Investidores ligados a Vini Júnior são os novos donos da SAD ribatejana
Ricardo Vicintin anunciou esta segunda-feira a venda da sua participação na SAD do Alverca, que vai passar para as mãos de um grupo de investidores espanhóis e brasileiros, onde se inclui Vinícius Jr., jogador do Real Madrid.
"A FC Alverca – Futebol, SAD vem por este meio anunciar que o Eng. Ricardo Vicintin vendeu a sua participação qualificada na sociedade anónima a um grupo de investidores espanhóis e brasileiros", pode ler-se.
Como Record já revelou, a pedido dos novos donos, o CEO Matheus Ornelas fica a gerir a SAD até o final da temporada. Mas nas próximas semanas serão apresentados os novos proprietários.
Revelações
Em comunicado, Ricardo Vicintin despediu-se de forma emocionada e com algumas revelações pelo meio:
"Que jornada foi esta! Como todos sabem, são muito raras as minhas intervenções. E esta será a minha última enquanto acionista maioritário da FC Alverca – Futebol, SAD. Permitam-me começar precisamente pelo início, quando ainda nem sabia que iria comprar esta SAD. Era uma altura em que cheguei, por exemplo, a visitar o Estoril. Pensei: talvez seja este o clube ideal. Chegou-nos depois a possibilidade da SAD do FC Alverca. Só que a situação era muito delicada. Resumindo, as coisas estavam de forma que no FC Alverca estavam com medo de vender. E nós com medo de comprar. Felizmente, tudo encaixou e finalizámos o negócio. No entanto, como houve um processo anterior de falência, estivemos um ano até constituir a atual SAD e conseguirmos, de facto, colocar o projeto em andamento.
Mais: quando pegámos na gestão, era possível inscrever oito atletas não formados localmente e, na verdade, entre os locais ninguém queria assinar com a nossa SAD, porque tinham medo deste novo investidor que acabara de entrar. Um tipo que ninguém conhecia e que ninguém sabia se era sério, ou não. Não bastasse, pouco depois esses oito não formados localmente passaram a seis, dificultando ainda mais a nossa tarefa. Fomos, porém, conseguindo avançar sempre e ir dando corpo ao nosso projeto.
Nesta altura, já eu estava apaixonado por Alverca. Já era frequentador assíduo de quatro restaurantes que faço questão de mencionar – o Morgado Taberna, o Cantinho da Adanaia, Os Magníficos e o Fuzo (Arruda) -, bem como da pastelaria Moinho de Água, onde tantas vezes passei bons momentos nas minhas tardes. Conto isto pois estes momentos, estes locais, estas experiências e estas pessoas fizeram, fazem e sempre farão parte desta caminhada para quem a viveu como eu, sempre ligado às pessoas da terra. Para mim, e creio que todos os que me conhecem podem atestá-lo, nunca fez sentido olhar para este projeto sem esta conexão humana. Entre tantos outros sabores, permitam-me também dizer que jamais vou esquecer um bom cabrito estonado da Sertã. A relevância é tamanha que vos deixo outro detalhe: este prato faz parte da ceia de Natal da família e entra também no almoço de Páscoa, juntamente com o cabrito de Véneto.
Poucos o sabem, mas Véneto é a terra dos meus bisavós e esta receita foi passada de geração em geração na família Vicintin. Estes são pequenos lampejos que ajudam a pintar uma bonita história sempre banhada a futebol. Aí, pegámos numa equipa modesta e fizemos um projeto ambicioso. Pelo meio, tempestades violentas. Primeiro, tivemos de sobreviver ao rebentar da pandemia de Covid-19; e, já em 2021, fomos forçados a aprender a viver sem o nosso querido Alex Apolinário.
O seu desaparecimento marcou-me profundamente. A tudo isto e a muitas outras dificuldades fomos resistindo e já tínhamos até mostrado uma luz com a sobejamente conhecida vitória (2-0) sobre o Sporting na Taça de Portugal, em 2019. Tentámos subir à 2ª Liga por mais do que uma vez e, depois de termos andado perto, conseguimos finalmente em 2024! Muitos anos depois, este emblema está de volta aos campeonatos profissionais! No caminho, tivemos inúmeras ‘estórias’ mas aproveito para deixar-vos esta, que na verdade até considero decisiva. A dada altura, houve uma espécie de movimento de rebelião no balneário. E nós lidámos com ele dando confiança ao treinador.
