Do lado portista, Vítor Bruno (41 anos) encontra-se na primeira experiência enquanto técnico principal. A escolha, apesar de algo surpreendente, foi aceite com alguma normalidade pela experiência que acarretou como adjunto - 15 anos no total, sendo que 13 foram ao lado de Sérgio Conceição.
Do lado do Anderlecht, por sua vez, surge um nome (ainda) mais surpreendente no comando técnico: David Hubert. Com apenas 36 anos, o ex-jogador - terminou a carreira apenas há duas temporadas - vive a segunda experiência como treinador, depois de orientar o Anderlecht B (adjunto) e a equipa sub-18 (principal).
Pela responsabilidade do cargo - Anderlecht, refira-se, é o clube mais titulado na Bélgica - e pela inexperiência, a curiosidade é inevitável: afinal, quem é David Hubert?
Em busca de conhecer melhor o atual treinador do adversário do FC Porto, o zerozero conversou com Franky Vercauteren - lenda do Anderlecht e o treinador que mais vezes orientou o belga - e ainda com João Carlos, ex-Genk e o 11º jogador que mais vezes [58 no total] partilhou o balneário com David.
«É um líder nato»
Como jogador, o ex-médio foi internacional pela seleção belga (duas ocasiões), totalizou 359 jogos na carreira e conquistou dois títulos: uma Liga Belga, em 2011 e uma Supertaça no mesmo período, ao serviço do Genk, clube ao qual esteve ligado durante sete épocas.
Como treinador... o currículo é bem mais curto. Aliás, praticamente inexistente. Ainda assim, Vercauteren e João Carlos assumem não estar «surpreendidos» com a ascensão de Hubert, ainda que, o ex-treinador do Anderlecht revelou «não esperar» que liderasse um cargo de tanta responsabilidade.
«Esperava que se tornasse treinador ainda jovem, mas confesso que me surpreende muito ser treinador de uma equipa da dimensão do Anderlecht», começou por dizer Vercauteren que, atualmente, é diretor técnico na Federação Belga.
«Mesmo quando ele era meu jogador, dava para sentir/ver que ia ser treinador. É completamente apaixonado pelo futebol e foi feito para ser treinador. Tem imensas qualidades para a profissão. É uma pessoa muito transparente, frontal, muito fiável e, enquanto jogador, foi sempre altruísta e jogador de equipa. Claro que ele tinha a sua personalidade/ego, mas era - acima de tudo - um jogador que gostava de 'andar pela sombra', sem grandes holofotes em cima», completou.
João Carlos, por outro lado, corroborou opinião de Vercauteren, deixando muitos elogios a Hubert, tendo acrescentado ainda - bem humorado, diga-se - que o ex-médio «aprendeu com ele».
«Não me surpreende nada ele ser treinador aos 36 anos. O que me surpreendeu é ele estar no Anderlecht mesmo. Ele esteve muitos anos ligado ao Genk... E pensei que ele pudesse vir a fazer parte da direção desportiva, mas não no Anderlecht», referiu o brasileiro ao nosso portal.
«Era muito inteligente, tanto dentro como fora de campo. Um líder nato e muito comunicativo. Ele só não era mais líder porque eu não deixava [risos], era eu o capitão! Ainda tenho de lhe mandar os parabéns pelo cargo onde está, mas sinto que ele é que me vai agradecer... por todas as lições que lhe dei quando era eu o líder [risos]», apontou o brasileiro.
«Era a extensão do treinador dentro de campo»
«Comunicativo», «líder», «trabalhador» e uma «pessoa fantástica». Tanto o ex-técnico (Franky Vercauteren) como o ex-companheiro (João Carlos) não pouparam elogios a David Hubert.
João ressaltou que David é um «profissional de 'mão firme'», uma pessoa «emotiva/reativa», mas muito «querida».
«É uma pessoa fantástica, muito querida e que toda a gente gostava de ter por perto. Foi sempre um profissional de 'mão firme'. Não tinha receio de falar, independentemente de quem fosse: até para o CEO. Era muito apaixonado por futebol, muito focado e, em tudo o que fazia, dedicava-se a 300 por cento. Era um jogador emotivo, reativo, principalmente quando errava, fazia parte da sua forma de estar.»
David Hubert Europa League 2024/2025 |
4 Jogos
3 Vitórias
1 Empates
0 Derrotas
7 Golos
3 Golos sofridos
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Vercauteren, por sua vez, recordou um jogador que era a «extensão do treinador dentro de campo», sublinhando ainda a sua importância dentro de campo no momento de ter de «transmitir uma mensagem» ao grupo.
«Como jogador ele sempre foi muito comunicativo, mas sempre de forma positiva. Ele muitas vezes era a extensão do treinador dentro de campo: se queria passar uma mensagem, ou dizer algo à equipa, ele estava sempre disponível para transmitir essa mensagem. Sempre foi um líder muito discreto e trabalhador. Era um atleta que gostava de estabelecer a ligação entre o treinador e equipa.»
Sobre a possibilidade de David «retirar» alguma ideia sua [modelo de jogo/estratégia], o diretor da Federação afirmou que o técnico do Anderlecht tem «os seus princípios» e a «sua forma de ver o jogo», mas patenteou: «Espero que ele tenha aprendido alguma coisa de mim [risos], claro, mas tenho a certeza que ele aprendeu vários aspetos de todos os treinadores que teve.»
No final da conversa, Franky lembrou ainda uma história curiosa: o momento em que a Federação belga equacionou Hubert para orientar uma seleção jovem belga [n.d.r: o diretor não revelou qual].
«Nós [na Federação] já discutimos a possibilidade de levar o David para uma seleção jovem. A verdade é que ele estava mesmo no nosso radar, porque temos a expectativa/esperança que seja um bom treinador. Infelizmente para a Federação ele assinou com o Anderlecht ainda esta temporada para assumir os juniores do clube. Depois, claro, surgiu a oportunidade da equipa principal e, para ser sincero, como já referi, foi um 'salto' algo surpreendente na carreira, porque ele é muito jovem e não tem muita experiência», rematou.