
Para esta temporada, depois de na anterior ter conseguido subir ao pódio nos Jogos de Paris-2024 e levar a medalha de bronze dos -78 kg, Patrícia Sampaio, de 25 anos, colocou como principais objetivos também estar entre as medalhadas no Europeu e no Mundial. O primeiro objetivo foi concretizado há pouco mais de uma semana, em Podgorica, ao varrer todas as adversárias por ippon para arrebatar o título depois de já ter sido 3.ª na edição de Montpellier-2023 e bicampeã júnior e campeã sub-23.
Agora, quando se prepara para, dentro de pouco mais de um mês, tentar ser medalhada num campeonato do mundo, algo que já conseguiu como júnior com três bronzes, na terça-feira a judoca olímpica do Gualdim Pais foi surpreendida com a notícia que se tornara n.º 1 do ranking mundial, o que lhe pode dar a oportunidade de combater em Budapeste como principal cabeça de série.
Sem estar à espera, Patrícia realizou assim um feito que não planeara e apenas foi concretizado em Portugal por Telma Monteiro (-52 kg e -57 kg) e Jorge Fonseca (-100 kg) em mais do que uma ocasião e que apenas vem confirmar a consistência de resultados que vem alcançado no Circuito Mundial.
— Depois da Federação Internacional de Judo ter atualizado os rankings mundiais das categorias na terça-feira, após nas últimas duas semanas terem decorridos os vários campeonatos continentais, como é ser a número 1 do mundo [nos -78 kg]?
— É assim… [risos], é um dia igual aos outros, na verdade. Fazer a mesma coisa de sempre… Mas foi muito bom. Foi uma surpresa.
— Mas após ter sido campeã da Europa e fazendo as contas de quantos pontos havia ganho e de quem iria perder por não competir ou falta de resultados, não estava à espera? Foi mesmo inesperado?
— Não, não estava mesmo à espera. Acho que tinha feito mal as contas, pensei que ia ficar tudo mais ou menos igual [era 4.ª do ranking] e que não iria conseguir subir nenhum lugar. Na verdade, não sei fazer muito bem essas contas. Mas, entretanto, também houve todos os outros campeonatos continentais e mais um Grand Slam [Dushanbe, no Tajiquistão].
— Onde se encontrava e como soube que passara a ser a n.º 1 mundial?
— Estava em casa. A Maria [Siderot, colega da Seleção] é que me enviou a notícia por mensagem, com uma fotografia do ranking e a dizer: ‘olha aqui…’. Contou que tinha ido à procura de fotos minhas, para mandar para um estágio em que vou participar no verão. Tinha ido ver se arranjava as fotografias e, de repente, viu lá o meu número no ranking. Também ficou surpresa e enviou-me o print.
— Teve de ir confirmar para ver se era verdade?
— Sim, claro. Fui lá ver o que é que tinham alterado.
— Depois disso, na terça-feira, teve ainda oportunidade de voltar a treinar, não foi?
— Sim.
— E vai-se diferente para o treino quando se passou a ser a n.º 1 do ranking mundial? Sobretudo quando não se estava à espera?
— Não sei se teve alguma coisa a ver com isso, mas treinei muito bem.
— Com o que tem conseguido nos últimos nove meses — foi bronze nos Jogos de Paris, ouro no Grand Slam de Paris, bronze nos de Tóquio e Tbilisi, e campeã da Europa em Podgorica —, é reconhecido por todos que está no topo mundial. Acha que, passando a ser n.º 1 tornou-se num alvo ainda maior para as adversárias nas provas? Ou melhor: sempre que defrontou anteriores número 1 tinha mais vontade em derrotá-las?
— Pessoalmente, a minha vontade é sempre ganhar a qualquer uma. Seja ela quem for. O Marco [Morais, selecionador feminino que acompanha Patrícia, desde cadetes] até diz que mesmo nos estágios [internacionais], vá eu com a número 1 ou com a 100, luto sempre da mesma forma. A querer ganhar. E é verdade, sou assim tanto nos treinos como nas competições. Agora, como número 1, e já acontecia antes quando era a 4.ª ou a 10.º do ranking, sei que tenho sido muito estudada pelas adversárias.
Obviamente que isso acontecerá cada vez mais, mesmo que vá oscilando o n.º 1 o 2 ou o 5. Sei que serei constantemente estudada. Mas, tal como sou, também eu as estudo. E da mesma maneira que elas estão a estudar-me e a preparar-se para me ganhar e serem melhores do que eu, também estou a estudar e a preparar-me para ser ainda melhor do que sou. Estou constantemente a trabalhar para evoluir. Por isso, acho que ser n.º 1 só tem coisas positivas [risos].
— Antes da Patrícia, os únicos portugueses que haviam chegado a líderes do ranking haviam sido a Telma Monteiro (-52 kg, -57 kg) e o Jorge Fonseca (-100 kg), ambos em mais do que uma ocasião. O que é acha dessa particularidade?
— É muito bom. Gostava que fosse ainda mais gente e espero que, daqui para a frente, sejamos ainda mais. Mas não sou muito dessas comparações. Aliás, essa e muitas outras informações só sei quando me confrontam para perguntar o que é que sinto. Fora disso, na realidade, não penso muito no assunto. E muitas coisas nem sei nunca me interessei ou nunca me chegou a informação. Mas ser especial e destacar-me é sempre bom.
— Uma vez que, depois do Europeu, disse que não iria a mais nenhuma competição até ao Mundial, como é que tem estado a correr a preparação para Budapeste [13-19 de julho]? Só faltam cinco semanas.
— Está a correr bem. Também só vim do Europeu há uma semana, e a última foi mais tranquila. Resolvi coisas que tinha que resolver, mas treinei na mesma, obviamente. Deu para relaxar um bocadinho da dieta, os treinos também foram um bocadinho mais tranquilos e agora já começámos a fundo. Domingo já vou para a Itália, onde irei fazer uma semana de estágio, depois terei mais uma semana de preparação em Espanha e, provavelmente, ainda teremos estágios em Portugal, por isso a preparação já está a todo gás.