Afastámos alguns elementos e outros juntaram-se ao grupo, formando ali uma amálgama de perfis a remar para o mesmo lado. Foi a partir daí que todos se uniram ainda mais e arrancámos imparáveis para a subida. Mas não foi só subir. Fomos campeões! E isso é para poucos! É para os que deixam o seu lugar na história. Conseguimos! Estamos agora na 2ª Liga bem posicionados até numa possível luta pela subida. E é aqui que, meus caros, vos deixo.
Entrámos num clube que pouco ou nada tinha e saímos nesta paragem, deixando um emblema respeitado, uma SAD com condições ímpares em Portugal – desde a saúde financeira, à localização, passando obviamente pela estrutura que é hoje profissionalizada a todos os níveis – e imenso valor acrescentado. Tive, juntamente com a minha família, o cuidado de escolher muito bem a quem deixar este meu bem. Antes deste comprador, muitos outros tentaram. E já depois de serem tornadas públicas as negociações, outros tantos procuraram ainda tentar a sua sorte. Mas passamos o testemunho a pessoas que, estamos convictos, irão fazer tão bem ou melhor do que nós. Não tenho memória de alguma vez ter vendido um bem de valor. Esta SAD é, pois, a minha estreia nesse capítulo.
E só por aí já podem imaginar que este é um cenário que impacta emocionalmente comigo. Mas o caminho tem de terminar aqui. Pois eu sei que a FC Alverca – Futebol SAD um dia – e, sendo este grupo formidável, por que não já este ano? – vai subir novamente de divisão. E vai voltar a estar nesse escalão mais alto, onde todos querem estar, a 1ª Liga. Só que aí, como poderia um pai defrontar um filho? Nem falo de questões regulamentares. Falo do coração. Jamais conseguiria lidar com o facto de ter de enfrentar a equipa, o projeto, que o meu filho tanto ama. O papel de um pai é deixar os filhos crescerem. E eu não sou diferente. E também porque acima de tudo, somos uma família unida, com valores muito fortes.
Não tenham a menor dúvida de que saio orgulhoso pelo que deixo em Alverca e pelo nosso papel no próprio Clube, na SAD e na cidade. Saio feliz por conseguir olhar para trás e recordar tantas alegrias; saio confiante de que a SAD ficará em boas mãos; saio convicto de que estará em breve na 1ª Liga. Foram estas as bases que deixei e é nisto que acredito A todos os que comigo se cruzaram nesta aventura só posso deixar o meu sentido obrigado."
"A FC Alverca – Futebol, SAD vem por este meio anunciar que o Eng. Ricardo Vicintin vendeu a sua participação qualificada na sociedade anónima a um grupo de investidores espanhóis e brasileiros", pode ler-se.
Como Record já revelou, a pedido dos novos donos, o CEO Matheus Ornelas fica a gerir a SAD até o final da temporada. Mas nas próximas semanas serão apresentados os novos proprietários.
Revelações
Em comunicado, Ricardo Vicintin despediu-se de forma emocionada e com algumas revelações pelo meio:
"Que jornada foi esta! Como todos sabem, são muito raras as minhas intervenções. E esta será a minha última enquanto acionista maioritário da FC Alverca – Futebol, SAD. Permitam-me começar precisamente pelo início, quando ainda nem sabia que iria comprar esta SAD. Era uma altura em que cheguei, por exemplo, a visitar o Estoril. Pensei: talvez seja este o clube ideal. Chegou-nos depois a possibilidade da SAD do FC Alverca. Só que a situação era muito delicada. Resumindo, as coisas estavam de forma que no FC Alverca estavam com medo de vender. E nós com medo de comprar. Felizmente, tudo encaixou e finalizámos o negócio. No entanto, como houve um processo anterior de falência, estivemos um ano até constituir a atual SAD e conseguirmos, de facto, colocar o projeto em andamento.
Mais: quando pegámos na gestão, era possível inscrever oito atletas não formados localmente e, na verdade, entre os locais ninguém queria assinar com a nossa SAD, porque tinham medo deste novo investidor que acabara de entrar. Um tipo que ninguém conhecia e que ninguém sabia se era sério, ou não. Não bastasse, pouco depois esses oito não formados localmente passaram a seis, dificultando ainda mais a nossa tarefa. Fomos, porém, conseguindo avançar sempre e ir dando corpo ao nosso projeto.
