto Cevoli superou o Liechtenstein por 1-0, acabando com a maior seca do futebol mundial e logrando o primeiro triunfo em duelos oficiais. Agora, a história adquiriu dimensões épicas: após um empate a um contra Gibraltar, foi a Vaduz vencer por 3-1. Os três pontos valeram o primeiro lugar do grupo 1 da Liga D, as catacumbas da Liga das Nações, o escalão mais baixo do jogo de seleções na Europa.
Significa isto que San Marino, a pior seleção do mundo, subiu à Liga C, o terceiro dos quatro degraus da Liga das Nações, onde competirá na próxima edição do torneio.
No Liechtenstein, San Marino bateu, de uma assentada, uma série de recordes, tocou em vários pedaços de inédito numa só noite. Pela primeira vez, venceu um encontro por mais do que um golo de diferença; pela primeira vez, marcou três golos num encontro e, também pela primeira vez, ganhou um jogo fora de casa.
Ao intervalo, os visitantes perdiam por 1-0. Na segunda parte, os golos de Lorenzo Lazzari, Nicola Nanni e Alessandro Golinucci deram a volta ao marcador, na primeira vez na história que San Marino começou a perder um desafio e terminou vencendo-o.
Foi apenas a terceira vez que San Marino ganhou uma partida. Por comparação, Liechtenstein, o pequeno Liechtenstein, já venceu 17 jogos, o que mostra que, mesmo no campeonato dos pequenos, San Marino é incrivelmente pequeno.
“A equipa foi brilhante, mereceu o que atingiu”, disse um emocionado Cevoli, o técnico italiano do pequeno Estado de 60 quilómetros quadrados e 33 mil habitantes. San Marino terminou com 7 pontos, mais um que Gibraltar e mais 5 que o Liechtenstein. Nas celebrações, houve muitas lágrimas, incluindo as de Marco Tura, presidente da federação de futebol.
Um dos mais destacados novos heróis nacionais é Nicola Nanni, atacante de 24 anos que atua no Torres, da Serie C italiana. Nanni leva já três golos por San Marino, o que o deixa a cinco golos do melhor marcador da história da equipa, Andy Selva, que marcou oito vezes.
Sublinhe-se que San Marino só marcou 38 golos nestes 36 anos de existência. Com 7 golos, 2024 é, de longe, o ano em que a sereníssima foi mais produtiva, já que nunca festejara mais do que três vezes numa volta ao sol. Houve mesmo 12 anos em que não marcou qualquer golo, tendo estado quase quatro anos seguidos — entre outubro de 2008 e agosto de 2012 — sem colocar nenhuma bola no fundo das redes adversárias.
Recentemente, a federação de San Marino marcou vários amigáveis com o objetivo de repetir a vitória de 2004, até há pouco o único triunfo da equipa. Em 2022, houve um particular contra as Seicheles, que se saldou com um empate, bem como dois duelos frente a Santa Lúcia, com uma igualdade e uma derrota. Já em 2024, houve um duplo compromisso frente a São Cristóvão e Neves, com um empate e uma derrota.
Foi mesmo em jogos oficiais que chegaram os resultados dourados para San Marino. Duas vitórias em dois meses para quem andou 20 anos sem ganhar. Duas vitórias oficiais em quatro encontros para quem jamais ganhara um duelo oficial.
O ranking FIFA continua a ter San Marino na sua cauda, atrás de Anguila, das Ilhas Virgens Americanas, das Ilhas Virgens Britânicas e das Ilhas Turcas e Caicos. Mas, por estes dias, San Marino sente-se campeão do mundo.