
A República Democrática do Congo (RDCongo) apelou a clubes de futebol, Fórmula 1 e NBA para a extinção da cooperação com o ‘visit Ruanda’, acusando as campanhas publicitárias de serem pagas com recursos roubados ao seu país.
“O Ruanda mata congoleses para se apropriar dos seus minerais para promover as suas iniciativas desportivas, quando o desporto deveria estar ligado à ética e à moralidade”, denunciou um responsável do governo congolês, Alain Mekengo.
Os franceses do Paris Saint-Germain, os alemães do Bayern Munique e os ingleses do Arsenal são apoiados pelo ‘visit Ruanda’, que tem em curso iniciativas com a NBA e está em contactos para levar um Grande Prémio de Fórmula 1 ao país.
“Exortamos estas entidades a não apoiarem este país que utiliza minerais de sangue”, retirados do leste da RDCongo, reforçou Mekengo.
Num dos conflitos mais sangrentos do planeta, o exército da RDCongo tem enfrentado a ameaça do grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23), apoiado pelo vizinho Ruanda, e que em janeiro conquistou Goma, a segunda maior cidade do país, e posteriormente Bukavu, cidades junto ao Ruanda e muito ricas em recursos minerais, usados para os telemóveis e os veículos elétricos.
O M23 é formado principalmente por tutsis, a minoria que sofreu o genocídio ruandês em 1994 e agora no poder: já o estado do Ruanda acusa, por sua vez, o governo congolês de apoiar as Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR), grupo fundado em 2000 por cabecilhas do genocídio e outros ruandeses hutu no exílio desejos de recuperar o poder político.
A ONU confirma a ligação do M23 ao governo do Ruanda, a do FDLR ao estado da RDCongo, bem como o facto de parte dos minerais congoleses ser enviada ilegalmente para o país vizinho, embora as autoridades de Kigali neguem a sua implicação no conflito.
“O governo do Ruanda rejeita as recentes tentativas da República Democrática do Congo de minar as colaborações internacionais do Ruanda através da desinformação e da pressão política”, acusou o Conselho de Desenvolvimento do Ruanda, num comunicado, considerando que as parcerias servem para “promover o talento, o turismo, as infraestruturas desportivas e o emprego” no país.
No início de fevereiro, a RDCongo, através da ministra dos negócios estrangeiros, Thérèse Kayinkwanba, enviou uma carta aos três colossos europeus pedindo-lhes a cessação de cooperação com o ‘visit Ruanda’, ficando, até ao momento, sem resposta.
Na semana passada seguiu missiva idêntica para a organização da Fórmula 1, já que o Ruanda manifestou interesse em receber uma prova do circuito, que esteve pela última vez em África em 1993, na África do Sul, já com várias tentativas de regresso goradas.
“Avaliamos cuidadosamente qualquer possível pedido e qualquer decisão futura será baseada em informações completas e no que é melhor para o nosso desporto e para os nossos valores”, sustentou a organização.
Posteriormente, foi contactada a NBA, que recebe um apoio para realizar uma grande competição africana, precisamente no Ruanda.
“Onde quer que opere, a NBA continuará a seguir as diretrizes do governo dos Estados Unidos”, reagiu um porta-voz.
Desde 1998, o leste da RDC enfrenta um conflito entre milícias armadas apesar da presença da Monusco (Missão de Manutenção da Paz da ONU no país).
A segunda guerra do Congo, entre 1998 e 2003, bem como os conflitos subsequentes, terá ditado a morte, direta e indireta, devido às péssimas condições humanitárias, de cerca de cinco milhões de pessoas, bem como um elevadíssimo número refugiados.