Nesta altura, já eu estava apaixonado por Alverca. Já era frequentador assíduo de quatro restaurantes que faço questão de mencionar – o Morgado Taberna, o Cantinho da Adanaia, Os Magníficos e o Fuzo (Arruda) -, bem como da pastelaria Moinho de Água, onde tantas vezes passei bons momentos nas minhas tardes. Conto isto pois estes momentos, estes locais, estas experiências e estas pessoas fizeram, fazem e sempre farão parte desta caminhada para quem a viveu como eu, sempre ligado às pessoas da terra. Para mim, e creio que todos os que me conhecem podem atestá-lo, nunca fez sentido olhar para este projeto sem esta conexão humana. Entre tantos outros sabores, permitam-me também dizer que jamais vou esquecer um bom cabrito estonado da Sertã. A relevância é tamanha que vos deixo outro detalhe: este prato faz parte da ceia de Natal da família e entra também no almoço de Páscoa, juntamente com o cabrito de Véneto.
Poucos o sabem, mas Véneto é a terra dos meus bisavós e esta receita foi passada de geração em geração na família Vicintin. Estes são pequenos lampejos que ajudam a pintar uma bonita história sempre banhada a futebol. Aí, pegámos numa equipa modesta e fizemos um projeto ambicioso. Pelo meio, tempestades violentas. Primeiro, tivemos de sobreviver ao rebentar da pandemia de Covid-19; e, já em 2021, fomos forçados a aprender a viver sem o nosso querido Alex Apolinário.
O seu desaparecimento marcou-me profundamente. A tudo isto e a muitas outras dificuldades fomos resistindo e já tínhamos até mostrado uma luz com a sobejamente conhecida vitória (2-0) sobre o Sporting na Taça de Portugal, em 2019. Tentámos subir à 2ª Liga por mais do que uma vez e, depois de termos andado perto, conseguimos finalmente em 2024! Muitos anos depois, este emblema está de volta aos campeonatos profissionais! No caminho, tivemos inúmeras ‘estórias’ mas aproveito para deixar-vos esta, que na verdade até considero decisiva. A dada altura, houve uma espécie de movimento de rebelião no balneário. E nós lidámos com ele dando confiança ao treinador.
Afastámos alguns elementos e outros juntaram-se ao grupo, formando ali uma amálgama de perfis a remar para o mesmo lado. Foi a partir daí que todos se uniram ainda mais e arrancámos imparáveis para a subida. Mas não foi só subir. Fomos campeões! E isso é para poucos! É para os que deixam o seu lugar na história. Conseguimos! Estamos agora na 2ª Liga bem posicionados até numa possível luta pela subida. E é aqui que, meus caros, vos deixo.
Entrámos num clube que pouco ou nada tinha e saímos nesta paragem, deixando um emblema respeitado, uma SAD com condições ímpares em Portugal – desde a saúde financeira, à localização, passando obviamente pela estrutura que é hoje profissionalizada a todos os níveis – e imenso valor acrescentado. Tive, juntamente com a minha família, o cuidado de escolher muito bem a quem deixar este meu bem. Antes deste comprador, muitos outros tentaram. E já depois de serem tornadas públicas as negociações, outros tantos procuraram ainda tentar a sua sorte. Mas passamos o testemunho a pessoas que, estamos convictos, irão fazer tão bem ou melhor do que nós. Não tenho memória de alguma vez ter vendido um bem de valor. Esta SAD é, pois, a minha estreia nesse capítulo.
E só por aí já podem imaginar que este é um cenário que impacta emocionalmente comigo. Mas o caminho tem de terminar aqui. Pois eu sei que a FC Alverca – Futebol SAD um dia – e, sendo este grupo formidável, por que não já este ano? – vai subir novamente de divisão. E vai voltar a estar nesse escalão mais alto, onde todos querem estar, a 1ª Liga. Só que aí, como poderia um pai defrontar um filho? Nem falo de questões regulamentares. Falo do coração. Jamais conseguiria lidar com o facto de ter de enfrentar a equipa, o projeto, que o meu filho tanto ama. O papel de um pai é deixar os filhos crescerem. E eu não sou diferente. E também porque acima de tudo, somos uma família unida, com valores muito fortes.
Não tenham a menor dúvida de que saio orgulhoso pelo que deixo em Alverca e pelo nosso papel no próprio Clube, na SAD e na cidade. Saio feliz por conseguir olhar para trás e recordar tantas alegrias; saio confiante de que a SAD ficará em boas mãos; saio convicto de que estará em breve na 1ª Liga. Foram estas as bases que deixei e é nisto que acredito A todos os que comigo se cruzaram nesta aventura só posso deixar o meu sentido obrigado."