“Devido a divergências irreconciliáveis com o Sport Lisboa e Benfica, que inviabilizam a minha continuidade, decidi deixar de ser atleta do clube, conforme comuniquei hoje mesmo à entidade.” O anúncio veio do nada esta segunda-feira, revelado através de um comunicado de Pedro Pablo Pichardo, campeão olímpico do triplo salto em Tóquio e contratado pelo clube em 2017.

A Tribuna Expresso apurou que Pichardo estava sob alçada disciplinar do clube há alguns dias devido a episódios recentes de incumprimento do estipulado no seu contrato. Mais tarde, o Benfica, em comunicado, confirmou que notificou, a 3 de janeiro o atleta “de um processo disciplinar com vista ao seu despedimento”.

Em causa, lê-se nas explicações do clube, “está a falta de comparência de Pedro Pablo Pichardo a exames médicos para os quais estava convocado depois dos Jogos Olímpicos”, além do “facto de ter recusado a inscrição na plataforma de atletas, apesar de ter sido por diversas vezes solicitado para tal”. O Benfica acrescentou que tal “tem impedido, entre outras consequências, a sua participação em provas ao serviço do Benfica”.

A rutura consumou-se agora, mas os sinais de que o único fio que mantinha Pedro Pichardo e o Benfica ligados podia desaparecer foram surgindo ao longo do tempo. Após conquistar a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Paris, no último verão, o atleta queixou-se da falta de apoios, discurso comum entre os atletas da comitiva portuguesa nestas circunstâncias. Porém, neste caso, nem o clube foi poupado a críticas.

“Estou um pouco desmotivado. Tenho muitos problemas com o clube, falta de apoio das instituições, do governo... Estava a pensar retirar-me depois de hoje [dia da final do triplo salto em Paris 2024]. A minha família tem-me dito para continuar, mas não sei. O que está na minha cabeça é ficar por aqui já”, dizia Pichardo, em agosto.

Quanto à carreira do luso-cubano, não há novidades: saltou 17,98 metros em Tóquio para ser medalha de ouro no triplo salto e os 17,84 em Paris valeram-lhe a prata; em 2022, sagrou-se campeão mundial (17,95m) e foi três vezes campeão europeu (duas em pista coberta). Certo é que, por muito que o contrato mantivesse Pichardo vinculado ao Benfica até Los Angeles 2028, cada um seguiu o seu caminho.

Anteriormente, numa entrevista ao jornal Record, Pichardo garantiu que, desde 2019, o Benfica só lhe pagava o salário sem apoios de outro teor. “O assunto está a ser levado às instâncias competentes, pelo que a partir deste dia não irei mais pronunciar-me sobre este tema, focando-me única e exclusivamente na vertente desportiva", afirmou agora.

Na mesma conversa com o diário desportivo, o saltador de 31 anos queixava-se ainda de que o clube da Luz se atrasou no pagamento de prémios relativos a vitórias em provas.

Outro sintoma do deteriorar do caso foi dado por Ana Oliveira, coordenadora do atletismo e do projeto olímpico do Benfica, que em dezembro de 2023 escreveu no Diário de Notícias que “Pichardo é mau, injusto, ingrato e mentiroso”. “Por vezes acertamos no atleta mas erramos no homem”, referiu.