
Após bater o FC Porto nos penáltis e conquistar a Liga dos Campeões, Rui Neto, treinador do OC Barcelos, não escondeu o orgulho no percurso que tem traçado como treinador e deu conta do que disse aos jogadores antes da final.
"Um dos grandes responsáveis por manter sempre vivo esta chama foi o Pol Manrubia, desde que chegou. Quando eliminámos o Sporting, ele disse que íamos ganhar a Liga dos Campeões. Tínhamos essa palavras sempre presentes na mente e depois de eliminarmos ontem o Noia, isso seria possível hoje. Tenho de dar os parabéns ao adversário, porque fizeram um grande jogo e isto podia ter caído para qualquer lado. O FC Porto começou melhor na 1.ª parte, demorámos algum tempo a encaixar, criaram ocasiões e fomos equilibrando com o decorrer do tempo. Na 2ª parte já fomos mais iguais a nós próprios e podíamos ter resolvido o jogo mais cedo. Não sei se seria mais justo ou não. Nos penáltis, tinha a certeza que o guarda-redes ia defender muitos penáltis."
O que sente o treinador neste momento? Um orgulho em mim próprio, um reconhecimento do meu trabalho. Afinal tenho capacidade para alguma coisa. Andaram-me a fugir títulos durante algum tempo. Quando ganhei a Supertaça disse que já não era o treinador do quase, entretanto já sou campeão europeu de clubes. Não sei se conseguirei ser campeão nacional, mas estou muito orgulhoso do trabalho que faço e que os meus atletas desenvolvem.
Disse que voltou um treinador diferente? O tempo em que estive parado e voltei ao OC Barcelos, voltei diferente não em termos de trabalho, mas na forma de lidar com algumas coisas. Não era uma questão de ser melhor treinador de pista, mas sim na forma de lidar com situações que faziam a diferença nestes pormenores de ganhar ou não. Como por exemplo? Ser intransigente em algumas coisas que eu acho que são importantes no concretizar de objetivos. O grupo tem de estar sempre acima de resultados ou individualidades. Às vezes, permite-se algumas situações e depois percebe-se que tem alguma consequência sobre um grupo. Um dos grandes vectores desta conquista da Liga dos Campeões é o grupo que eu tenho. É um verdadeiro grupo. São dez jogadores, mais o meu staff, somos uma família para os bons momentos e para quando é preciso marcar presença. Caso contrário era impossível chegar a este nível.
Conquista após 34 anos: Obviamente que as pessoas gostam do ficar na história do clube, mas a mensagem que eu passei aos jogadores é que eles devem é querer fazer história para eles próprios. Ficar na história do clube é uma consequência de conquistar algo. Ontem já estávamos na história por chegarmos a uma final após 23 anos e agora porque vencemos. Mas isso fica para nós, porque nós conseguimos vencer.
Mais fome de vencer após o intervalo: Tive de apertar um pouco ao intervalo. Não estavam a desfrutar do jogo, o FC Porto foi superior na 1ª parte, a equipa estava algo amarrada, algo tensa e estava sem alma, que foi o que lhes disse ao intervalo. A equipa apareceu diferente na 2.ª parte.
Voltou também com mais fome de vencer: Não. A fome é a mesma. Em termos de trabalho táctico temos de nos adaptar de ano para ano, porque isto está em constante evolução. Disse-vos ontem que preparei a semana toda para o Noia, com movimentações ofensivas para os surpreender. No jogo com o FC Porto não preparei nada. Fiz um vídeo de três ou quatro minutos a alertar para algumas situações do Carlo di Benedetto e do Gonçalo Alves, mas este era já o sétimo jogo com o FC Porto este ano. Já estamos fartos de nos conhecer. O que faz a diferença para o treinador às vezes é a bola bater no poste ou não bater. No tempo em que jogava hóquei, a importância do treinador era 80% trabalho de pista, agora é 20%. O resto é saber conduzir homens, observação e tomar decisões.
Falou em ser um treinador do quase. Depois de uma vitória desta, lembrámo-nos daquela derrota a seis segundos frente a Espanha enquanto selecionador. Esta felicidade é mais intensa que a dor naquele momento? "É exatamente a mesma intensidade. Naquela altura, seria o meu primeiro grande título e Portugal não ganhava há 14 anos. Perder um Europeu a seis segundos do fim não matou, mas esteve em convalescença algum tempo. Foi muito complicado.
Direto para as aulas amanhã: "Coitados dos meus alunos amanhã. Até marquei testes para o dia todo para não me chatear. Até durmo para eles poderem copiar à vontade. Já sabia disso. Até tive jogadores, como o Miguel Rocha, que disseram que queriam ir comigo à escola, mas não os posso deixar ir. Ainda não posso faltar à escola, porque é o meu trabalho."
Meter o 102: "Tenho de estar muito doente para fazer isso. Gosto muito dos meus alunos e amanhã vou dar testes, porque gosto de os ver sofrer. [risos]"
Confiança em Conti Acevedo: "Os meus jogadores, seis deles, os que marcaram hoje, mais o Poka, que está lesionado, fazem um concurso de penáltis e livres diretas todos os dias, com uma tabela em que apontam para depois no final do mês o último pagar um lanche. Às vezes não se marca nenhum penálti. Hoje marcámos dois. Aquele que estaríamos à espera que fosse decisivo, o Miguel Rocha, falhou. Eu disse ao meu adjunto que o herói ia ser o Pedro Silva, tal como na Supertaça, e foi o primeiro a marcar. São convicções que surgem. Mas o Conti tem trabalhado muito a forma de defender penáltis e é muito difícil batê-lo, posiciona-se muito bem."